O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu uma governança global sobre a inteligência artificial (IA) como forma de combate ao monopólio de poucos países sobre a tecnologia.

Lula marcou presença no segundo dia da primeira reunião de sherpas da presidência brasileira do Brics, evento que aconteceu terça e quarta-feira (25 e 26) no Palácio Itamaraty, em Brasília (DF), com a presença de representantes dos 11 países que compõem o grupo, além de outros países convidados.

“Ao mesmo tempo em que oferece oportunidades extraordinárias, a inteligência artificial traz desafios éticos, sociais e econômicos. Essa tecnologia não pode se tornar monopólio de poucos países e poucas empresas. Grandes corporações não têm o direito de silenciar e desestabilizar nações inteiras com desinformação”, defendeu o presidente.

Lula disse ainda que a mitigação de riscos e distribuição dos benefícios da IA representam uma responsabilidade compartilhada e salientou que qualquer tentativa de desenvolvimento econômico hoje passa por essa tecnologia.

“Não podemos permitir que a distribuição desigual dessa tecnologia deixe o Sul Global à margem. O interesse público e a soberania digital devem prevalecer sobre a ganância corporativa”, acrescentou.

O presidente adiantou que a presidência brasileira vai oficializar uma “Declaração de Líderes sobre Governança da Inteligência Artificial para o Desenvolvimento”. 

A IA foi um dos seis eixos principais abordados pelo presidente, integrado ainda pela “reforma da arquitetura multilateral de paz e segurança”, “cooperação em saúde”, “contribuição para o aprimoramento do sistema monetário e financeiro internacional”, “crise climática” e “aumento da institucionalidade do Brics”, segundo noticiou a Agência Gov.    

Importância do Brics

Na abertura do evento, o embaixador Mauricio Lyrio enfatizou a importância do Brics em um contexto global desafiador, com crises interconectadas e a necessidade de cooperação multilateral, de acordo com informações da Agência Gov.

Na sequência, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, fez um discurso enfático, destacando também a relevância do Brics em um momento de profundas transformações globais. Sob a liderança do Brasil, os esforços estão voltados para consolidar a cooperação entre os membros do grupo e avançar em reformas que fortaleçam o papel dos países em desenvolvimento no cenário internacional.

"É uma honra dar-lhes as boas-vindas a esta reunião inaugural da presidência brasileira do Brics. Estamos reunidos em um momento crucial – de profundas transformações, em que os princípios do multilateralismo e da cooperação são testados por crises que exigem ação urgente e coletiva", afirmou Vieira.

O ministro ressaltou que a ordem internacional está passando por mudanças significativas, com tensões geopolíticas, desigualdades crescentes e rápidas transformações tecnológicas e econômicas desafiando as estruturas tradicionais de governança.

"Instituições de longa data enfrentam dificuldades para se adaptar, enquanto economias emergentes reivindicam, com razão, um papel mais equitativo na definição de decisões que nos afetam a todos", disse.

Mauro Vieira destacou o papel fundamental do Brics na promoção de uma ordem mundial mais justa, inclusiva e sustentável. 

"Um mundo multipolar não é apenas uma realidade emergente — é um objetivo compartilhado. Um sistema global reequilibrado deve ter bases mais sólidas de equidade e representatividade, e nenhuma base desse tipo pode ser construída sem a voz do Brics”, declarou.

Na semana anterior, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que tipifica nudez fabricada por IA nos crimes previstos no Código Penal, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.