Há dois anos, quando o Ether (ETH) era negociado a US$ 1.600, com um desempenho significativamente inferior ao de Bitcoin (BTC) e Solana (SOL) e poucos acreditavam na sua recuperação, Samir Kerbage, CIO da Hashdex, afirmou que a altcoin era o “gigante adormecido” do mercado de criptomoedas.
Na ocasião, a forte concorrência entre as plataformas de contratos inteligentes e a frustração da comunidade com as últimas atualizações da rede colocavam em xeque o futuro da Ethereum.
Apesar da depreciação do ativo, Kerbage apontava três razões para justificar o investimento no ativo: avanços na infraestrutura da rede, a tendência global de tokenização de ativos reais (RWA) e a transição geracional dos Baby Boomers e da Geração X para os Millennials e a Geração Z.
Ao dobrar a aposta na Ethereum com foco no longo prazo, Kerbage advertiu:
“À medida que mais investidores compreendem o papel importante que o Ethereum desempenhará como a infraestrutura tecnológica da economia global, não temos dúvidas de que eles reconhecerão que este gigante adormecido nunca esteve realmente dormindo.”
Kerbage relembrou sua crença na “ressurreição do Ethereum” na mais recente edição do boletim “Notas do CIO", apontando que a alta recente do Ether ocorreu justamente devido às razões apontadas por ele há dois anos.
Tokenização, stablecoins e adoção de criptomoedas pelas novas gerações impulsionam Ethereum
Segundo Kerbage, os avanços em infraestrutura permitiram a expansão da quantidade de Ether mantida em staking, ampliando a segurança e a descentralização da rede. Em paralelo, a aprovação da Lei GENIUS nos EUA, que regula o mercado de stablecoins, credencia a Ethereum para ser a líder nesse setor, uma vez que o suprimento de criptoativos atrelados ao dólar na rede soma US$ 155 bilhões.
No que diz respeito à tokenização, o setor tem avançado mais rápido do que as projeções mais otimistas do Bank of America, segundo as quais esse mercado atingirá US$ 16 trilhões entre cinco a 15 anos.
O CIO da Hashdex destaca que os tokens RWA saltaram de US$ 5 bilhões em 2002 para US$ 24 bilhões em meados de 2025, impulsionando o protagonismo e a valorização da Ethereum:
“A dominância do Ethereum em smart contracts viabiliza isso, permitindo fracionar ativos como imóveis, obras de arte, commodities e valores mobiliários em tokens negociáveis e líquidos na blockchain.”
Por fim, a adoção de criptomoedas pelas novas gerações segue em alta nos Estados Unidos. Em 2022, um levantamento da Charles Schwab apontou que 47% dos Millennials e 43% da Geração Z possuía investimentos em criptomoedas. “Em 2025, essa diferença se ampliou", destaca o executivo:
“Mais de 50% da Geração Z já possui criptoativos, liderando a adoção ao lado dos Millennials. Com mais de US$ 100 trilhões prestes a serem transferidos das gerações mais velhas para as mais jovens nas próximas duas décadas, a influência econômica das novas gerações só tende a se amplificar.”
Um fator adicional é o crescimento da adoção institucional por meio dos ETFs de Ethereum, cujos fluxos se aceleraram nos últimos três meses, e das Empresas de Tesouraria de Ativos Digitais (DATs).
Na semana passada, por exemplo, os aportes em ETFs de Ether superaram em quase 50% as entradas nos ETFs de Bitcoin: US$ 1,4 bilhão contra US$ 748 milhões, respectivamente, de acordo com a CoinShares.
“Com o ETH sendo negociado próximo às máximas históricas — mais de 100% acima das mínimas do início de 2024 — o papel da plataforma como principal blockchain de smart contracts está mais consolidado do que nunca", afirma Kerbage.
CIO da Hashdex projeta alta de mais de 100% do preço do Ether
Kerbage afirma que “a trajetória do Ethereum, especialmente nos últimos meses, prova que as percepções de estagnação estavam equivocadas.” Em 2025, a valorização do Ether supera a do Bitcoin em aproximadamente seis vezes. Enquanto o primeiro subiu cerca de 60%, o Bitcoin acumula ganhos de 10%.
“Fluxos institucionais, avanços tecnológicos e aplicações no mundo real impulsionaram o Ethereum para uma nova fase de maturidade, tornando seu caso de investimento atraente para investidores de longo prazo", acrescenta o executivo.
Apesar da forte alta recente, Kerbage projeta uma alta adicional de mais de 100% no preço do Ether com o crescimento da adoção de stablecoins nos EUA:
“Minha expectativa é que o ETH possa ultrapassar US$ 10.000 quando começarmos a ver soluções de stablecoins sendo implementadas para pagamentos nos EUA.”
Bitcoin pode frear continuidade da alta do Ether
Uma análise da Ecoinometrics, no entanto, atribui o desempenho superior do Ether ao fato de que a altcoin estava subvalorizada em relação ao Bitcoin. Apesar da alta recente, o Ether ainda mantém uma forte correlação com o Bitcoin, destaca a análise:
“Nos últimos cinco anos, os retornos do Ethereum acompanharam de perto os do Bitcoin, com correlações frequentemente acima de 0,8. Isso não mudou. A recente alta não levou o ETH para um território independente; ele ainda segue a direção do Bitcoin, apenas com um impulso mais forte.”
Enquanto o Bitcoin praticamente duplicou de valor desde o topo de US$ 69.000 de novembro de 2021, o Ether atualmente é negociado 14% abaixo de seu recorde histórico de preço recém renovado em 24 de agosto.
Essa diferença dá margem para a continuidade da alta, mas dentro de um limite determinado pela ação de preço do Bitcoin. “Assim que essa diferença diminuir, o Ethereum precisará de uma nova narrativa para manter o desempenho superior", afirma a Ecoinometrics.
Na prática, isso significa que o Ether não oferece o benefício da diversificação a um portfólio que já possui Bitcoin, segundo a análise.
Recentemente, uma grande baleia vem chamando a atenção do mercado por estar rotacionando suas posições do Bitcoin para o Ether. Conforme noticiado pelo Cointelegraph Brasil, esse investidor trocou US$ 4 bilhões em BTC por ETH, reforçando a tese de migração de capital para a altcoin.