A sustentabilidade dos rendimentos do Bitcoin (BTC) no longo prazo é constantemente questionada por investidores das finanças tradicionais porque o ativo digital não gera receitas para os seus detentores e enfrenta surtos recorrentes de volatilidade. Assim, ações de empresas que pagam dividendos seriam um investimento preferível em detrimento das criptomoedas, pois geram receitas para os acionistas.
No entanto, dados compilados pelo assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor, Michael Viriato, mostram que, enquanto o Bitcoin valorizou mais de 1.000% desde 2019, as ações de três dos quatro maiores bancos brasileiros geraram rendimentos inferiores ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário) nos últimos cinco anos.
Isso ocorreu porque, ao contrário do que diz o senso comum, o pagamento de dividendos aos acionistas necessariame implica na depreciação do preço da ação em um primeiro momento, explica o analista:
"Por exemplo, considere uma ação que tem valor de R$ 30 e declara um dividendo no valor de R$ 1. No dia seguinte, a ação amanhece ao preço de R$ 29 e o acionista tem R$ 1 nas mãos."
O patrimônio do acionista só crescerá caso a ação se valorize posteriormente, recuperando o valor do ajuste do dividendo e acumulando ganhos adicionais. Mas não foi isso que ocorreu com as ações do Bradesco e Santander no período de 2019 a 2023, quando considera-se o retorno dos dividendos e os ganhos de capital.
"Quem investiu em ações do Bradesco e do Santander no final de 2018 possui hoje menos do que o valor aplicado", diz Viriato. As ações do Itaú tiveram retorno positivo no período. Ainda assim os ganhos foram inferiores ao dos juros pagos por aplicações de renda fixa atreladas ao CDI, uma modalidade de investimento menos arriscada e mais conservadora.
O único banco brasileiro cujas ações ofereceram retornos reais, que englobam não apenas o pagamento de dividendos, mas também a variação do preço do papel, as bonificações e as recompras, foi o Banco do Brasil.
O analista afirma que fintechs como o Nubank e a XP estão ganhando cada vez mais participação de mercado com uma política agressiva de redução das margens de lucro para roubar clientes dos bancos tradicionais. Com isso, estão "destruindo o valor dos bancos antigos."
A análise de Viriato limita-se a comparar as ações dos grandes bancos à renda fixa e a outros competidores do setor e não inclui o Bitcoin e as criptomoedas na equação. Possivelmente porque o Bitcoin não se enquadre no perfil de investidores do mercado tradicional ou mesmo porque a comparação seria um tanto desigual.
O Bitcoin registrou ganhos de 1.033% entre 1º de janeiro de 2019 e 31 de dezembro de 2023, saltando de US$ 3.794 para US$ 43.000, de acordo com dados da CoinGecko. No período estendido até esta quinta-feira, 15 de abril, quando o par BTC/USD é negociado em torno de US$ 66.000, a valorização acumulada do BTC é de 1.642%.
Gráfico BTC/USD de janeiro de 2019 a abril de 2024. Fonte: CoinGecko
Muitos críticos contumazes do Bitcoin, como o investidor bilionário e CEO da Berkshire Hathaway Warren Buffet, consideram o criptoativo uma opção de investimento inferior por não gerar valor:
"Se você me dissesse que possui todos os Bitcoins do mundo e me oferecesse-os por US$ 25, eu não aceitaria, o que eu faria com eles? Eu teria que vendê-los de volta para você de uma forma ou de outra. Não vai produzir nada. Apartamentos vão produzir renda e fazendas vão produzir alimentos."
Estes críticos apontam que, ao contrário de ativos tradicionais como ações ou imóveis, o Bitcoin não é um ativo gerador de receitas. Enquanto ações podem distribuir dividendos e imóveis podem gerar renda por meio de aluguéis, o Bitcoin, por sua natureza, não produz fluxos de receitas. Seu valor para o investidor reside unicamente na expectativa de venda futura por um preço mais alto do que aquele pelo qual foi comprado.
Além disso, em segundo lugar, a volatilidade do Bitcoin é frequentemente citada como uma grande vulnerabilidade para um ativo de hedge. Flutuações de preço agressivas e velozes são comuns no histórico do criptoativo, embora venham diminuindo de amplitude ao longo do tempo em função da consolidação de sua capitalização de mercado.
Enquanto os adeptos das criptomoedas veem na volatilidade uma oportunidade para a maximização dos retornos, analistas e investidores do setor financeiro tradicional preferem destacar o risco excessivo desta nova classe de ativos para justificar a desqualificação do Bitcoin como um investimento confiável.
No entanto, a análise de Viriato e o histórico do preço do BTC mostram que num horizonte de tempo relativamente estendido, o Bitcoin gerou maiores rendimentos aos investidores do que a grande maioria dos ativos financeiros tradicionais.
Após enfrentar um forte choque de volatilidade na semana passada devido ao aumento das tensões no Oriente Médio, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil, o preço do Bitcoin está em recuperação e pode retornar ao patamar de US$ 70.000 até o halving, que deve ocorrer no próximo sábado, 20 de abril.