Resumo da notícia:

  • Ilha Sotoshi, ao leste da Austrália, é apresentada com a narrativa de “ilha da fantasia”, onde “tudo é possível”, e atrai mais de 50 mil investidores.

  • Governança descentralizada esbarra em falta de infraestrutura básica do local.

  • Visto dourado em NFT custa 120 mil euros e construções não acontecem, apesar do apoio oficial do governo.

  • Projeto encerra suas atividades por falta de “desenvolvimento significativo na ilha nos últimos três anos”.

Mais de 50 mil investidores e um sonho: tornar-se uma “nação blockchain”, livre de impostos e baseada em criptomoedas. Oito anos depois da proposta, a Ilha de Satoshi, no arquipélago de Vanuatu, a leste da Austrália, está vazia e corre o risco de ser engolida pelo mar.

A criptoutopia nasceu em 2017 e pretendia transformar a Ilha Lataro, nome original do local, próximo das Ilhas Salomão, em uma nação livre de impostos. A “ilha da fantasia”, onde “tudo parecia ser possível”, também sofre com problemas de infraestrutura que não foram sanados pela governança descentralizada, de acordo com o que observou uma reportagem da jornalista Débora Slatnisky, do La Nacion.

Apesar do apoio massivo de investidores de criptomoedas, segundo reportagem da Fortune da época, a Ilha de Satoshi exigiu um esforço colossal, já que o local não possui infraestrutura básica, como eletricidade e conectividade com a internet.

Ao The Guardian, o incorporador imobiliário britânico Anthony Welch, um dos principais entusiastas do projeto, chegou a declarar que a ideia era construir uma comunidade e não um negócio. Segundo a reportagem, Welch havia arrendado a ilha do governo de Vanuatu por 75 anos e já havia tentado vendê-la alguns anos antes por US$ 12 milhões.

O projeto, cujo nome homenageia Satoshi Nakamoto, pseudônimo criador do Bitcoin (BTC), contou com apoio oficial do governo de Vanuatu e incluía a venda de um “Visto Dourado”, em formato de token não fungível (NTF), por 120 mil euros aos interessados em obter cidadania Ilha de Satoshi. Essa modalidade de criptoativo também seria utilizada para concessão de títulos de propriedade, caso alguém decidisse construir na Ilha de Satoshi. O que acabou não acontecendo, levando o projeto a ser oficialmente encerrado, em julho deste ano.

Com efeito imediato, todas as negociações (compra ou venda) de ativos digitais da Ilha Satoshi, incluindo as Escrituras NFT, devem cessar. Informamos que o contrato de licença entre a Satoshi Island DAO LLC e os detentores da ilha privada em Vanuatu foi suspenso devido ao descumprimento de termos essenciais do contrato de arrendamento do terreno, disse o comunicado publicado no X.

A mensagem acrescentou que “não houve desenvolvimento significativo na ilha nos últimos três anos” e que “o projeto não demonstrou financiamento contínuo suficiente para manter a propriedade em condições seguras e habitáveis”.

Nenhuma contribuição econômica, oportunidade de emprego ou iniciativa de engajamento comunitário foi realizada em apoio aos proprietários tradicionais ou à comunidade local Santo, acrescentou.

O comunicado da Ilha Satoshi acrescentou que, “como resultado dessas violações, a utilidade anteriormente associada às Escrituras NFT da Ilha Satoshi não é mais válida ou reconhecida” e finalizou:

Atualmente, estamos explorando uma iniciativa de recompra voluntária e agradecemos manifestações de interesse de membros da comunidade dispostos a auxiliar na estruturação de um processo justo e transparente. Mais informações serão divulgadas em breve.

Em uma iniciativa mais acessível envolvendo criptoativos, a exchange brasileira Mercado Bitcoin lançou recentemente uma oferta de R$ 13 milhões em tokens RWA (ativos do mundo real, na sigla em inglês) para financiar novos projetos vinculados ao Minha Casa, Minha Vida, programa habitacional do governo federal, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.