Independentemente do resultado referendado pelas urnas em 5 de novembro, a eleição presidencial dos Estados Unidos em 2024 será lembrada como um ponto de inflexão crucial para o mercado de criptomoedas. Pela primeira vez, as criptomoedas não apenas figuram como um tópico central nos debates políticos, mas também desempenham um papel significativo no financiamento das campanhas dos postulantes a cargos na Casa Branca e no Congresso.
Empresários e investidores do setor esperam que o próximo presidente eleito crie um ambiente regulatório mais favorável para o desenvolvimento da indústria nos EUA, ao contrário do que ocorreu durante a administração do democrata Joe Biden.
De olho em uma fatia não desprezível do eleitorado que pode pautar seu voto em função da postura dos candidatos em relação aos ativos digitais, o ex-presidente Donald Trump saiu na frente e prometeu transformar os EUA na capital mundial das criptomoedas.
A atual vice-presidente e candidata democrata Kamala Harris foi pouco incisiva em relação ao assunto. Mesmo assim, a simples menção de criptomoedas e ativos digitais em momentos esporádicos de sua campanha serviram para criar expectativas de que, sob seu mandato, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) poderia interromper suas políticas de repressão ao setor.
Embora o futuro das criptomoedas não esteja em jogo nas atuais eleições, o anúncio do vencedor influenciará diretamente o desempenho de todos os mercados financeiros no curto prazo. Um relatório recente publicado pela Kaiko Research revela como os investidores estão se posicionando diante de uma das eleições mais acirradas e imprevisíveis da história dos EUA.
Mercados preditivos
Além de tudo o que foi citado anteriormente, o período pré-eleitoral de 2024 foi marcado pelo crescimento e a relevância dos mercados preditivos perante a opinião pública.
Baseado na blockchain da Polygon (POL), o Polymarket soma mais de US$ 2,5 bilhões em apostas no próximo presidente dos EUA. Sob acusações de manipulação de mercado, atualmente o Polymarket aponta 66% de chances de Trump ser eleito, contra 34% de Harris.
Apostas no vencedor das eleições presidenciais nos EUA. Fonte: Polymarket
A diferença de 22 pontos percentuais entre os oponentes sugere uma disputa muito menos acirrada do que revelam as pesquisas de opinião e os modelos estatísticos, destaca o relatório da Kaiko.
A proibição de acesso à plataforma aos cidadãos americanos e a baixa liquidez do mercado sugerem que o Polymarket é pouco eficiente para antecipar o resultado da eleição.
Além disso, as probabilidades nos mercados preditivos não devem ser equiparadas às pesquisas de opinião, afirma a Kaiko, uma vez que ambas têm incentivos diferentes:
"As pesquisas têm como objetivo medir os resultados dentro de uma margem de erro, enquanto o objetivo dos usuários do Polymarket é escolher o vencedor - sem se importar se será por um voto ou por uma maioria esmagadora."
Traders que estão pautando suas decisões de investimento pelo Polymarket podem ser surpreendidos negativamente pelo resultado das urnas, afirma a Kaiko.
Mercados de derivativos de criptomoedas
O volume negociado nos mercados de derivativos cresceu significativamente desde a última semana de setembro. A atividade sugere que, majoritariamente, os traders estão apostando na valorização do Bitcoin após as eleições, independentemente de qual seja o candidato vencedor.
Os contratos de opções da Deribit com vencimento em 8 de novembro, três dias após as eleições, somam US$ 3 bilhões de juros em aberto, com a maioria dos traders apostando em uma alta subsequente a ambos os eventos, afirma a Kaiko.
O maior volume de negociação está concentrado em opções de compra entre US$ 65 mil e US$ 80 mil. Para que os touros obtenham lucros, é necessário que o preço do Bitcoin esteja acima do preço-alvo no dia do vencimento dos contratos. No que diz respeito às apostas de baixa, o preço-alvo mais popular é US$ 45 mil.
Volume negociado e preço-alvo de opções de compra e venda de Bitcoin com vencimento em 8 de novembro na Deribit. Fonte: Kaiko Research
A Kaiko revela que os traders de opções de Bitcoin têm adotado uma estratégia conhecida como long strangle – ou estrangulamento longo. O objetivo dessa estratégia é capturar grandes movimentos de preço comprando ao mesmo tempo uma opção de compra e uma opção de venda para obter lucros em cenários de volatilidade exacerbada.
Mercados tradicionais
Os títulos do Tesouro dos EUA refletem o favoritismo de Trump, segundo a Kaiko. O candidato republicano defende uma política econômica baseada na taxação de produtos importados.
Um eventual aumento nas tarifas de importação deve reacender a pressão inflacionária nos EUA, obrigando o Fed a elevar os juros novamente, favorecendo o rendimento dos títulos do Tesouro, segundo especialistas. Algo que, em tese, seria negativo para os ativos de risco a longo prazo, incluindo o Bitcoin e as criptomoedas.
"Desde o final de setembro, os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos subiram à medida que as chances do candidato republicano de vencer a eleição aumentaram", afirma o relatório.
Gráfico dos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos. Fonte: Kaiko Research
De forma geral, o relatório prevê que os mercados financeiros provavelmente enfrentarão volatilidade até que o resultado das eleições nos EUA seja conhecido, mas os traders estão apostando em um cenário de alta no fim deste ano.
"Em uma disputa acirrada, esse posicionamento sugere que qualquer um dos candidatos será benéfico para as criptomoedas no longo prazo", conclui o relatório.
Antes da abertura dos mercados em Wall Street nesta terça-feira, 29 de outubro, o Bitcoin operava em alta de 4% nas últimas 24 horas, acima dos US$ 71.000, de acordo com dados da CoinGecko.