As stablecoins e a tokenização já fornecem a infraestrutura necessária para a criação de um “Pix Global” capaz de operar 24 horas por dia, sete dias por semana. O principal obstáculo para que este sistema de pagamentos global e instantâneo entre em operação, no entanto, é a regulação.

O Brasil, com sua agenda de inovação e inclusão financeira patrocinada pelo Banco Central (BC), que inclui o Pix e o open finance, é o laboratório ideal para que novas soluções sejam testadas com o apoio dos reguladores, segundo Steve Donovan, head de services do Citi para a América Latina.

Donovan está articulando a criação de um arcabouço regulatório para viabilizar o que chama de “Santo Graal” das transações financeiras: uma plataforma de pagamentos instantâneos baseada em stablecoins e tokenização — uma espécie de Pix potencializado pela programabilidade da tecnologia blockchain.

Para o Citi, a experiência não é nova. O banco já utiliza um token próprio para realizar transferências transfronteiriças entre os países em que opera. O avanço da regulação das stablecoins nos Estados Unidos e iniciativas similares na China e na Europa criam as condições para que um projeto de integração global seja desenvolvido em parceria com instituições privadas, afirma o executivo em entrevista ao Brazil Journal:

“As stablecoins não são propriamente uma novidade. Estávamos falando sobre elas há cinco ou seis anos, mas não havia clareza regulatória. Faltava segurança. Só investiremos em algo do tipo se nossos clientes tiverem interesse real nisso.”

Após a aprovação da Lei Genius nos Estados Unidos, que estabeleceu regras claras para emissores de criptoativos atrelados ao dólar, Jane Fraser, CEO do Citi, levantou a possibilidade de o banco lançar uma stablecoin própria, ou de adotar depósitos tokenizados, em um modelo similar ao que o Banco Central propôs originalmente para o Drex.

Donovan ressalta que o componente cultural ainda é uma barreira, mas tudo indica que o mundo está se encaminhando para um sistema financeiro tokenizado. Possivelmente, segundo ele, esta é a solução mais apropriada para unificar as múltiplas infraestruturas de mercados financeiros (FMIs) que hoje possuem regras próprias e diferentes prazos de liquidação.

Grandes bancos e fintechs terão espaço em uma economia tokenizada

Segundo Donovan, o futuro tokenizado será capaz de acomodar tanto as instituições financeiras tradicionais quanto fintechs e startups criptonativas. “A ambição é movimentar dinheiro 24 horas por dia, sete dias por semana, em todos os mercados do mundo", reforça o executivo.

Embora vislumbre o Citi como protagonista nesse cenário, uma vez que o banco está presente em mais de 140 países atualmente, Donovan afirma que as inovações introduzidas pelas fintechs serão fundamentais para expandir a base de usuários dos produtos financeiros, assim como já vem ocorrendo nos últimos anos:

“Desde o início, nós abraçamos as fintechs. Nunca as vimos como uma ameaça competitiva. Víamos as fintechs como capazes de preencher uma lacuna no mercado, fornecendo serviços que não conseguimos entregar e ajudando a atrair mais consumidores.”

A onda de inclusão e inovação que elas geraram no Brasil e na América Latina é uma evidência irrefutável.

Em seus esforços para conciliar a inovação e a regulação sob os mais altos padrões de segurança e conformidade, Donovan tem participado das discussões sobre a regulação das stablecoins no Brasil junto ao Banco Central.

Apesar de algumas propostas criticadas por representantes do setor, como a proibição de transferências de stablecoins de Prestadores de Serviços de Ativos Virtuais (PSAVs) para carteiras autocustodiais e a exigência de que todas as empresas que ofereçam negociação de stablecoins em suas plataformas obtenham licença para operar no mercado de câmbio, Donovan confia que as regras a serem adotadas no Brasil favorecerão o desenvolvimento do setor:

“O Brasil é o first mover, a Singapura da América Latina. Sempre recomendo às pessoas que olhem o que o País tem feito em temas como open finance, pagamentos instantâneos e inclusão financeira como inspiração.”

Conforme noticiado pelo Cointelegraph Brasil, o BC garante que a regulação do mercado de stablecoins e as regras de conduta para PSAVs baseadas no país serão implementadas ainda em 2025.