O anúncio de que o Facebook passaria a se chamar Meta em um movimento cujo objetivo é liderar a construção do metaverso teve um impacto imediato sobre a indústria de criptomoedas. Por um lado, foi extremamente positivo para as plataformas descentralizadas que vinham trabalhando no desenvolvimento de seus projetos e observaram um aumento de interesse repentino por parte do público. Em compensação, gerou preocupações de que as grandes corporações possam impor seu domínio sobre estes novos ambientes virtuais de socialização.

O futuro visualizado pelo criador do termo, cunhado pela primeira vez no romance de ficção científica Snow Crash, é muito mais próximo da segunda opção. O metaverso segundo Neal Stephenson é um ambiente dominado por grandes corporações e dividido em castas, em que avatares de alta ou baixa definição entregam a condição social de seus donos.

Neste caso, para que a vida não imite a arte, há uma batalha a ser travada. E a comunidade cripto, com seus princípios de descentralização, interoperabilidade e distribuição de valor saiu na frente, estabelcendo uma narrativa baseada no sucesso dos jogos "play-to-earn".

Na terça-feira, em um painel sobre games em blockchain na conferência NFT BZL, que está sendo realizada em Miami, Jeff Zirlin, cofundador e Líder de Crescimento da empresa responsável pelo maior êxito do setor até agora, o jogo Axie Infinity, foi bem claro ao questionar os propósitos do Facebook para o metaverso:

"Penso que estamos entrando em uma batalha pelo futuro da Internet, mas penso também que temos muitas tendências do nosso lado. Estamos começando a observar que as comunidades estabelecidas na Internet também têm um poder incrível no mundo físico. ”

Apesar de manifestações recentes do Facebook de que pretende abrir mão do controle total sobre o metaverso para ajudar a contruí-lo “responsavelmente”, sem maiores explicações sobre de que forma isso se dará de fato, a comunidade cripto não parece confiar nas intenções da gigante das redes sociais.

Yat Siu, fundador e presidente executivo da Animoca Brands, uma empresa que investe em diversos projetos de metaverso descentralizados, declarou ao site Decrypt que vê o Facebook e a empresa chinesa de tecnologia Tencent como uma “ameaça” para um metaverso livre e aberto.

Durante a conferência, Zirlin chegou até a fazer piada, dizendo que a Meta copiou o logotipo do Axie Infinity, mas em seguida retomou o tema com seriedade para dizer que os desafios da comunidade cripto vão se tornar cada vez maiores, pois inimigos poderosos como o Facebook estão tendo seus valores questionados:

"Eles vão tentar esmagar essa coisa linda que construímos porque isso os ameaça - isso ameaça seu modelo de negócios, seu modo de vida e sua própria filosofia. Então, veremos essa batalha entre as comunidades estabelecidas na Internet e as grandes corporações que estão tentando simplesmente comprar a alma da Internet.”

Apesar de tudo o que está em jogo, Zirlin apresentou uma visão otimista sobre o futuro e vislumbrou alguns desdobramentos positivos que o metaverso pode vir a ter sobre a vida real. Segundo ele, a comunidade formada por jogadores do Axie Infinity pode até mesmo se transformar em uma nação independente formada exclusivamente por entusiastas do jogo play-to-earn:

"Eu acredito que faremos a transição com sucesso de um estado-nação digital em expansão para realmente ter uma pátria onde todos os proprietários de Axie são bem-vindos. Esperançosamente, podemos fazer de Miami uma de nossas cidade Axie em todo o mundo. Mas acho que, a longo prazo, poderemos ter nossa própria pátria,  reconhecida pela ONU”.

O Axie Infinity não é apenas o jogo baseado em blockchain de maior sucesso até hoje, mas também a coleção de NFTs que tem maior volume de negociação atualmente. O jogo play-to-earn conta com cerca de 2,8 milhões de usuários ativos diários e já gerou mais de US$ 3,65 bilhões em transações de NFTs, de acordo com dados do Dapp Radar.

LEIA MAIS