As chances de vitória do candidato republicano pró-cripto Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos voltaram a subir no mercado preditivo Polymarket durante o fim de semana. No domingo, 18, o ex-presidente se igualou a Kamala Harris, com ambos apresentando 49% de chances de assumir a presidência no ano que vem.

A reação de Trump, que chegou a estar 10 pontos atrás de Harris há alguns dias, não impactou diretamente o preço do Bitcoin (BTC), que fechou o domingo cotado a US$ 58.427, com uma queda semanal de 0,5%, de acordo com dados da CoinGecko.

Um relatório da CoinShares publicado na sexta-feira, 16 de agosto, aponta que apesar do discurso pró-cripto, na prática, a eventual vitória de Trump oferece riscos ao preço do Bitcoin e das criptomoedas.

A política econômica de Trump prevê medidas protecionistas para proteger empresas e produtores dos EUA, com a imposição de tarifas comerciais. Tais medidas têm um viés inflacionário e podem obrigar o Banco Central dos EUA (Fed) a manter os juros elevados, uma política monetária tradicionalmente desfavorável a ativos de risco, como criptomoedas e ações, afirma Max Shannon, analista da CoinShares.

Outros efeitos colaterais do protecionismo governamental sob Trump seriam o enfraquecimento do dólar como moeda de reserva e a potencial desestabilização da economia global, gerando turbulências macroeconômicas e geopolíticas que podem impactar o Bitcoin de forma adversa, alerta a CoinShares.

No que diz respeito à independência do Fed e à política monetária da instituição em um eventual segundo mandato de Trump, o relatório menciona uma entrevista concedida pelo ex-presidnte à Bloomberg em junho, na qual o candidato republicano afirma "que não destituiria do cargo o presidente do Fed, Jerome Powell, sugerindo aprovação à política monetária restritiva atualmente em curso."

O relatório também destaca a relação historicamente contraditória de Trump com as criptomoedas. Inicialmente crítico ao Bitcoin, o ex-presidente acumulou mais de 3 milhões de dólares com a venda de coleções temáticas de NFTs (tokens não fungíveis) antes mesmo da reversão de sua postura sobre as criptomoedas, de cético a apoiador incondicional.

Alguns analistas sugerem que a defesa da indústria por Trump pode ser motivada por cálculos políticos, não se traduzindo necessariamente em uma abordagem regulatória favorável, apesar de suas promessas.

A primeira medida concreta favorável às criptomoedas de sua campanha manteve a abordagem dúbia de Trump em relação à indústria: a aceitação de doações em criptoativos.

Além disso, algumas de suas promessas não são totalmente factíveis, como apontaram alguns observadores. Entre elas, a de que todos os Bitcoins ainda por serem minerados sejam produzidos nos EUA. Ou de que, sob o seu governo, as autoridades federais não venderão nenhum Bitcoin sob posse dos EUA.

O relatório cita algumas atitudes de Trump que podem ter um efeito positivo imediato sobre o mercado de criptomoedas. Uma delas seria a demissão de Gary Gensler, atual presidente da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC), devido à sua política ostensiva de combate às criptomoedas e ao fracasso do órgão regulador em fornecer clareza regulatória aos agentes do setor.

A escolha de J.D. Vance como companheiro de chapa é outro sinal positivo para a indústria, segundo a CoinShares. O candidato a vice-presidente possui entre US$ 100.000 e US$ 250.000 em criptomoedas, de acordo com uma declaração de bens de 2022, e é um crítico dos projetos de lei do governo de Joe Biden que visam impor obrigações fiscais a empresas do setor.

Governo Kamala Harris tende a ser menos positivo para as criptomoedas

Apesar das ressalvas aos potenciais impactos positivos para as criptomoedas de um segundo mandato de Trump, o relatório da CoinShares reconhece que a vitória de Harris provocaria ainda mais incertezas acerca do futuro da indústria nos EUA:

"Embora a posição de Harris em relação às criptomoedas não seja clara, suas afiliações passadas sugerem uma abordagem cautelosa, o que pode tornar sua presidência menos favorável aos ativos digitais do que uma presidência de Trump."

No entanto, a CoinShares destaca que há uma ala do Partido Democrata defendendo uma abordagem regulatória menos agressiva do que a do governo Biden em um eventual mandato de Harris.

Membros eleitos e candidatos do partido têm sugerido que as políticas de Harris para as criptomoedas não devem ser delineadas pela senadora Elizabeth Warren e a Secretária do Tesouro, Janet Yellen, ambas críticas implacáveis da indústria, sob o risco de comprometer uma possível vitória nas eleições de novembro.

"Como candidata à presidência, pode ser imprudente correr o risco de alienar os cerca de 50 milhões de americanos envolvidos com criptomoedas", observa a CoinShares. "Uma abordagem mais equilibrada em relação às criptomoedas poderia diferenciar a vice-presidente Harris da postura mais crítica do governo Biden, alinhando-a com os democratas que estão defendendo uma regulamentação positiva para as criptomoedas."

Conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil, na semana passada o senador democrata Chuck Schumer prometeu apresentar projetos de lei pró-cripto ao Congresso ainda em 2024 se Harris for eleita presidente.