O metaverso não morreu. Embora o termo não tenha sido usado por Mark Zuckerberg, fundador e CEO da Meta, durante a apresentação do protótipo dos "smart glasses" Orion, o mais novo produto da empresa tem a ambição de se tornar o dispositivo fundamental para futuras interações entre o mundo real e ambientes virtuais.
Descritos por Zuckerberg como uma "máquina do tempo", os óculos inteligentes da Meta integram inteligência artificial (IA) e realidade aumentada (AR) para eliminar a necessidade de interações com telas em ambientes digitais.
Zuckerberg afirmou que o novo dispositivo poderá tornar obsoletos computadores e smartphones, como o iPhone. Construído com projetores Micro LED que projetam imagens diretamente sobre as lentes de carbeto de silício, o Orion oferece um campo de visão de 70 graus, permitindo a sobreposição de informações digitais no mundo real.
As funcionalidades e aplicativos do Orion são controlados por uma combinação de rastreamento ocular, comandos de voz e uma "interface neural" que interpreta sinais associados aos gestos do usuário.
Zuckerberg afirmou em uma entrevista à The Verge que os novos "smart glasses" da Meta inicialmente terão duas funções principais: a interação com hologramas digitais sobrepostos ao mundo físico através de aplicações baseadas em realidade aumentada e a interação com sistemas de IA:
"Eu pensava que os hologramas seriam possíveis antes da IA, mas foi uma reviravolta interessante que a IA tenha evoluído e se popularizado antes que os hologramas se tornassem acessíveis a um preço razoável.”
IA vai redefinir o metaverso
Segundo as poucas pessoas que tiveram a oportunidade de testar o Orion durante a apresentação do protótipo na semana passada, o potencial disruptivo do novo produto da Meta reside em sua capacidade de revolucionar as formas com a IA pode ser usada no cotidiano dos usuários.
"O principal recurso do Orion não será jogar pingue-pongue em realidade aumentada, mas a possibilidade de usar a IA multimodal para investigar, interagir e desfrutar o mundo ao seu redor sem ser sugado por uma tela", afirmou Mat Honan em um artigo publicado na MIT Technology Review.
"Os sistemas de IA multimodal que podem processar fala, vídeo, imagens e texto, combinados com óculos que permitem ver o que você vê e ouvir o que você ouve, revolucionarão a maneira como interagimos com o mundo tanto quanto o smartphone fez", acrescentou Honan.
Jesse Huang, CEO da Nvidia, empresa líder na produção de semicondutores para IA, também se disse impressionado pelos recursos do Orion em comparação com outros produtos disponíveis no mercado, como os headsets Apple Vision Pro e o Quest da própria Meta.
"O rastreamento da cabeça é bom, o brilho é bom, o contraste de cores é bom e o campo de visão é excelente", afirmou Huang. A Meta optou por utilizar lentes de carbeto de silício no Orion por sua durabilidade, leveza e alto índice de refração, permitindo que a luz projetada preencha a maior parte do campo de visão do usuário.
Alex Heath afirmou em um artigo na The Verge que o Orion utiliza os recursos de IA generativa presentes nos "smart glasses" Ray-Ban da Meta e adiciona elementos visuais por meio de AR:
"Durante um teste na semana passada, usei o Meta AI no Orion para identificar ingredientes dispostos em uma mesa para criar a receita de uma vitamina. Em poucos segundos, o dispositivo identificou corretamente os ingredientes e gerou uma receita em uma janela flutuante acima deles."
Heath também disputou uma partida de pingue-pongue em AR com o próprio Zuckerberg, na qual os movimentos de ambos responderam perfeitamente às suas reações mecânicas e realizou a primeira chamada de vídeo externa aos escritórios da Meta utilizando o Orion:
"O meu interlocutor não conseguia me ver (a Meta planeja eventualmente mostrar um avatar que rastreia os movimentos faciais do usuário do Orion), mas eu podia vê-lo e ouvi-lo bem na janela 2D que flutuava à minha frente."
Um bate-papo entre dois usuários do Orion no futuro permitirá a interação com avatares de corpo inteiro dos seus interlocutores – não necessariamente uma réplica exata e realista da pessoa, mas o personagem que cada usuário desejar assumir no ambiente virtual – ou metaverso.
Metaverso está estagnado na Web3
A apresentação do Orion sugere que o metaverso enquanto tecnologia parece ter sido superado – ou no mínimo incorporado – pela IA. Embora possa ser considerado o avanço mais concreto em direção à promessa do metaverso, o lançamento do Orion não teve qualquer impacto no mercado de criptomoedas.
Ao contrário do que ocorreu em 2021, quando Zuckerberg anunciou a mudança do nome de sua empresa de Facebook para Meta, tokens vinculados ao metaverso não dispararam. Enquanto avança no ambiente corporativo, o desenvolvimento do metaverso está estagnado na Web3.
Projetos de destaque como Decentraland (MANA), The Sandbox (SAND) e Apecoin (APE), vinculado à coleção de NFTs Bored Ape Yacht Club, têm seus tokens negociados em torno de 97% abaixo de suas máximas históricas, de acordo com dados da CoinGecko. Novos projetos, como o Mocaverse (MOCA), da Animoca Brands, falharam em ganhar tração.
Enquanto isso, o metaverso segue a rota delineada por Neal Stephenson, que cunhou o termo no romance de ficção científica 'Snow Crash', publicado em 1992: um espaço dominado por grandes corporações onde a vida real e as interações digitais se tornam indistinguíveis.
Segundo Stephenson e Tim Sweeney, CEO da Epic Games, a especulação e as fraudes impedem a ampla adoção das criptomoedas no metaverso, conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil.