O BTG Pactual ampliou sua participação acionária no Méliuz (CASH3) e agora possui 14,26% do capital social da primeira Bitcoin Treasury Company do Brasil.
O comunicado ao mercado divulgado na quarta-feira, 25 de junho, informa que o BTG Pactual e suas subsidiárias possuem aproximadamente 16,07 milhões de ações ordinárias do Méliuz, parte delas adquiridas durante a oferta pública concluída em 16 de junho.
Na ocasião, o banco subscreveu 2,83 milhões de ações, equivalentes a 2,52% do capital total da companhia, que se somaram ao total de 6,62 milhões que já possuía. Além disso, o comunicado informa que o BTG Pactual mantém exposição ao equivalente a 6,6 milhões de ações do Méliuz vinculadas a operações de derivativos.
Apesar do aumento significativo em sua participação acionária, o BTG Pactual esclarece no comunicado que "não objetiva alterar a composição do controle ou a estrutura administrativa da Companhia."
BTG Pactual aposta na “Estratégia Bitcoin” do Méliuz
O investimento do BTG Pactual no Méliuz se acelerou depois que a empresa de cashback adicionou Bitcoin (BTC) à sua tesouraria, em março, e, posteriormente, alterou seu objeto social para tornar-se a primeira Bitcoin Treasury Company do Brasil.
A confiança do banco na "Estratégia Bitcoin" do Méliuz foi reforçada em relatório que recomenda investimento nas ações da empresa, divulgado simultaneamente ao comunicado ao mercado.
Ao retomar a cobertura das ações do Méliuz em suas análises de mercado, o BTG Pactual estipulou um preço-alvo de R$ 10,00 para a CASH3, indicando potencial de alta de 43% em relação ao preço atual de mercado do papel.
Inicialmente céticos à mudança no modelo de negócios do Méliuz, os analistas Ricardo Buchpiguel, Eduardo Rosman e Thiago Paura reavaliaram suas convicções acerca da estratégia da empresa após a valorização de 110% da CASH3 na B3, desde que a empresa realizou seu primeiro investimento em Bitcoin.
A tese de investimento apresentada no relatório se baseia em quatro pilares fundamentais da “Estratégia Bitcoin” do Méliuz.
O primeiro e principal pilar é o desempenho do Bitcoin. Conforme a oferta pública recém concluída e as declarações de Israel Salmen, fundador e presidente do conselho do Méliuz, a empresa buscará fomentar a geração incremental de Bitcoin aos acionistas, seja através da geração de caixa operacional ou de operações financeiras estruturadas e iniciativas estratégicas.
O segundo pilar considera o negócio de cashback já existente, avaliado pelos analistas em aproximadamente R$ 400 milhões, cerca de 6 vezes o valor da empresa sobre o EBITDA. Contudo, os analistas esperam que este setor da empresa perca relevância à medida que a “Estratégia Bitcoin” se prove bem-sucedida.
O terceiro pilar explora a alta volatilidade da CASH3, que, paradoxalmente, representa uma vantagem competitiva. Segundo o BTG, Bitcoin Treasury Companies "vendem volatilidade e exposições variadas ao BTC", permitindo que a empresa negocie instrumentos financeiros em condições mais favoráveis.
O quarto pilar refere-se à capacidade da empresa de emitir diversos instrumentos financeiros atrelados ao Bitcoin, incluindo debêntures conversíveis e ações preferenciais.
“Ao contrário das empresas tradicionais, as Bitcoin Treasury Companies geram valor não a partir de suas operações centrais, mas sim aumentando o número de Bitcoins por ação (BTC/ação) por meio da emissão de instrumentos financeiros", afirmam os analistas.
A alta volatilidade permite que a empresa venda esses instrumentos vinculados a opções em termos favoráveis, frequentemente com juros próximos de zero e preços de exercício elevados, atraindo investidores que buscam exposição ao Bitcoin com salvaguardas.
“Estratégia Bitcoin” do Méliuz também apresenta riscos aos investidores
Contudo, os analistas ponderam que a estratégia não está isenta de riscos. O principal é o próprio desempenho do Bitcoin, que, por si só, pode comprometer toda a tese de investimento.
“Se o Bitcoin tiver um desempenho ruim nos próximos anos, o investidor não apenas estaria exposto a um ativo em depreciação, mas a empresa também poderia não conseguir emitir novos instrumentos de dívida — o que significa que o investidor teria pago um prêmio de mNAV sem colher os benefícios do rendimento em BTC", diz o relatório.
mNAV (modified Net Asset Value, ou valor patrimonial líquido modificado) é uma métrica específica usada para avaliar Bitcoin Treasury Companies. O mNAV compara o valor de mercado da empresa (quanto os investidores estão dispostos a pagar pelas ações) com o valor dos seus ativos em Bitcoin.
Se o mNAV for maior que 1, significa que o mercado está pagando um prêmio, ou seja, valoriza a empresa acima do valor direto do Bitcoin que ela possui, acreditando em seu potencial de crescimento ou em outros ativos e operações. Se for menor que 1, indica que as ações estão sendo negociadas abaixo do valor dos Bitcoins que a empresa detém, o que pode sinalizar tanto uma oportunidade de investimento quanto a desconfiança do mercado.
Nesse cenário, a capacidade de gerar caixa para adicionar mais Bitcoin à tesouraria seria reduzida, quebrando a lógica fundamental da estratégia, enquanto os investidores ficariam expostos a um ativo em depreciação sem os benefícios esperados.
A análise do BTG Pactual classifica o investimento no Méliuz como uma "aposta que vale o risco.” A transformação da empresa de cashback em um instrumento de exposição ao Bitcoin representa uma evolução estratégica que, segundo os analistas, justifica a recomendação de compra e o potencial de valorização das ações.
Conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil, o Méliuz investiu os R$ 180 milhões levantados em sua oferta pública de ações para adquirir 275,43 BTC. Com isso, a empresa ampliou sua reserva para 595,67 BTC, consolidando-se como a maior detentora corporativa de Bitcoin da América Latina, à frente do Mercado Livre.