Resumo da notícia:

  • O Mercado Bitcoin (MB) realizou uma operação de tokenização de debêntures para permitir que seus clientes comprassem ações da OranjeBTC antes de sua listagem oficial na B3.

  • O token (ORANJE1) representava o direito a uma debênture que, após a listagem da empresa, foi automaticamente convertida em ações.

  • OranjeBTC é a maior ‘Bitcoin Treasury Company’ da América Latina, com 3.701 BTC em caixa, equivalentes a US$ 413,6 milhões.

Em uma iniciativa inédita no mercado de capitais brasileiro, o Mercado Bitcoin (MB) utilizou a tokenização de debêntures para antecipar o acesso de investidores qualificados à oferta inicial de ações (IPO) da OranjeBTC (OBTC3), a maior ‘Bitcoin Treasury Company’ da América Latina. A oferta foi estruturada exclusivamente para clientes selecionados do MB, conforme explicou Felipe Whitaker, diretor de Wealth Management do MB, em entrevista exclusiva ao Cointelegraph Brasil:

“Os investidores, ao adquirirem o token ORANJE1, estavam comprando direitos sobre essas debêntures, que seriam convertidas em ações da companhia durante o processo de listagem em Bolsa.”

Segundo o executivo, o processo foi desenhado para facilitar o acesso desses investidores ao IPO. Em 7 de outubro, quando a OranjeBTC foi listada na B3, os investidores que compraram os tokens automaticamente se tornaram acionistas da empresa, explicou Whitaker:

“A condição de conversão foi ativada com a efetivação da incorporação da OranjeBTC por uma empresa de capital aberto, a Intergraus, que havia sido adquirida para essa finalidade, e os ‘debenturistas’ passaram a deter ações na companhia. O lastro do token deixou de ser a debênture e passou a ser as ações da empresa na proporção contratada, transformando o investimento inicial em participação na OranjeBTC, que posteriormente teve seu capital listado na Bolsa.”

O sucesso da operação abre caminho para novas colaborações entre as empresas. Whitaker citou planos de desenvolver estratégias visando a expansão da liquidez da OBTC3 e a estruturação de novas rodadas de financiamento para acumulação de Bitcoin (BTC).

A experiência no IPO da OranjeBTC demonstra que a tokenização é uma alternativa viável para o financiamento de empresas de tesouraria corporativa de ativos digitais (DATs). Whitaker revelou que o MB tem sido procurado por outras empresas do setor que buscam se estabelecer no mercado brasileiro e acessar os investidores locais.

O desenvolvimento de instrumentos híbridos, que combinam recursos das finanças tradicionais com a nova economia digital, faz parte do compromisso do MB de fomentar o ecossistema brasileiro, acrescentou o executivo:

“Para nós, do MB, essa procura demonstra a amplitude de nossa base e reafirma nossa liderança, expertise e solidez para impulsionar iniciativas significativas no universo dos ativos digitais.”

Mercado Bitcoin é um dos investidores institucionais da OranjeBTC

Whitaker confirmou que o MB é um dos investidores institucionais da OranjeBTC. Segundo o executivo, a ‘Bitcoin Treasury Company’ está “alinhada com as tendências emergentes do mercado financeiro e as inovações do ecossistema cripto, e a sua listagem na bolsa brasileira representa um passo decisivo na integração das finanças tradicionais com a nova economia digital.”

O apoio do MB à OranjeBTC também é uma manifestação de confiança no papel do Bitcoin como um ativo de reserva de valor. Whitaker também ressalta a missão pedagógica da OranjeBTC, que pretende utilizar a infraestrutura do Integraus para investir em conteúdo educacional, atraindo novos investidores para o mercado de criptoativos.

A queda no preço das ações das empresas de tesouraria de ativos digitais e a consequente compressão do prêmio relativo ao valor patrimonial líquido (mNAV) dos Bitcoins mantidos em reserva não é motivo de preocupação, afirmou o executivo do MB.

A OBTC3, por exemplo, caiu 29,5% em sua primeira semana de negociação na B3. Assim como na estratégia de Michael Saylor com a Strategy, a OranjeBTC mantém o foco no longo prazo. Apesar das altas taxas de juros praticadas no Brasil, que encarecem o financiamento de operações para manter constante a acumulação de Bitcoin sem diluir a participação dos acionistas, Whitaker acredita que as ‘Bitcoin Treasury Companies’ podem ser bem sucedidas no país:

“O Bitcoin, sendo um ativo global, permite que a OranjeBTC o use como lastro e acesse mercados de capitais ao redor do mundo e atraia investidores além das fronteiras brasileiras.”

A OranjeBTC mostrou capacidade de superar eventuais limitações do mercado local ao “estruturar um mecanismo de dívida com prazo de 5 anos e sem juros, o que demonstra uma capacidade ímpar e uma inovação financeira significativa,” argumentou o executivo.

Além disso, Whitaker destacou que a valorização média de 75% do Bitcoin em reais nos últimos cinco permite que a OranjeBTC tenha sucesso mesmo em um cenário de taxas de juros elevadas:

“A performance expressiva do Bitcoin oferece uma margem considerável para a OranjeBTC operar e oferecer produtos de crédito atraentes.”

Segundo dados da Bitcoin Treasury, a OranjeBTC possui 3.701 BTC, equivalentes a US$ 413,6 milhões. Adquiridos a um preço médio de US$ 105.420 a unidade, o tesouro de Bitcoin da empresa acumula ganhos de 6%.

OBTC3 caiu 39% desde a estreia na B3

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Valor total, custo médio e lucro das participações em Bitcoin da OranjeBTC. Fonte: Bitcoin Treasuries

Desde que foi listada na B3 há duas semanas, a OBTC3 acumula perdas de 39%. As ações abriram cotadas a R$ 24 no IPO e atualmente são negociadas por R$ 15,00, de acordo com dados da TradingView.

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Gráfico OBTC/BRL desde 7 de outubro. Fonte: TradingView

Conforme noticiado pelo Cointelegraph Brasil, a listagem da OBTC3 coincidiu com o maior evento de liquidação da história do mercado de criptomoedas. Mais de US$ 19 bilhões foram liquidados em posições compradas no mercado de derivativos após uma postagem do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçando a imposição de tarifas comerciais de 100% sobre produtos chineses.