As dificuldades que o Drex vem enfrentando para equilibrar os recursos de privacidade, programabilidade e componibilidade, requisitados pelo Banco Central (BC), motivaram o lançamento de uma nova solução que visa garantir a segurança do sistema, sem comprometer suas funcionalidades.
A SFCoop, cooperativa formada por Ailos, Cresol, Sicoob, Sicredi e Unicred, desenvolveu a Harpo, uma solução de privacidade de código aberto, cujo foco principal é adequar-se aos contratos inteligentes implementados na plataforma do Drex, sem a necessidade de adoção de ferramentas adicionais.
A proposta da Harpo é reduzir as complexidades tecnológicas para fintechs e startups que planejam integrar-se ao ecossistema da CBDC (moeda digital de banco central) brasileira, explicou Márcio Alexandre, coordenador técnico do SFCoop, à reportagem do Valor Econômico:
"Não é apenas o mercado financeiro que está participando do Drex. As fintechs ficarão de fora? Elas teriam dificuldade em participar se utilizássemos sistemas muito complexos."
Além de buscar simplificar o acesso e a integração dos recursos de programabilidade e componibilidade do Drex, a Harpo não está vinculada a empresas privadas, ao contrário das outras quatro soluções aprovadas pelo BC.
“Não deveríamos optar pelo caminho de nos tornarmos dependentes de um fornecedor ou empresa, que pode mudar os termos do negócio”, afirmou o coordenador ao justificar a opção por uma solução de código aberto e não proprietária.
A SFCoop faz parte de um dos consórcios envolvidos na segunda fase do Piloto Drex, que atualmente está em andamento. Ao lado do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e do Operador Nacional do Sistema de Registro Eletrônico de Imóveis (ONR), a cooperativa desenvolve um projeto de tokenização de imóveis.
Inicialmente, a Harpo será adotada como ferramenta de privacidade nos casos de uso testados pelo consórcio, mas há possibilidade de que a solução seja adotada pelos demais participantes do Piloto Drex, caso haja interesse, afirmou Alexandre.
O BC permite que cada consórcio adote a solução de privacidade que for mais conveniente para os casos de uso propostos.
Soluções de privacidade testadas e o “trilema do Drex”
Três soluções de privacidade foram testadas na primeira fase do Piloto Drex. O BC aprovou todas as soluções, mas cada uma delas apresenta gargalos de programabilidade e componibilidade que comprometem o pleno funcionamento do sistema e impedem que a CBDC brasileira seja liberada para testes públicos.
A Anonymous Zether adota a tecnologia criptográfica de prova de conhecimento zero em uma solução de privacidade baseada em contas desenvolvida pelo JP Morgan e a Consensys.
A Rayls é uma solução baseada em prova de conhecimento zero que utiliza ledgers segregados, interoperáveis e compatíveis com a Ethereum Virtual Machine (EVM) para adicionar privacidade em redes DLT permissionadas.
E a Starlight é uma solução de privacidade e anonimato que usa prova de conhecimento zero para viabilizar a criação de aplicações de privacidade para DLTs compatíveis com a EVM.
Desenvolvida pela Microsoft, a ZKP Nova não chegou a ser testada na primeira fase do piloto.
Diferentemente de blockchains públicas, que precisam equacionar descentralização, segurança e escalabilidade, o trilema do Drex inclui privacidade, programabilidade – a capacidade de suportar contratos inteligentes programados para executar certas ações automaticamente – e a componibilidade – a integração eficiente de diferentes sistemas e softwares, conforme explicou Marcos Viriato, da Parfin, desenvolvedora da Rayls.
“Ainda não existe no mercado uma solução que seja uma bala de prata, capaz de resolver tudo de uma vez só", afirmou Viriato. “Isso está em desenvolvimento.”
Viriato afirmou ainda que a busca de soluções para o “trilema do Drex” é o foco da fase 2 do piloto, na qual os consórcios estão desenvolvendo na prática 13 potenciais casos de uso para o “real digital.”
Conforme noticiado recentemente com exclusividade pelo Cointelegraph Brasil, a fase 2 do Piloto Drex terá quatro etapas e o desenvolvimento de software encontra-se em andamento.