Apesar de seu envolvimento no mercado de criptoativos no Brasil, o Banco Itaú declarou ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica, CADE, que nenhuma de suas empresas têm qualquer relação com Bitcoin (BTC) ou criptomoedas e que sua participação nos ETFs de criptoativos é meramente como distribuidor de cotas.

"Ainda com relação aos fundos ETFs acima mencionados, cuja gestão e administração são realizadas por empresas não pertencentes ao Conglomerado Itaú Unibanco, o Itaú Unibanco faz apenas a distribuição de suas quotas, não havendo intermediação, corretagem ou qualquer tipo de transação envolvendo criptoativos de forma direta", disse a instituição em documento entregue ao CADE.

Sobre as diversas propagandas que incentivam o investimento em Bitcoin mediante a compra dos ETFs e que o banco vem publicando em redes sociais e em malas diretas a seus clientes, o Itaú afirmou que está apenas divulgando informações sobre tendências.

"Assim, atento ao que está acontecendo não só no Brasil, mas no mundo todo, o Itaú Unibanco tem se utilizado das mídias sociais para trazer aos seus clientes maiores informações sobre tendências, novos produtos e serviços, inclusive aqueles que possam ter ligação com novas tecnologias, como Bitcoin e criptoativos em geral", afirmou.

Vamos continuar fechando contas de exchanges

Ao CADE o banco afirmou que vai continuar fechando contas de empresas do ecossistema de Bitcoin e criptomoedas devido a falta de clareza regulatória do mercado e a possibilidade do uso de criptoativos em processos de lavagem de dinheiro.

"O Itaú Unibanco, considerando ver-se impossibilitado de cumprir integral e adequadamente as obrigações legais e regulatórias sobre PLD/CFT no contexto da oferta de serviços de conta corrente às corretoras de criptomoedas, por conta da insuficiência de informações ou controles realizados por estas, conforme já explicado anteriormente neste Inquérito Administrativo, continua a não atuar nessa atividade", disse.

As respostas do Itaú também miram a ABCB, Associação Brasileira de Criptoeconomia e Blockchain, que encaminhou ao CADE documentos com a finalidade de mostrar que o banco, ao encerrar contas de empresas de criptomoedas, atua evitando impedir o crescimento da concorrência.

"A ABCB, com sua manifestação, ora plenamente rebatida, tenta levar este D. CADE a erro, querendo fazer com que a autoridade antitruste nacional acredite haver certa contradição entre a prática e a posição já defendida nos autos pelo Itaú Unibanco", completou

Itaú e criptomoedas

O envolvimento do Itaú com as criptomoedas pode não ser apenas o de um "distribuidor de cotas" tendo em visto que além dos ETFs o banco tem outros envolvimentos com o mercado de criptoativos.

Como distribuidor de cotas a instituição ajudou no lançamento do HASH11, ETF de criptomoedas da Hashdex como um dos coordenadores da oferta constando inclusive no documento arquivado pela empresa na Comissão de Valore Mobiliários, CVM.

"Fundo é constituído sob a forma de condomínio aberto e, portanto, as cotas do Fundo serão objeto de distribuição pública (a “Oferta”), nos termos da Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de 1976, conforme alterada, e da Instrução CVM 359, sob regime de melhores esforços de colocação, pelo (...) Banco Itaú BBA S.A. instituição integrante do sistema de distribuição de valores mobiliários, com sede na Cidade de São Paulo, Estado de São Paulo, na Avenida Brigadeiro Faria Lima, 3.500, 1º, 2º, 3º (parte), 4º e 5º andares, CEP 04538-132, inscrita no CNPJ sob o nº 17.298.092/0001-31", trecho destaca do primeiro ETF de criptomoedas do Brasil aprovado pela Comissão de Valores Mobiliários, CVM.

O Itaú também é o coordenador de ofertas do demais ETFs da Hashdex como o ETHE11, ETF 100% em Ethereum e o BITH11, ETF 100% em Bitcoin, ambos da gestora Hashdex.

Além disso, ao contrário do que afirmou o banco ao CADE, o Itaú anunciou dois produtos de investimento, totalmente criados pelo banco, e que oferecem exposição ao mercado de criptoativos sendo um deles um fundo de empresas de criptomoedas e blockchain e o outro um Certificado de Operações Estruturadas (COE).

O COE é baseado nas ações da Coinbase, exchange de Bitcoin e criptomoedas e, portanto, segundo documento do banco ao CADE, uma das empresas que o Itaú considera 'non grata' para manter conta corrente aberta no Brasil.

O fundo baseado em empresas baseadas em blockchain é chamado de Itaú Index Blockchain Ações DX IE e tem aplicações em 50 ações de empresas ligadas à tecnologia blockchain em 26 países do mundo.

Entre as aplicações, há destaques do criptomercado como a MicroStrategy, uma das maiores investidoras de Bitcoin do mundo, que oferece serviços de tecnologia da informação em nuvem e em blockchain, ações da Coinbase, maior exchange dos EUA, e até protocolos de criptomoedas voltados a finanças descentralizadas, conhecidos como DeFi.

Já o COE lançado pelo Itaú para investir na exchange permite que o investidor ganhe na valorização das ações da exchange de Bitcoin mas mantenha o capital protegido em caso de desvalorização.

Neste último caso, ele recebe de volta o valor investido - ou na pior das hipóteses as perdas ficam limitadas à atualização monetária e rendimentos com outras aplicações.

Itaú não é tão avesso as criptomoedas

Segundo declarou Cláudio Sanches, diretor de Produtos de Investimentos do Itaú Unibanco, o banco, ao contrário das declarações de que não está interessado em criptomoedas, disse que o Itaú também mira no mercado de tokenização de ativos reais, como já faz a Mercado Bitcoin no Brasil. 

“Ativos tokenizados são algo que, isso sim, cada vez mais vai fazer sentido distribuir para nossos clientes. Isso inclusive deve ter uma velocidade maior [no Itaú] do que as criptomoedas”

Sanches também declarou que os novos produtos de investimento organizados pelo Itaú e voltado ao mercado de criptomoedas miram justamente as oscilações do mercado de criptoativos.

“Nesse novo produto, você não vai pegar a alta nas cotações das criptomoedas, mas vai capturar a valorização das empresas que estejam trabalhando com coisas relacionadas. [O novo fundo] deve sair em breve, estamos trabalhando nisso atualmente”

O executivo inclusive já declarou que o mercado de criptomoedas amadureceu e se tornou mais seguro para investidores e que o Itaú não é somente um distribuidor de cotas, mas fez parte da oferta dos ETFs da Hashdex.

“Hoje há instrumentos mais seguros. A gente (Itaú) entendeu que fazia sentido trabalhar com a Hashdex, por exemplo, porque eles têm um processo sólido de custódia que faz com que sejam muito pequenos os riscos comuns dos ativos cripto, que são o dinheiro desaparecer ou as chaves se perderem. Talvez a gente avance devagar, mas é um segmento que vai crescer muito.

Existiu uma demanda grande, com muitos clientes pedindo algum ativo de criptomoeda. Aproveitamos que o Itaú BBA faz parte da oferta e tomamos a decisão de disponibilizar para nossos clientes. Não é uma recomendação ativa, porque é um ativo bastante difícil de entender e três vezes mais arriscado do que a bolsa. Mas está na nossa prateleira, e temos comunicado os clientes sobre o produto", afirmou.

Confira a íntegra do documento encaminhado ao CADE pelo Itaú

LEIA MAIS