Resumo da notícia:
As ações da OranjeBTC (OBTC3) fecharam sua primeira semana de negociação na B3 com uma forte queda de 29,5%.
A estreia da empresa coincidiu com um evento de "crash" no mercado de criptomoedas, que liquidou mais de US$ 19 bilhões e pressionou negativamente o preço do Bitcoin.
Analistas opinam se a queda da OBTC3 representa oportunidade ou evidencia riscos do modelo de ‘Bitcoin Treasury Companies.’
A primeira semana de negociação da OranjeBTC (OBTC3), maior Bitcoin Treasury Company da América Latina, encerrou na terça-feira, 14 de outubro, com as ações da empresa registrando uma queda de 29,5%.
Cotada a R$ 24 no lançamento em 7 de outubro, a OBTC3 fechou o pregão valendo R$ 16,90, com uma capitalização de mercado de R$ 5,37 bilhões, segundo dados da TradingView.
Apesar da queda no preço da ação, os números da oferta inicial (IPO) apontam para um resultado inicial positivo. Em um comunicado aos investidores, a empresa informou a venda de 296.600 ações por um preço médio de R$ 25,16, resultando na captação líquida de R$ 7,4 bilhões.
Ao longo da semana passada, a empresa adquiriu 16 BTC adicionais para as suas reservas, que atingiram 3.691 BTC, equivalentes a aproximadamente R$ 2,2 bilhões. O preço médio de aquisição do Bitcoin acumulado pela OranjeBTC é de US$ 105.410, com um lucro não realizado de 5%, de acordo com dados do Bitcoin Treasuries.
A empresa é a maior ‘Bitcoin Treasury Company’ da América Latina e a 26ª maior do mundo.
3 fatores explicam a queda da OranjeBTC
A forte queda da OBTC3 em sua semana de estreia não pode ser atribuída a um único evento, mas sim a uma confluência de três forças principais, segundo análise exclusiva da consultoria de investimentos Altside para o Cointelegraph Brasil: o maior evento de desalavancagem da história do mercado de criptomoedas, no qual mais de US$ 19 bilhões foram liquidados em mercados de derivativos, uma avaliação inicial "esticada" e a dinâmica fundamental do próprio modelo de negócio das Bitcoin Treasury Companies.
Os analistas da Altside afirmaam que as condições do mercado na semana do lançamento fez com que as ‘Bitcoin Treasury Companies’ como a OranjeBTC sofressem as consequências de forma desproporcional.
O propósito fundamental das empresas de tesouraria corporativa é aumentar a quantidade de Bitcoin por ação ao longo do tempo, utilizando instrumentos financeiros para captar recursos. Ao vender ações com um prêmio — ou seja, por um múltiplo superior ao Valor Patrimonial Líquido (NAV) de suas reservas em Bitcoin, elas arrecadam capital para comprar mais BTC, elevando assim a quantidade de Bitcoin por ação.
Trata-se de um modelo de negócios baseado em uma aposta com alavancagem implícita no Bitcoin. Isso significa que, em momentos de alta, seus ganhos podem ser amplificados, mas em quedas, suas perdas também tendem a ser mais severas. Além disso, a queda generalizada comprimiu o prêmio (mNAV) que o mercado estava disposto a pagar, devido a um movimento de maior aversão ao risco.
O fator decisivo para a queda da OBTC3 foi justamente sua precificação no ICO. Segundo a Altside, o otimismo inicial fez com que o mercado pagasse um "ágio" significativo pela ação:
“A queda da OBTC3, portanto, foi em grande parte um movimento de correção e normalização. O mercado está realizando a descoberta de preço, ajustando a cotação para mais perto de sua paridade em BTC, eliminando o ágio gerado pelo hype do lançamento.”
Para a Altside, o investidor de longo prazo deve focar em uma métrica diferente do simples prêmio de mercado (mNAV):
"Enquanto o mNAV é uma fotografia estática do humor do mercado, o BTC Yield é o filme que revela a capacidade de execução da empresa."
O BTC Yield mede a variação de Bitcoin por ação ao longo do tempo e, segundo a análise, é o verdadeiro termômetro para avaliar se a gestão está cumprindo a promessa de acumular valor para o acionista. Uma desaceleração no ritmo de acumulação de moedas invalida a tese de investimento, independentemente do preço de entrada da ação.
Embora não haja dados oficiais disponíveis sobre o mNAV da OranjeBTC, a empresa opera acima do limite de 1. Ou seja, a OBTC3 está sendo negociada com um prêmio em relação ao valor dos Bitcoins que mantém em custódia.
O economista Fernando Ulrich, que é investidor e faz parte do conselho da OranjeBTC, esclareceu em um vídeo no Youtube que o mNAV da empresa oscila entre 1,3 e 1,4, dependendo das oscilações na cotação do Bitcoin e da OBTC3. A empresa planeja lançar um dashboard para facilitar o acompanhamento público dessas métricas.
Queda representa oportunidade de entrada ou risco amplificado?
A forte queda na primeira semana levanta questionamentos sobre o sucesso da OranjeBTC. De um lado, aqueles que estão diretamente envolvidos com a empresa defendem que o investimento baseia-se em uma tese de longo prazo. De outro, analistas enfatizam a amplificação dos riscos do modelo.
Ulrich defende que a OBTC3 é uma alternativa complementar ao investimento direto em Bitcoin, ideal para quem busca exposição ao ativo por vias reguladas e com maior clareza tributária. Na mesma linha, o Mercado Bitcoin (MB), um dos investidores institucionais brasileiros do projeto, enxerga o movimento como uma integração natural da nova economia digital às finanças tradicionais.
“O investimento nesta jornada reflete o compromisso do MB em atuar como um elo de confiança entre o público e o universo cripto, oferecendo educação e estruturação de instrumentos que facilitem a entrada de novos investidores", afirmou Felipe Whitaker, diretor de Wealth Management do MB, em depoimento ao Cointelegraph Brasil.
O Itaú BBA, que presta assessoria financeira à OranjeBTC, publicou um relatório sobre a empresa que condiciona a valorização da OBTC3 a duas premissas fundamentais: o aumento do preço do ativo ao longo do tempo e a capacidade dos gestores de acumular mais moedas por ação através de operações no mercado de capitais.
Segundo o banco, o potencial de alta da ação reside na exposição alavancada, que pode amplificar os ganhos em relação à valorização do próprio Bitcoin.
Por outro lado, o mesmo relatório do Itaú adverte sobre os riscos do modelo: a dificuldade de acesso a capital em momentos desfavoráveis, a volatilidade amplificada pela alavancagem e o risco de o mercado deixar de pagar um prêmio pela ação em caso de enfraquecimento global da tese.
A Nord Investimentos adota uma postura mais cética. Em análise assinada por Luiz Pedro Andrade de Oliveira, a casa enfatiza os riscos da exposição ao criptoativo por meio de ‘Bitcoin Treasury Companies’ e não recomenda o investimento na ação:
“A estratégia incorpora riscos adicionais à própria posição em BTC — como os riscos operacionais da companhia e de sua tesouraria, especialmente no caso de emissões de debêntures ou títulos atrelados ao criptoativo, cuja performance está diretamente vinculada ao preço do Bitcoin. Soma-se a isso os riscos inerentes à atividade empresarial, como eventuais prejuízos reputacionais e deficiências operacionais.”
Segundo o analista, o investimento direto em Bitcoin via exchanges ou ETFs negociados na B3 seria uma alternativa mais segura.
Conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil, os ETFs de Bitcoin disponíveis na B3 valorizaram em média 93% nos últimos 12 meses.