Criadas como uma resposta das autoridades financeiras às inovações tecnológicas e monetárias introduzidas pelo Bitcoin (BTC), as moedas digitais de bancos centrais (CBDCs) são "a pior forma de dinheiro possível sob o ponto de vista dos cidadãos", afirmou o economista Fernando Ulrich, durante participação em um painel sobre criptomoedas na Expert XP, na manhã desta quarta-feira, 3.      

Em seguida, Ulrich afirmou que as CBDCs, na verdade, representam a antítese do Bitcoin:

"[As CBDCs] são centralizadas, ou seja, são a antítese do Bitcoin. Elas podem ser monitoradas, podem e serão controladas. As pessoas poderão ser excluídas do sistema, sendo simplesmente proibidas de utilizá-las, porque elas vão proporcionar todas as formas de vigilância. Eu realmente acho que esta é a pior forma de dinheiro possível sob o ponto de vista dos cidadãos de um país."

Apesar de seus propósitos diametralmente opostos, Ulrich disse que os bancos centrais não consideram o Bitcoin uma ameaça à soberania financeira do estado sobre a moeda e a política monetária. Por isso, as CBDCs, a princípio, não se configuram como uma ameaça às criptomoedas.

Ao contrário, Ulrich acredita que as CBDCs podem servir de incentivo a uma adoção mais ampla do Bitcoin. "À medida que a circulação monetária for inteiramente transferida para ambientes digitais, eliminando a circulação do papel-moeda, "as pessoas vão entender o valor e a utilidade do Bitcoin e por que ele é necessário", afirmou o economista.

Ulrich lembrou ainda que a única vez que os bancos centrais sentiram-se ameaçados foi quando o Facebook apresentou a proposta de criação da Libra, depois renomeada Diem, um criptoativo lastreado em uma cesta de moedas de reserva fortes:

"Quando a Libra foi anunciada os bancos centrais de todo o mundo, mas especialmente bancos centrais de países emergentes como o Brasil, entenderam que um criptoativo de tal natureza teria o potencial de praticamente do dia para noite se tornar uma moeda no sentido mais amplo da palavra."

O projeto acabou não prosperando devido à reação das autoridades dos EUA e da europa, mas serviu para acelerar o desenvolvimento de moedas digitais de banco central. O projeto do real digital, por exemplo, ganhou força desde então e está bastante avançado. O Banco Central promete implementá-lo em fase de testes a partir do ano que vem.

O Bitcoin e a inflação

Como já havia declarado em ocasiões anteriores, Ulrich voltou a afirmar que o Bitcoin ainda não pode ser considerado um ativo de proteção contra a inflação. Embora tenha as características necessárias para tal, há muito que evoluir em termos de adoção para que o BTC se torne um ativo de hedge, pois o valor do Bitcoin é determinado pela relação entre oferta e demanda no mercado livre.

O simples fato de o Bitcoin ter um suprimento limitado a 21 milhões de unidades, por si só, não concede ao valor do BTC imunidade à inflação, explicou o economista. Ulrich relativizou um postulado comum dos adeptos do criptoativo de que a política monetária não inflacionária do Bitcoin funciona como uma garantia de que o preço do BTC obrigatoriamente tende a aumentar ao longo do tempo:

"O preço é definido por suprimento e demanda. E a demanda ainda é muito volátil. É possível que haja um limite do suprimento de Bitcoin, mas, se ninguém tiver interesse em comprá-lo ou mantê-lo, seu preço pode ir a zero. O preço do BTC é uma coisa e o suprimento total é outra diferente."

O Bitcoin e o ouro

Ulrich explicou ainda que, à semelhança do ouro, não existe uma metodologia infalível para valoração do Bitcoin. Ou seja, é possível precificá-lo, mas não definir cientificamente o seu justo valor:

"O ouro está entre nós há milênios e até hoje não existe uma metodologia para determinar o justo valor do ouro. Trata-se de uma commodity que pode ser precificada, mas não pode ser valorada. No caso do Bitcoin é a mesma coisa. Você tem oferta e demanda. Você sabe como a oferta vai se comportar, pois no caso do Bitcoin ela é fixa e previsível. Toda imprevisibilidade e instabilidade está do lado da demanda."

O economista disse acreditar que a tendência é que a demanda pelo criptoativo mantenha-se em crescimento. Nesse caso, em função da oferta limitada a 21 milhões de unidades, a tendência é que o preço do BTC se aprecie ao longo do tempo.

O estado atual do mercado

A onda de de medo e pessimismo que tem predominado no mercado, na verdade, é um excelente indicador de que estamos atravessando um bom momento para os investidores irem às compras, disse Ulrich. Ao mesmo tempo, reconheceu que não se trata de uma decisão fácil:

"Quando ninguém está interessado em comprar, este é o momento em que o investidor deve se movimentar. Mas é uma decisão difícil. Vale para o Bitcoin, para ações e qualquer outra classe de ativos. Quando os preços estão explodindo, aí é quando todo mundo quer investir. Mas momentos assim nunca são os momentos corretos de investir. E agora, com o Bitcoin custando entre US$ 20.000 e US$ 22.000, talvez seja uma grande oportunidade de compra. Eu não diria que é a oportunidade da década, mas eu diria que é uma excelente oportunidade para começar a alocar uma parte pequena do seu portfólio em Bitcoin."

Ulrich também comentou a alta correlação entre o Bitcoin e o mercado acionário dos EUA atribuindo o fenômeno a três fatores. Primeiramente, em mercados de alta ou de baixa, a correlação entre o preço dos ativos tende a 1 (nível máximo). Em segundo lugar, as criptomoedas deixaram de ser uma classe de ativos à margem das finanças tradicionais na medida em que investidores institucionais tornaram-se entidades de peso no mercado. Por fim, a instabilidade nos cenários macroeconômico e geopolítico globais contribuem para uniformizar o comportamento dos investidores.

No entanto, o economista acredita que as criptomoedas são uma classe de ativos à parte, uma vez que não dependem de fluxos de caixa, como as ações, e mais cedo ou mais tarde a atual correlação tende a ser quebrada.

Nesta quarta-feira, a correlação se manteve forte, com o Bitcoin, o Índice Nasdaq e o S&P 500 operando em alta. A maior criptomoeda do mercado está cotada a US$ 23.492, registrando uma alta intradiária de 2,3%, após cinco dias consecutivos de queda, de acordo com dados do CoinGecko.

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, o número de hodlers que possuem ao menos 1 BTC inteiro aumentou em 40 mil desde o crash do mercado em junho.

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