As instabilidades macroeconômicas e geopolíticas da primeira metade de 2022 fizeram com que o ouro voltasse a ganhar popularidade entre os investidores do varejo. Especialmente em busca de proteção do patrimônio contra a alta da inflação e a queda dos ativos de risco nos mercados globais.

Uma pesquisa realizada pela Paxos, uma rede blockchain que emite um token atrelado à cotação do ouro no mercado aberto, investigou a postura e as ideias de 1.000 investidores do varejo baseados nos EUA, no Reino Unido, em Singapura e na Alemanha que buscaram alguma forma de exposição ao ouro nos últimos dois anos, fosse através de ETFs (fundos de índice), ouro puro ou ouro tokenizado.

Diante das tensões geopolíticas e da fragilidade da economia global com a guerra na Ucrânia, as sanções impostas à Rússia e o declínio da produção na China, a demanda por ouro continuará a aumentar, indicam os resultados da pesquisa.

Surpreendentemente, no entanto, o Bitcoin (BTC) não foi totalmente descartado pelos investidores ouvidos pela pesquisa como uma modalidade alternativa de ativo de proteção e reserva de valor, apesar de o ouro vir tendo um desempenho bastante superior ao da maior criptomoeda do mercado até agora em 2022.

"Ouro digital"

Segundo 33% dos entrevistados, o Bitcoin pode ser considerado uma espécie de "ouro digital" por ter propriedades similares ao metal precioso. "Há um curinga na mesa também”, escreveu Anoushka Rayner, chefe de crescimento de commodities da Paxos, ao comentar os dados da pesquisa:

“A popularidade do Bitcoin está prestes a afetar este mercado, com 33% dos entrevistados dizendo que ‘o Bitcoin é o novo ouro’ e que planejam comprar mais da criptomoeda, em vez de ouro."

Naturalmente, a popularidade do Bitcoin é maior entre os jovens de 18 a 24 anos – 43% dos investidores nesta faixa etária admitiram trocar o ouro por BTC. Esse número cai para 19% quando considerados os investidores acima de 45 anos.

Os resultados da pesquisa não surpreenderam o estrategista sênior para commodities da Bloomberg, Mike McGlone. "Investidores espertos percebem que você precisa ter algum Bitcoin em seu portfólio, considerando o risco de manter um ativo analógico em um mundo que está se tornando cada vez mais digital", afirmou em uma reportagem do Blockworks.

Ao ser confrontado com a baixa de 70% do preço do BTC em relação à sua máxima histórica de US$ 69.000, McGlone argumentou que, visto em retrospectiva, o Bitcoin pode, sim, ser considerado um ativo de proteção contra a inflação:

"Desculpem-me, mas o Bitcoin é um dos ativos com melhor desempenho na história da humanidade. Quando o Fed tira liquidez do mercado, é natural esperar que ele caia."

McGlone se referia à política de aumento da taxa de juros atualmente em curso do Banco Central dos EUA. Na semana passada, o Fed anunciou a maior elevação dos juros desde 1994 – 0,75% – e deixou claro que novos aumentos devem ser esperados até o final do ano. Espera-se que a taxa de juros chegue a no mínimo 3% até o final deste ano.

Em uma postagem no Twitter na quinta-feira, 23, o estrategista pontua que o melhor ativo de proteção no atual cenário de crises macroeconômicas e geopolíticas tem sido o petróleo, mas o histórico dos mercados indica que o Bitcoin pode voltar a assumir esta posição já no segundo semestre deste ano.

As propensões do #óleocru e do #Bitcoin para correções acentuadas pode ser favorável à criptomoeda no segundo semestre. O petróleo pode ter ficado um pouco aquecido demais para um bear market duradouro. O Bitcoin atravessou um dos maiores bull markets da história e agora está com um grande desconto.

— Mike McGlone (@mikemcglone11)

Ouro tokenizado

No que diz respeito à exposição ao ouro, ETFs e barras de ouro lideram o ranking, cada uma delas com 29% da preferência dos investidores. O ouro tokenizado responde por apenas 20% do mercado, pois ainda tem baixa adesão entre os investidores mais velhos e reticentes à tecnologia blockchain na qual os ativos digitais são emitidos e postos em circulação.

Enquanto isso, aqui no Brasil a narrativa do Bitcoin como "ouro digital" foi questionada pelo presidente do conselho de administração e sócio do BTG Pactual, André Esteves. Em um evento promovido pelo banco, Esteves afirmou que o fim da era dos juros baixos invalidou a tese do Bitcoin como ouro digital.

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