As criptomoedas devem ficar de fora da nova medida provisória (MP) que o governo se prepara para enviar ao Congresso Nacional, como alternativa ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para 3,5%, decretado em maio.

Defendida pelo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), a taxação extra das criptomoedas, caso seguisse adiante, entraria em um pacote de soluções estruturais proposto pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para aliviar o IOF.

O assunto foi objeto de forte reprovação pela sociedade e desgaste entre o governo e o Congresso nos últimos dias. A ideia inicial de elevar o imposto é arrecadar R$ 20,5 bilhões neste ano para impedir a paralisação da máquina pública este ano.

No último final de semana, o assunto foi debatido durante uma visita do ministro à Residência Oficial da Câmara dos Deputados, onde Hugo Motta também recepcionou outros deputados e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre.

Segundo Haddad, a medida atual “corrige distorções no sistema de crédito, na cobrança de impostos de rendimentos sobre títulos e temas afins. Inclusive vai entrar um aspecto na questão das bets”, de acordo com informações da Agência Brasil.

O que essa medida provisória vai nos permitir? Recalibrar o decreto do IOF [Imposto sobre Operações Financeiras], fazendo com que sua dimensão regulatória seja o foco da nova versão e possamos reduzir as alíquotas previstas no decreto original, que vai ser reformado conjuntamente, ressaltou o ministro.

Entre as mudanças, segundo Haddad, está o fim da parte fixa do risco sacado e a recalibração da parte diária. Segundo ele, “todos os itens [do decreto de mudança do IOF] vão ser revistos”.

O ministro afirmou ainda que a MP passará a cobrar tributo de 18% sobre o Gross Gaming Revenue (GGR) das empresas de apostas (ou seja, sobre a diferença entre o que as bets arrecadam e aquilo que elas pagam de prêmio), em vez dos 12% cobrados atualmente. Além disso, a medida tributará títulos de renda fixa que hoje são isentos, como as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e Letras de Crédito Imobiliário (LCI), em 5%. Já a Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) cobrada de instituições financeiras passará a ser de 15% ou 20%. A taxa de 9% não existirá mais.

Eles [esses títulos] continuarão a manter uma distância grande em relação aos títulos públicos em geral [em termos de taxação], mas não permanecerão mais isentos, porque estão criando uma distorção no mercado de crédito no Brasil, inclusive com dificuldades para o Tesouro Nacional, salientou.

Haddad acrescentou que há um compromisso de reduzir gastos tributários em pelo menos 10% de natureza infraconstitucional e de conversar, com o Congresso, sobre gastos primários.

A questão do gasto primário, tem muitas iniciativas que já mandamos para o Congresso. Algumas já estão em tramitação. O que nos dispusemos a fazer é fazer uma nova reunião sobre gasto primário, mas já tendo um feedback das bancadas sobre os temas que vão ser enfrentados”, disse.

O ministro explicou que mostrou ao Congresso as evoluções de despesas obrigatórias, contratadas no passado por governos, que hoje estão pressionando as receitas da União.

São despesas contratadas quatro, cinco, seis anos atrás e que a conta está chegando sem que a fonte de financiamento dessa despesa tenha sido contratada no mesmo momento”, disse. “Às vezes eu vejo no jornal: ‘está tendo uma gastança’. Mas quando foi contratado o gasto? Qual era a previsibilidade que nós tínhamos?, indagou.

Congresso

Hugo Motta disse que o decreto do IOF causou um grande incômodo no Congresso Nacional. 

Tanto na Câmara como no Senado, o ambiente se tornou muito adverso a essa medida. E nós colocamos que essa medida precisaria ser revista. Com o governo, atendendo a posição do presidente do Senado e do presidente da Câmara, hoje trouxe essa alternativa, de que o decreto será refeito, com uma calibragem diminuindo de forma significativa seus efeitos”, frisou.

Segundo Motta, a MP traz uma compensação financeira para o governo, mas “muito menos danosa do que seria a continuidade do decreto do IOF, como foi proposto de forma inicial”.

O presidente da Câmara afirmou também que o Congresso fará, nos próximos dias, uma revisão das medidas de isenção fiscal, que segundo o governo federal, pode chegar a R$ 800 bilhões.

A possibilidade de taxação das criptomoedas como alternativa para o alívio do IOF também foi motivo de mobilização de diversos agentes da indústria cripto nacional, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.