O ano de 2024 será lembrado como o ano em que o Bitcoin (BTC) atingiu a marca histórica de US$ 100 mil – em grande parte devido à crescente adoção por parte de investidores institucionais.
O Brasil não ficou de fora desse movimento, revelam executivos do Mercado Bitcoin (MB), maior exchange de criptomoedas do país, e da Hashdex, emissora de ETFs negociados na B3 e em bolsas de valores europeias e norte-americanas.
Em 2024, os clientes institucionais foram responsáveis por 70% do volume negociado no MB, disse Guilherme Pimentel, diretor de produto da exchange, à reportagem do NeoFeed.
Para atender à demanda de gestoras, tesourarias de bancos e formadores de mercado, o MB lançou uma plataforma voltada para gestores profissionais, que administra os portfólios de mais de 10 clientes.
“São poucos [clientes], mas muito grandes", afirmou Pimentel. “Estamos em um movimento de expansão dos serviços para gestores interessados em alocar parte do seu patrimônio em cripto.”
Emissora do ETF de criptomoedas de maior sucesso da B3 – o HASH11 –, a Hashdex registrou um crescimento de 260% em aportes de investidores institucionais em 2024, totalizando R$ 540 milhões.
“Vemos muitas operações de arbitragem nesses ETFs, além de algumas gestoras adotando posições estratégicas", afirmou Samir Kerbage, chefe de investimentos da Hashdex.
O Banco do Brasil é um dos principais clientes da Hashdex. O banco estatal possui um fundo de investimentos ativo em criptomoedas, com 31 mil cotistas.
Atualmente, há 18 ETFs de criptomoedas listados na B3 que, somados, possuem mais de R$ 8 bilhões em ativos sob gestão. Líder do mercado brasileiro, o HASH11 tem um patrimônio superior a R$ 4 bilhões.
Atrelado ao Nasdaq Crypto Index, o HASH11 oferece exposição a nove criptomoedas, incluindo o Bitcoin e o Ethereum, e altcoins de grande capitalização, como XRP, Solana (SOL) e Cardano (ADA).
Em 2024, o HASH11 acumulou ganhos de 157,3%, superando o desempenho do Bitcoin, cuja valorização até agora foi de 133,8%, de acordo com um levantamento da CoinGecko.
Desempenho do HASH11 em 2024. Fonte: Hashdex
No passado, o HASH11 serviu de porta de entrada para a Verde Asset, gestora bilionária de Luis Stuhlberger, expor-se ao mercado de criptomoedas. Em novembro, Stuhlberger surpreendeu o mercado brasileiro ao afirmar que havia lucrado com a valorização do Bitcoin após a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos EUA.
Em um ano difícil para os investidores do mercado tradicional, o Verde Asset registrou seu melhor desempenho justamente em novembro, com uma valorização de 3,3%.
João Piccioni, gestor da Empiricus, antecipou a tendência e obteve um rendimento anual de 44% com o Money Riders em 2024, fundo que oferece exposição às criptomoedas.
“A ideia de adicionar uma posição robusta em Bitcoin surgiu em junho de 2023", afirmou Piccioni. Na ocasião, a BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, com mais de US$ 10 trilhões em ativos sob gestão, acabara de apresentar à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) um pedido para lançamento de um ETF spot de Bitcoin.
“Percebemos que a adoção seria um caminho sem volta e alocamos 10% do fundo em criptomoedas", acrescentou o gestor. “Com a entrada do investidor institucional, o Bitcoin disparou.”
ETFs facilitam a exposição de institucionais às criptomoedas
As iniciativas globais de incorporação do Bitcoin ao tesouro de grandes empresas e ao portfólios de investimento de grandes fundos e gestoras foram facilitadas pelo lançamento de ETFs spot de Bitcoin e Ethereum nos Estados Unidos.
Aprovados em janeiro deste ano, os fundos de Bitcoin constituem o lançamento mais bem sucedido do mercado norte-americano de ETFs por uma margem considerável, segundo um relatório publicado recentemente pela K33 Research:
“Em seus primeiros 239 dias de negociação, os ETFs de BTC registraram entradas líquidas acumuladas de US$ 36,7 bilhões. Para contextualizar esse crescimento, em uma base não ajustada pela inflação, os ETFs de ouro levaram de 1.535 dias de negociação para atingir um patamar semelhante. Em termos não ajustados pela inflação, os ETFs de BTC
registraram um crescimento 6,4 vezes mais rápido do que os ETFs de ouro.”
Com menos de um ano após o lançamento, os ETFs de Bitcoin superaram o total de ativos sob gestão dos ETFs de ouro, destaca o relatório.
Histórico dos ativos sob gestão nos ETFs de Bitcoin e ETFs de ouro nos EUA. Fonte: K33 Research
Catalisadores para alta do Bitcoin em 2025
Apesar do crescimento da adoção institucional das criptomoedas após o lançamento dos ETFs de BTC nos EUA, há mais espaço para crescimento em 2025, segundo a K33 Research:
“A participação dos institucionais ainda é baixa em comparação com o ouro, mas muito robusta considerando que os ETFs de BTC surgiram há menos de um ano.”
Apenas 21,3% do total de ativos sob gestão em ETFs de Bitcoin pertence a investidores institucionais. Nos ETFs de ouro, a participação é mais de duas vezes maior: 44,4%.
“À medida que os mandatos dos fundos evoluem para permitir a exposição ao BTC, novas corretoras de valores dão luz verde aos ETFs e clareza regulatória se fortalece, prevemos que a taxa de participação institucional crescerá", afirma a K33 Research.
Brasil seguirá alinhado à tendência global em 2025
Embora a análise concentre-se no mercado norte-americano, a tendência crescente de adoção institucional deve ter reflexos no Brasil, acredita Piccioni:
“O gestor que diz que não compra cripto porque não conhece está um passo atrás. O risco reputacional de perder o rali por não estar alocado nesse mercado é comprometedor, especialmente no cenário brasileiro.”
Além da maior clareza regulatória nos EUA, com a implementação de políticas pró-cripto nos EUA e a mudança na liderança da SEC, a adoção estatal pode se configurar como um catalisador de proporções inimagináveis no futuro, afirma Arthur Severo, especialista em criptomoedas da Manchester Investimentos:
“Vimos um movimento de alta significativa com a entrada dos institucionais. O próximo pode ser puxado por Estados nacionais. Se os Estados Unidos alocarem 1% ou 2% de seu Tesouro em Bitcoin, e China, Rússia e outros países fizerem o mesmo, isso geraria uma demanda muito maior do que vimos até agora. Na relação entre oferta e demanda, o resultado é preço para cima.”
Independentemente da aprovação e implementação de uma reserva estratégica de Bitcoin nos EUA, 2025 deve testemunhar novas altas no mercado de criptomoedas, segundo Piccioni.
O gestor da Empiricus aposta que está chegando o momento do ciclo em que as altcoins superam o Bitcoin e as posições em criptomoedas do Money Riders foram parcialmente rotacionadas do BTC para ETH e SOL:
“Em 2025, esperamos que as altcoins ganhem mais tração, enquanto o Bitcoin pode ficar um pouco para trás. Tem tudo para 2025 ser mais um ano muito bom para as criptomoedas.”
Kerbage tem uma perspectiva semelhante. Conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil, o CIO da Hashdex prevê que 2025 será caracterizado pela aceleração da valorização das altcoins em relação ao Bitcoin, com destaque para as plataformas de contratos inteligentes.