O senador Romário Faria (PL-RJ), relator da comissão parlamentar de inquérito (CPI) que investiga a manipulação de jogos e de apostas esportivas, bets, pediu esta semana o indiciamento dos empresários William Rogatto e Thiago Chambó, além do tio do jogador Lucas Paquetá, Bruno Tolentino, por crimes de manipulação de resultados.
No relatório, com data ainda indefinida para apreciação, Romário afirma que a manipulação de resultados envolve os mais variados atores do esporte. A comissão investigou supostas fraudes em jogos para obtenção de prêmios das bets, de acordo com informações da Agência Senado.
“Atletas de alto rendimento com contratos vultosos se tornaram alvo de investigações relacionadas à simulação de situações de jogo para receberem ‘cartões amarelos’ em benefício próprio e de terceiros. Dirigentes de clubes ‘alugaram’ times para servirem a criminosos para a manipulação de resultados. Ex-atletas aliciaram jovens para participar de esquemas criminosos. Um criminoso confesso se vangloriou da quantidade de times que rebaixou para obter ganhos financeiros”, enfatizou o Baixinho.
Para o senador, a oferta de apostas para eventos específicos (número de gols, número de cartões, vitória/derrota no primeiro tempo etc.) reduz o custo de oportunidade para o jogador, tornando a corrupção mais atrativa.
“Só com regulação seria possível controlar esses tipos de apostas”, opinou.
Romário recomenda a limitação dos tipos de apostas disponíveis com a eliminação da “possibilidade de apostas em eventos isolados que dependam de um atleta, como recebimento de cartões amarelos e vermelhos e cometimento de pênaltis”.
De acordo com as investigações em andamento, o jogador Lucas Paquetá cavaria faltas para provocar cartões amarelos e, assim, vencer apostas feitas em plataformas online, beneficiando apostadores. Acusado de tentar manipular o mercado de apostas pela Associação de Futebol da Inglaterra, o meio-campista negou qualquer irregularidade.
“Nego as acusações na íntegra e lutarei com todas as minhas forças para limpar meu nome”, escreveu o jogador em uma rede social quando as acusações foram reveladas, em maio de 2024. Bruno Tolentino foi convocado para depor na CPI das Apostas, em outubro de 2024, mas permaneceu em silêncio e não respondeu aos questionamentos dos parlamentares.
Um dos investigados, o ex-jogador e empresário Bruno de Moura, confirmou que participava de um esquema de manipulação de jogos. Ele não foi indiciado pela CPI devido a um acordo de não persecução penal feito com o Ministério Público (MP).
“Bruno informou que a maior quantia que recebeu foi de aproximadamente R$ 720 mil, após uma operação que envolvia a manipulação de resultados”, diz o relatório de Romário.
Por outro lado, Bruno negou ser a liderança da organização criminosa, conforme aponta a investigação da Operação Penalidade Máxima, da Polícia Federal (PF).
Os arranjos envolviam expulsão ou cartões provocados intencionalmente.
“Em relação à tomada de cartões amarelos. O pagamento era de R$ 150 mil para cada jogador (Série B de 2022), do qual se descontava a comissão dos intermediadores; apostas envolvendo expulsão ou pênaltis se esperava retorno entre um e dois milhões de reais”, completa o documento da CPI.
Se aprovado pelo conjunto da Comissão, o texto será encaminhado ao Ministério Público Federal, ao Judiciário, à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a órgãos do Executivo, como os ministérios da Fazenda e do Esporte, para que as entidades envolvidas com o esporte e com os jogos online adotem medidas contra a prática da manipulação de resultados.
3.000% no “jogo do tigrinho”
Por sua vez, Dayanne Bezerra, irmã da advogada e influencer Deolane Bezerra, convocada pela CPI das Bets no final do ano passado, usou o instagram esta semana para promover o Fortune Tiger, o “jogo do tigrinho”. Nas imagens, a influencer aparece supostamente transformando R$ 8 em RS$ 240 (~3.000%) em um minuto, através de uma aposta no caça-níquel online. De acordo com o Metrópoles, ela ainda assegurou a legalidade da plataforma BBB Bet, que não utiliza a terminação “bet.br”, conforme prevê a regulamentação do Ministério da Fazenda.
Esse mês, o governo também anunciou a criação de uma lista de pessoas proibidas de apostarem em bets, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.