A segunda fase do Piloto Drex está em andamento, mas as soluções de privacidade continuam sendo um entrave para o desenvolvimento do projeto, revelou Fábio Araújo, coordenador do projeto, à reportagem da Folha de São Paulo.

A ausência de uma solução efetiva de privacidade possivelmente atrasará novamente o cronograma de implantação da moeda digital de banco central (CBDC) brasileira. Segundo Araújo, os testes com os usuários finais devem ocorrer apenas no final de 2025 ou mesmo no início de 2026.

O Banco Central (BC) hesita em abrir os testes ao público devido às dificuldades em equilibrar privacidade, segurança e conformidade legal.

"Trilema" de privacidade

Araújo revelou que o Drex enfrenta seu próprio "trilema" de privacidade. Os produtos apresentados ao BC pelas empresas envolvidas no desenvolvimento de soluções de privacidade esbarram em três problemas diferentes, que ainda precisam ser equacionados.

Em primeiro lugar, algumas soluções "escondem informações demais", dificultando o monitoramento do BC sobre o sistema financeiro. Outro problema é a demanda por poder de processamento computacional elevada, que reduziria a quantidade de transações por segundo da plataforma e inviabilizaria sua utilização pelo varejo. Por fim, há uma restrição ao desenvolvimento de novos algoritmos, comprometendo a evolução do código do Drex.

A governança do sistema requer atenção especial à proteção dos consumidores, afirmou Araújo, uma vez que os contratos inteligentes da plataforma do Drex serão implementados e geridos por terceiros

"Pode parecer um pouco paternalista, mas nós sabemos que as pessoas não entendem completamente o mercado financeiro. Se um contrato financeiro, em português, é de difícil entendimento para as pessoas, imagine a transposição desse contrato para uma linguagem de programação."

Araújo destacou que os 13 casos de uso que serão testados na segunda fase do Piloto Drex visam inovar e democratizar os serviços financeiros no país.

As transações envolvendo imóveis e veículos tendem a ser beneficiadas por uma redução dos custos operacionais, graças à automação das operações. Já a proposta desenvolvida em conjunto pelo Banco do Brasil, o Itaú e o Bradesco de disponibilização de linhas de crédito garantido por CDB (Certificado de Depósito Bancário) visa ampliar o acesso dos consumidores ao financiamento.

Na plataforma do Drex, uma operação desse tipo permite que o cliente de uma determinada instituição financeira tome um empréstimo utilizando como colateral um CDB tokenizado emitido por outro banco ou fintech.

Atualmente, este tipo de operação está limitado a uma única instituição, restringindo a competitividade do sistema financeiro.

O cronograma de testes e implementação do Drex tem sofrido atrasos recorrentes. Originalmente, o BC projetou que os primeiros testes com a participação dos usuários finais ocorreriam ainda neste ano, assim como o seu lançamento oficial.

A primeira fase do Piloto Drex deveria ter se encerrado em março deste ano, mas foi prorrogada até maio. Após a conclusão da segunda fase, uma nova etapa de testes está programada para o primeiro semestre do ano que vem, conforme noticiou recentemente o Cointelegraph Brasil.