O atual ciclo de alta das criptomoedas não será lembrado pela primeira vez em que o Bitcoin rompeu a marca histórica de US$ 100.000 ou mesmo pela eleição do primeiro presidente dos EUA declaradamente pró-cripto, mas sim por uma nova fase na adoção e na aceitação institucional dos ativos digitais.
Nas últimas semanas, quatro acontecimentos demonstraram que o Bitcoin (BTC) e as criptomoedas estão cada vez mais integrados aos mercados financeiros tradicionais – não apenas oferecendo alternativas reais de diversificação de portfólio, mas também remodelando os mercados financeiros tradicionais.
Na mais recente edição do boletim mensal Notas do CIO, Samir Kerbage, executivo da gestora de ativos digitais brasileira Hashdex, destacou a diminuição na volatilidade inerente às criptomoedas em um período de incertezas macroeconômicas. Segundo ele, isso evidencia que os ativos digitais estão amadurecendo, “com uma estrutura de mercado mais consolidada e uma base de investidores que compreende melhor as oportunidades e os riscos do setor.”
Impulso do Ethereum pode abrir caminho para altseason
Apesar de o Bitcoin ter renovado suas máximas históricas em 22 de maio, ao atingir US$ 112.000, o grande destaque do mês passado foi o Ether (ETH), que valorizou 42% no período.
A alta foi impulsionada por uma sequência contínua de influxos positivos nos ETFs spot de Ether nos EUA, cujo patrimônio líquido já supera US$ 11 bilhões. Na quarta-feira, 11 de junho, os aportes chegaram a US$ 240,3 milhões, de acordo com dados da Coinglass, coincidindo com a superação da resistência em US$ 2.850, valor registrado pela última vez em fevereiro, antes do início da guerra comercial de Donald Trump que desestabilizou os mercados.
“Essa mudança de sentimento pode refletir um renovado interesse pelo Ethereum e por outras plataformas de contratos inteligentes, cujos casos de uso vêm se expandindo — especialmente no papel crescente como infraestrutura institucional para stablecoins", afirmou Kerbage.
No entanto, ponderou o executivo, a confirmação da tendência e o início de uma eventual altseason dependerá do desempenho do par ETH/BTC daqui por diante.
ICO da Circle revela apetite institucional por exposição ao mercado de stablecoins
As stablecoins se mantiveram no topo das manchetes com os avanços da regulamentação nos EUA e o manifesto interesse de grandes instituições bancárias americanas no setor. Kerbage apontou também para o sucesso do IPO da Circle, emissora do USD Coin (USDC), segunda maior stablecoin em capitalização de mercado.
Após a resistência inicial de parte da bancada democrata no Senado, a Lei GENIUS (Guiding and Establishing National Innovation for US Stablecoins) deverá ser aprovada em breve. Em votação realizada na quarta-feira, 11 de junho, o encaminhamento do projeto para última fase de debates foi aprovado no Senado com 68 votos a favor e 30 contra.
Kerbage destaca que o projeto conta com apoio bipartidário e sua eventual aprovação “pode destravar trilhões de dólares em inovação nas infraestruturas de pagamento e finanças” nos Estados Unidos nos próximos anos.
O crescimento desse mercado tem potencial para impulsionar a adoção de plataformas como Ethereum e Solana (SOL), cuja infraestrutura é fundamental para emissão e negociação de stablecoins.
Atentos ao potencial do setor, grandes bancos americanos manifestaram o interesse em formar um consórcio para lançar uma stablecoin própria para competir com o (USDT), da Tether, e o USDC, atuais líderes do mercado.
“A ideia de uma stablecoin unificada, governada institucionalmente por alguns dos maiores bancos do mundo, pareceria altamente improvável até poucos anos atrás", afirmou o executivo da Hashdex. “Mas hoje está na mesa — e pode servir como base digital para liquidação em tempo real, gestão de liquidez e fluxos transfronteiriços, posicionando as stablecoins como novos primitivos financeiros programáveis para o mundo institucional.”
O enorme apetite dos investidores institucionais por exposição ao mercado de stablecoins foi evidenciado pelo IPO da Circle, ocorrido em 5 de junho. No primeiro dia de negociação, as ações da empresa dispararam 167%, saltando de US$ 31 para US$ 82. Atualmente, a CRCL é negociada a US$ 112,44, de acordo com dados do Yahoo Finance.
Adoção corporativa de Bitcoin consolida-se como nova febre do mercado
O fenômeno das Bitcoin Treasury Companies manteve-se em expansão em maio. Seguindo o modelo criado por Michael Saylor à frente da Strategy, a Game Stop e o Trump Media Group, da família do presidente dos EUA, divulgaram iniciativas para levantar capital com o objetivo de adicionar BTC aos seus tesouros corporativos.
No Brasil, o Méliuz tomou iniciativa semelhante, anunciando uma oferta de R$ 150 milhões em ações destinada a aumentar a participação de Bitcoin no caixa da empresa.
Presidente da SEC defende soberania financeira por meio de DeFi
Em análise complemetar, Kerbage saudou o discurso do presidente da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC), Paul Atkins, em defesa das finanças descentralizadas (DeFi) e da criptoeconomia.
Intitulado “DeFi e os valores americanos”, o discurso de Atkins afirmou que as finanças descentralizadas estão alinhadas com valores fundamentais da cultura americana, como “liberdade econômica, direitos de propriedade privada e inovação.”
Em seguida, defendeu que a regulação do setor seja pautada por leis alinhadas às novas tecnologias – e não enquadrada em modelos antigos:
“Não acredito que devemos permitir que estruturas regulatórias centenárias sufoquem a inovação com tecnologias que têm o potencial de transformar — e, mais importante ainda, melhorar e avançar — nosso modelo tradicional baseado em intermediários. Não devemos automaticamente temer o futuro.”
Kerbage reforçou o otimismo da Hashdex diante da mudança de tom e direção política da SEC e do governo dos EUA no que diz respeito aos ativos digitais:
“À medida que um dos maiores mercados de capitais do mundo sinaliza abertura para um arcabouço regulatório mais coerente e voltado para o futuro, acreditamos que há um enorme valor a ser destravado em toda a classe de ativos digitais.”
Em 2025, a Hashdex lançou dois novos ETFs de criptomoedas no mercado brasileiro. Atrelado ao índice Kaiko Hashdex Risk Parity Momentum, o FOMO11 oferece exposição às 12 principais criptomoedas por capitalização de mercado, com peso maior para tokens que apresentam forte potencial de alta.
Já o XRP11 é o primeiro ETF do mundo que rastreia o (XRP), terceira maior criptomoeda em capitalização de mercado, atrás do Bitcoin e do Ether.