A alta do Bitcoin (BTC) às vésperas das eleições presidenciais e legislativas dos EUA sugere que o mercado de criptomoedas está confiante de que o resultado das urnas será favorável ao desenvolvimento da indústria nos próximos quatro anos.
A disparada da maior criptomoeda do mercado coincide com o aumento da vantagem de Donald Trump sobre Kamala Harris nos mercados preditivos e do empate técnico registrado nas últimas pesquisas de opinião.
No entanto, uma perspectiva devastadora para o futuro das criptomoedas nos EUA não poderá ser descartada enquanto não houver a confirmação da vontade popular nas urnas, afirmou Perriane Boring, fundadora e CEO da Digital Chamber, uma entidade independente que promove a adoção e o uso de ativos digitais baseados na tecnologia blockchain.
Em participação no webinar "As eleições dos EUA: implicações e possíveis desdobramentos para os investidores de cripto", promovido pela Hashdex, Boring delineou o pior cenário possível para a indústria de criptomoedas nos EUA: a eleição de Harris como 47ª presidente do país e a formação de maiorias democratas na Câmara e no Senado.
Apesar de improvável, tal configuração política permitiria que Harris aprovasse sua proposta de tributação sobre ganhos de capital não realizados, inviabilizando economicamente o investimento em criptomoedas para a grande maioria da população americana.
Por outro lado, o cenário perfeito para a consolidação da indústria nos EUA, segundo Boring, depende de uma vitória do ex-presidente Trump e da retomada da maioria republicana no Senado, que atualmente é controlado pelos democratas.
Boring afirmou que é muito provável que os republicanos conquistem a maioria no Senado, onde 34 assentos estarão em jogo nesta eleição. Basta que mantenham as 11 cadeiras que possuem hoje e façam um novo senador nas 23 disputas restantes contra democratas e independentes.
Uma pesquisa recente divulgada pela Digital Chamber revelou que 26 milhões de eleitores irão às urnas em 5 de novembro levando em consideração a abordagem dos candidatos sobre criptomoedas. O "bloco de eleitores cripto" representa 16% dos cidadãos aptos a votar nas próximas eleições para a presidência e o Congresso dos EUA.
Para esse contingente de eleitores, a opinião dos candidatos sobre as criptomoedas é um fator "extremamente ou muito importante" para definição de seus votos. Assim, políticos abertamente pró-cripto têm maiores chances de receber seus votos.
O peso do apoio dos candidatos às criptomoedas tem valores semelhantes tanto para eleitores republicanos quanto para democratas e independentes, revelando que as criptomoedas se tornaram um tema multipartidário nos EUA.
Segundo Samir Kerbage, CIO da Hashdex, os dados levantados pela pesquisa indicam que, independentemente de quem seja eleito presidente, a tendência é que os EUA adotem políticas que estabeleçam clareza regulatória, favorecendo o desenvolvimento global da indústria.
O otimismo de Kerbage baseia-se no fato de que a configuração do Senado e da Câmara dos Deputados será mais decisiva para o futuro das criptomoedas nos EUA do que eventuais atos do poder executivo.
Na mais recente edição do boletim 'Notas do CIO', Kerbage menciona uma reportagem do site Politico que prevê um aumento no número de políticos pró-cripto na Câmara e no Senado a partir de 2025.
Durante participação no webinar, Kerbage afirmou que a nova configuração pró-cripto do Congresso seria benéfica para o avanço de iniciativas bipartidárias para a regulamentação das criptomoedas, a fiscalização da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC), a adoção do Bitcoin (BTC) como um ativo de reserva estratégica e a tributação dos ativos digitais, entre outras matérias.
Disputas decisivas no Congresso
Boring e Kerbage destacaram alguns embates por cadeiras no Senado e na Câmra dos Deputados que colocam frente a frente opositores e adeptos das criptomoedas.
Boring destacou que a disputa pelo Senado no estado de Ohio é aquela que pode ter maiores implicações diretas para a indústria de criptomoedas nos EUA. O candidato democrata e atual ocupante do cargo, Sherrod Brown, é um dos principais opositores das criptomoedas no Congresso.
Como presidente do Comitê Bancário do Senado, Brown tem poder para pautar os projetos de lei sobre os mercados financeiros, privilegiando aqueles que propõem uma regulamentação mais rigorosa sobre a indústria de criptomoedas.
A disputa é ainda mais emblemática porque Bernie Moreno, o oponente republicano de Brown, é um empreendedor da Web3.
A vitória de Moreno abriria espaço para a renovação da liderança no comitê, "favorecendo iniciativas bipartidárias em questões-chave, como a regulamentação de stablecoins, supervisão de exchanges de cripto e a definição sobre se os ativos digitais são valores mobiliários ou commodities", afirmou Kerbage.
Outra disputa por uma vaga no Senado que opõe uma democrata hostil à indústria e um republicano pró-cripto é a de Massachusetts.
Elizabeth Warren, atual ocupante do cargo e líder do "exército anti-cripto", lidera com folga, segundo todas as pesquisas de opinião. No entanto, a oposição de John Deaton, advogado especializado em criptomoedas, evidenciou o radicalismo da senadora democrata em seu combate à indústria.
Com as criptomoedas no centro do debate, Warren baixou o tom em suas críticas, sugerindo que ela pode assumir uma postura mais moderada sobre o tema em um novo mandato.
No Senado, a hegemonia republicana é vista como positiva para a indústria, enquanto na Câmara dos Deputados, onde atualmente a maioria é republicana, mas todos os assentos estão em jogo, as perspectivas permanecem imprevisíveis.
Uma batalha importante para definição do posicionamento dos democratas em relação à agenda cripto na Câmara dos Deputados ocorre na Califórnia. O posto simbólico de representante do Vale do Silício na Câmara opõe dois membros do partido postulantes à cadeira de Anna Eshoo, que está se aposentando da política.
Sam Liccardo defende uma regulamentação mais estrita, incluindo, por exemplo, a fiscalização e a responsabilização de empresas por conteúdos disseminados por seus usuários. Evan Low, por sua vez, tem um histórico de trabalho conjunto com startups e big techs em favor da inovação.
Reação do mercado aos resultados das eleições
Embora os mercados financeiros estejam posicionados para uma vitória de Trump, o resultado oposto teria um efeito negativo de curta duração sobre o preço das criptomoedas, acredita Kerbage.
A continuação da tendência de alta deve atrair novos investidores, aquecendo ainda mais a concorrência no setor de produtos de investimento em criptomoedas, afirmou o executivo da Hashdex.
Com o início da nova legislatura em 2025, o executivo prevê que novos ETFs serão lançados no mercado americano. Kerbage aposta que fundos de índice que rastreiam uma cesta de ativos – e não apenas uma única criptomoeda específica – serão aprovados pela SEC.
Criptomoedas de grande capitalização de mercado, como a Solana, também deverão ganhar seus próprios ETFs.
Recentemente, a Hashdex e a QR Asset lançaram os dois primeiros ETFs de Solana do mundo no mercado brasileiro. Apesar do desempenho positivo do SOL em 2024 e das expectativas do mercado pelo produto, os ETFs captaram apenas R$ 37 milhões nas primeiras semanas após a listagem na B3.