Uma CBDC (moeda digital de banco central) que mantém a relevância das instituições bancárias, conferindo a elas a possibilidade de emitir suas próprias stablecoins lastreadas em depósitos bancários garantidos pelo Banco Central, conforme o BC brasileiro delineou como modelo para o Real Digital é a melhor alternativa para digitalização do dinheiro, afirmou Danelle Dixon, CEO da Stellar Development Foundation (SDF) em uma entrevista para o InfoMoney publicada na segunda-feira, 13.
Dixon afirmou ainda que uma eventual CBDC baseada no dólar deveria ser inspirada no modelo do Real Digital, embora tenha ressaltado que, atualmente, existam diversas "stablecoins fortes" atreladas à moeda norte-americana, e que talvez isso torne desnecessária a criação de um dólar digital emitido pelo Fed (Banco Central dos EUA).
A Stellar Development Foundation é a fundação responsável pela Stellar Network e pela criptomoeda Stellar (XLM). Recentemente, a SDF fechou uma parceria com a exchange de criptomoedas brasileira Mercado Bitcoin para desenvolver um dos nove projetos selecionados para o LIFT Challenge Real Digital, que prevê a construção de um MVP para casos de uso do Real Digital. O consórcio conta aina com o CPQD e a ClearSale.
Segundo Dixon, uma das principais vantagens do modelo criado pelo Banco Central para o Real Digital é que ele mantém a estrutura atual do sistema financeiro, no qual os bancos centrais emitem a moeda soberana do país, enquanto os bancos fazem o dinheiro chegar aos indivíduos, evitando um relacionamento direto da máxima autoridade financeira diretamente com os clientes:
"O órgão que emite a CBDC na camada governamental não precisa manter o relacionamento com os consumidores, assim os bancos podem ter esse relacionamento, usando seus ativos estáveis garantidos pela CBDC. Acho que é uma maneira inteligente de fazer. A não ser que você queira que o banco central tenha esse relacionamento com o consumidor."
Outra vantagem, é que o modelo projetado pelo BC brasileiro mantém a privacidade dos cidadãos, uma vez que o governo, em tese, não tem acesso direto a todas as movimentações financeiras da população.
Blockchain para CBDCs
A Stellar vem se tornando a rede blockchain preferencial para governos de diversas partes do mundo que planejam lançar sua CBDC utilizando a tecnologia blockchain, pois a infraestrutura da rede facilita a emissão de ativos digitais, além de atender aos padrões de compliance do sistema financeiro.
Dixon afirmou que a Stellar é a plataforma blockchain mais adequada para emissão de CBDCs porque permite que os ativos sejam emitidos tanto de forma permissionada – com necessidade de verificação de identidade – ou não-permissionada – em que qualquer usuário pode negociar o ativo em qualquer lugar, dependendo dos objetivos de clientes e usuários do sistema.
De um tempos para cá, essa qualidade tem feito com que alguns países tenham considerado a Stellar como uma alternativa para criação de suas CBDCs, evitando, assim, a necessidade de criar toda a infraestrutura para emissão e gestão de ativos digitais a partir do zero.
No entanto, Dixon não acha que necessariamente todos os países do mundo vão aderir às CBDCs:
"Acho que alguns países vão considerar as CBDCs uma ferramenta muito útil para eles. Acabamos de entrar no estágio em que as CBDCs oferecem o uso do ativo de um jeito simplificado. Você pode emiti-lo no país e ter a moeda alavancada no exterior, mas você sabe o que está acontecendo com ela porque a está acompanhando por meio de um registro imutável. Esse é o valor da blockchain. Eu acho que muitos países vão olhar para isso porque vão considerar muito valioso se eles querem digitalizar o dinheiro totalmente. Alguns países vão considerar isso inevitável e vão buscar ter [uma CBDC] como uma camada de infraestrutura. Mas provavelmente não todos os países."
Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, as stablecoins privadas emitidas por instituições bancárias não precisarão ser 100% lastreadas em depósitos no Real Digital na proporção de 1:1.
Após captar recursos de clientes, os bancos poderão emitir suas próprias stablecoins, deduzindo o depósito compulsório. Essas stablecoins entrarão em circulação e eventualmente se tornarão novos depósitos, que por sua vez permitirão a emissão de novas stablecoins, replicando o ciclo de criação do real convencional através de um recurso conhecido como multiplicador bancário.
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