A crise financeira de 2008 causada pelo estouro da bolha do mercado de hipotecas nos Estados Unidos teve efeitos globais catastróficos e duradouros, impactando o Ibovespa até hoje, mostra um estudo da gestora de ativos brasileira Finacap.

Uma análise dos ciclos da bolsa de valores brasileira desde 1967 revela que o principal índice de ações da B3 jamais renovou sua máxima histórica em dólares desde junho de 2008. Trata-se do maior período de estagnação do Ibovespa em toda a sua série histórica: 191 meses, ou seja, mais de 15 anos.

Pouco tempo depois, em 31 de outubro de 2008, Satoshi Nakamoto publicou um documento intitulado "Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System" (Bitcoin: um sistema de dinheiro eletrônico ponto-a-ponto) em um fórum de entusiastas de criptografia. O white paper apresentava o conceito de uma criptomoeda descentralizada que poderia funcionar sem o controle de uma autoridade central.

A rede do Bitcoin foi ativada com a mineração do bloco gênese em 3 de janeiro de 2009, que incluía uma mensagem oculta referente aos efeitos da crise financeira global, simbolizando a intenção de Nakamoto de oferecer uma alternativa ao sistema financeiro tradicional, independente de governos, bancos centrais e instituições centralizadas, e resistente a crises econômicas e à censura.

Efeito colateral da crise financeira, o Bitcoin inicialmente não possuía valor monetário, até que um programador chamado Laszlo Hanyecz fez história ao comprar duas pizzas por 10.000 BTC em 22 de maio de 2010. Na época, o valor de 10.000 BTC era de aproximadamente US$ 41 dólares. Ou seja, 1 BTC valia uma fração de centavo de dólar.

A transação estabeleceu um valor de mercado para o Bitcoin. Até então, a criptomoeda era trocada majoritariamente em fóruns da internet sem um preço definido. Menos de um ano depois, em fevereiro de 2011, o Bitcoin atingiu a paridade com o dólar, confirmando o potencial para tornar-se uma moeda digital viável.

Enquanto o Ibovespa permanecia estagnado, o Bitcoin valorizou 9.900% em pouco mais de dois anos, e em abril de 2013 a criptomoeda pioneira alcançou a marca de US$ 100, dando início a uma escalada de preço movida por uma intensa atividade especulativa. 

Os US$ 1.000 foram alcançados em novembro de 2013, consolidando a crescente aceitação do Bitcoin como um produto de investimento e meio de troca. Em 3 de dezembro, o par BTC/USD atingiu a máxima histórica de US$ 1.121 e nos anos seguintes enfrentou o seu primeiro inverno rigoroso.

Os ciclos do Bitcoin

Assim como o Ibovespa e outras classes de ativos financeiros, a cotação do Bitcoin também possui uma natureza cíclica. No caso do BTC, os ciclos costumam se estruturar em torno do halving. um mecanismo embutido no protocolo do Bitcoin que reduz pela metade as recompensas de bloco que os mineradores recebem por validar transações e adicionar novos blocos à blockchain.

Os ciclos de mercado do Bitcoin demonstram um padrão de aumento gradual seguido por uma alta significativa e, eventualmente, uma correção, e apresentam uma duração média de quatro anos. Apesar da volatilidade e da influência crescente de fatores macroeconômicos, à medida que a capitalização de mercado do Bitcoin torna-se mais significativa, trata-se de um ciclo que até hoje mostrou-se mais previsível do que o da bolsa brasileira.

diversas previsões sobre o valor que o Bitcoin pode alcançar no atual ciclo de alta. Enquanto alguns analistas acreditam que o topo já foi alcançado em 14 de março, quando o par BTC/USD atingiu US$ 73.750, outros acreditam que ele finalmente ultrapassará a marca dos US$ 100.000 e até mesmo chegará a US$ 1 milhão.

Razões para estagnação do Ibovespa

O estudo da Finacap sobre a bolsa brasileira considera que o fim de um ciclo de baixa é caracterizado pela ultrapassagem do topo histórico anterior. Por sua vez, os períodos de estagnação foram medidos pelo espaço de tempo entre o pico vigente e o momento em que ele é rompido.

Desde 1967, houve quatro períodos de estagnação seguidos por forte valorização do Ibovespa, mostra o estudo. Em geral, os ciclos da bolsa brasileira são determinados por uma combinação de fatores externos e de política interna. Mas a condição determinante é o fluxo de investimentos externos direcionados ao mercado brasileiro.

E nesse momento, os investimentos estão sendo direcionados para mercados desenvolvidos, explicou o sócio e gestor da Finacap, Luiz Fernando Araújo, em uma reportagem do NeoFeed:

"Percebemos que a bolsa é mais impactada por drivers externos do que internos, pois dependemos de um fluxo global de investimentos."

Segundo o gestor, o Ibovespa está sendo prejudicado pela valorização do mercado acionário dos Estados Unidos e pelo direcionamento dos investimentos para o setor de tecnologia puxados pelos avanços da inteligência artificial (IA). Prova disso é que o S&P 500, principal índice de ações dos Estados Unidos renovou a sua máxima histórica na manhã desta quarta-feira, 15 de maio, atingindo a marca de 5.283 pontos.

Araújo conclui dizendo que, apesar da impossibilidade de prever os movimentos do mercado com precisão, períodos de estagnação costumam ser seguidos por valorizações significativas, oferecendo oportunidades para investidores atentos:

"A experiência empírica mostra que a maior parte tempo a bolsa anda de lado, mas depois há um salto de valorização. A questão é que não tem como prever quando isso vai acontecer, é preciso esperar e não tentar antecipar o mercado."

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, a rentabilidade das ações dos 4 maiores bancos brasileiros tem ficado abaixo dos juros pagos por fundos de renda fixa nos últimos cinco anos.

Apesar disso, as ações do Itaú são uma das principais apostas da Finacap em uma eventual retomada da alta da B3. Vale, Gerdau, Suzano e Allos são outras ações que poderão oferecer retornos superiores ao Ibovespa, segundo a gestora.