O ouro renovou suas máximas históricas nesta quarta-feira, 19 de fevereiro, ao atingir a cotação de US$ 2.947 por onça, impulsionado por uma demanda sem precedentes por ativos de proteção em um cenário geopolítico e macroeconômico global cada vez mais turbulento.
Após acumular ganhos de 45% em 2024, superando tanto o S&P 500 quanto o Nasdaq, o preço do ouro manteve sua escalada no início deste ano, com uma alta de 12%, de acordo com dados da TradingView. Embora tenha superado o desempenho do ouro em 2025, com uma alta superior a 100%, o Bitcoin (BTC) foi afetado negativamente pela guerra comercial do presidente dos EUA, Donald Trump, e pela pausa nos cortes das taxas de juros do Banco Central dos EUA (Fed) neste começo de ano.
Gráfico diário da cotação da onça do ouro em dólares. Fonte: TradingView
Em um vídeo publicado em seu canal no YouTube, o economista Fernando Ulrich atribui a disparada do ouro a fatores estruturais profundos. Ativo de reserva de valor por excelência, o ouro tem sido adotado como um porto seguro por bancos centrais de diversos países em busca de reduzir a dependência do dólar e fortalecer suas reservas internacionais com um ativo imune a crises econômicas e sanções financeiras.
Paralelamente, as políticas monetárias expansionistas do Fed têm resultado na desvalorização contínua do dólar — e das moedas fiduciárias em geral —, reforçando o apelo do ouro como ativo de proteção contra a expansão da base monetária global, afirma Ulrich.
Há 15 anos consecutivos, o saldo líquido de compras de ouro por bancos centrais mantém-se positivo, de acordo com um relatório recente publicado pelo World Gold Council. Em um movimento de desafio à hegemonia do dólar como moeda de reserva global, os bancos centrais de China, Rússia e Índia lideram esse movimento, com a acumulação de mais de 1.000 toneladas anuais do metal precioso desde 2022.
Saldo líquido de ouro adquirido por bancos centrais nos últimos 15 anos. Fonte: World Gold Council
Quebra da correlação do ouro com o mercado tradicional
A alta do ouro é ainda mais surpreendente porque quebra a correlação histórica entre os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA e o preço do metal precioso.
Ulrich explica que, tradicionalmente, a correlação entre os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA e o preço do ouro baseia-se em uma lógica econômica clássica: quando as taxas de juros reais sobem, o custo de oportunidade de manter ouro — que não oferece rendimento — aumenta, tornando-o menos atraente.
Em cenários assim, a tendência é que o preço do ouro caia. No entanto, em 2024 e até agora em 2025, essa correlação inversa foi quebrada: mesmo com os juros reais em alta, o ouro continua a se valorizar.
A recente corrida pelo ouro evidenciou os gargalos de infraestrutura que afetam diretamente a disponibilidade e o fluxo do metal precioso no mercado.
Atualmente, a defasagem entre uma ordem de resgate e a entrega do ouro ao portador nos Estados Unidos pode variar de quatro a 12 semanas devido à logística complexa e à capacidade limitada dos custodiantes de atender à demanda.
A guerra comercial declarada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, exacerbou ainda mais os problemas, obrigando os custodiantes e operadores do mercado de ouro a transferir grandes quantidades de ouro de Londres para Nova York, afirmou Ulrich:
“Operadores estão usando aviões comerciais para levar ouro de Londres a Nova York, esvaziando os cofres do Banco da Inglaterra e pressionando os estoques da COMEX nos EUA.”
Os problemas de logística já estão causando distorções no mercado. Segundo Ulrich, o spread entre o preço à vista em Londres e os futuros em Nova York chegou a US$ 92 neste ano em momentos de maior estresse.
A hora e a vez do “ouro digital”
A alta do preço do ouro, associada às limitações estruturais do mercado, representa uma oportunidade única para o Bitcoin (BTC) comprovar de uma vez por todas a tese do “ouro digital", afirmou Ulrich:
“As características intrínsecas do ouro me levam então à comparação óbvia do ouro com o Bitcoin. Quando analisamos as diferenças entre ambos os ativos, entende-se que o Bitcoin é um ativo com atributos semelhantes a ouro no quesito escassez, mas sem as desvantagens logísticas.”
Livre das limitações físicas e operacionais associadas ao transporte e armazenamento de ouro – que envolvem custos de seguro, segurança armada e transporte especializado – o Bitcoin viabiliza transferências rápidas e descentralizadas, acessíveis em escala global e sem intermediários.
Ulrich reconhece que o Bitcoin não substituirá o ouro integralmente. “O dinheiro do passado ainda é usado como ativo de proteção e provavelmente permanecerá sendo uma apólice de seguro, especialmente nesse cenário mundial incerto, de geopolítica tensa e desglobalização", afirmou.
Mesmo que o ouro se mantenha como um dos pilares do sistema financeiro internacional, o Bitcoin pode representar uma alternativa de proteção equivalente em um mundo cada vez mais digital.
Ao eliminar os gargalos de infraestrutura do ouro, o Bitcoin destaca-se não só como um investimento financeiro lucrativo, mas como uma reserva de valor em potencial, conclui o economista.
Há uma forte pressão nos EUA para que as reservas de ouro sejam auditadas para confirmar que o Tesouro detém de fato 4.600 toneladas de ouro, conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil.