O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, palestrou na manhã desta quarta-feira (24) no Blockchain.Rio, evento voltado à inovação em blockchain e finanças digitais que acontece até a próxima quinta-feira (25) no Expomag, no Centro do Rio.
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Fonte: Captura de tela YouTube/Blockchain.Rio
Campos Neto destacou que o Brasil tem sido reconhecido internacionalmente pelo avanço tecnológico voltado às finanças e ressaltou que a autoridade monetária partiu da premissa da necessidade de engajamento e entendimento das novas soluções por parte das pessoas ao argumentar que “essa digitalização vai ter uma vantagem na vida das pessoas”.
Ao observar o cenário mundial, Campos Neto acrescentou que o BC se ateve ao processo global de tokenização, qualificado por ele como “um trem que já partiu” e revelou que, ao perceber que as pessoas estavam insatisfeitas com as maneiras tradicionais de pagamentos, passou a observar a solução dos gamers.
“A gente via muito o pessoal que era gamer, fazia os pagamentos, registro de placar, de score, de videogame. E perguntava muito o que os jovens precisavam e entendiam que deveria ser um sistema de pagamentos. Sempre apareciam as seguintes características: rápido, barato, transparente, seguro. A gente entendia que tinha que ser inclusivo, então foi assim que começou a nascer o Pix”, contou.
Ele ainda dissertou sobre a capacidade de as criptomoedas extraírem o valor de um determinado ativo através da representação em blockchain. O que, na avaliação do presidente da autoridade monetária, representa a migração para uma economia tokenizada, há bastante tempo e de forma acelerada.
“Em termos de tokenização da economia, a gente tem um ganho muito grande em enxergar e negociar ativos nessa forma tokenizada, em termos de custo, transparência, mesmas características que os jovens sempre pensaram que era importante”, emendou.
Casamento entre o Pix e o Drex
De acordo com o representante da instituição, a utilização da blockchain através do Drex, versão brasileira de moda digital emitida por banco central (CBDC, na sigla em inglês), aconteceu pela necessidade de programabilidade dos pagamentos, via contratos inteligentes.
“Como a gente entendia que esse bloco do Pix em algum momento ia encaixar com o bloco da moeda digital [Drex], ele precisava suportar contratos inteligentes. A gente olhou muito o UPI na época, que era um sistema que estava sendo feito na Índia… mas o resultante disso é que o projeto ficou muito mais voltado para ser um projeto de identidade digital”, frisou.
Segundo ele, a aderência do Pix ao Drex também está relacionada à necessidade de fazer com que a solução de pagamentos do BC seja transfronteiriço, ser cross border.
“Logo que eu entrei no BC, em 2019, eu colocava um slide que perguntava qual era o jeito mais fácil de transportar um milhão de pounds [libras] de São Paulo para Londres… e a opção ‘de avião’ era o jeito mais rápido na época porque o [sistema] SWIFT demoraria mais dois [dias], então era uma provocação que a gente fazia porque a gente avanço muito em tecnologia, mas, na parte de pagamento transfronteiriço a gente avançou muito pouco.
Por outro lado, embora tenha salientado a superação tecnológica relacionada à conexão entre diferentes DLTs e de uma pool de liquidez por meio de um token global, Campos Neto acrescentou que a internacionalização das moedas ainda esbarra na questão de Governança para criação de regras internacionais, já que os países possuem jurisdições distintas.
“Um dos temas do G20 que a gente falando muito é como resolver a Governança… se formos conectar vários países, ao mesmo tempo, para fazer pagamento instantâneo, o sistema não vai ter tempo para parar e checar se aquela regra está de acordo ou não. Então, se não tiver uma regra homogênea para todos os países que estão na plataforma, eu não consigo fazer”, justificou.
O presidente do BC disse ainda que acredita no futuro da digitalização de dados, de forma análoga a uma poupança individual das pessoas, negociáveis por tokens, ressaltou a taxa de adoção do Pix, criticou as narrativas relacionada aos golpes através do Pix pelo comparativo com as fraudes através de cartões e outras formas de pagamento.
Em relação ao Drex, ele destacou como vantagens a eficiência bancária pela tokenização nos ativos e passivo, nos pagamentos digitais pela facilidade na intermediação financeira, a possibilidade de ponte com as finanças descentralizadas (DeFi) e a facilitação nos contratos e registros e a criação de um ambiente Open Finance entre Pix e Drex.
Por outro lado, Campos Neto salientou a existência do trilema, que coloca em lados opostos a privacidade, programabilidade e a descentralização, já que a natureza da blockhain esbarra da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Na esteira da internacionalização do Pix, a fintech PagBrasil anunciou essa semana uma parceria com a Wipay e a Paybyrd, ambas focadas no mercado de pagamentos digitais na Europa, para levar até os brasileiros que vivem ou viajam para os países da comunidade europeia a possibilidade de pagar por produtos e serviços usando o Pix, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.