O Bitcoin renovou suas máximas históricas em reais na segunda-feira, 14 de julho, ao atingir a cotação de R$ 681.000, de acordo com dados da TradingView, ao superar os R$ 669.735 registrados em dezembro de 2024.
Embora a maior criptomoeda do mercado tenha renovado máximas históricas em dólar em duas ocasiões no período, a valorização do real frente à moeda americana impediu que o preço do Bitcoin (BTC) alcançasse novos recordes históricos em real.
Esse cenário tende a mudar caso as tarifas de 50% sobre produtos brasileiros comercializados nos Estados Unidos, anunciadas por Donald Trump, sejam de fato implementadas em 1º de agosto.
O possível acirramento da guerra comercial entre o Brasil e os Estados Unidos tende a depreciar o real frente ao dólar, apesar da queda de 11% do DXY até agora em 2025. Com o Bitcoin mantendo intacta sua tendência de alta e o real sob pressão, é possível que 1 BTC alcance R$ 1 milhão até o final do ano?
O Cointelegraph Brasil ouviu analistas do mercado de criptomoedas para avaliar as tendências macroeconômicas e geopolíticas que podem potencializar o mercado de alta do Bitcoin especificamente no Brasil.
Tarifas de Trump pressionam o real apesar da desvalorização do dólar no mercado global
Trump anunciou as tarifas de 50% sobre produtos importados do Brasil em 9 de julho. Imediatamente, o real interrompeu sua trajetória ascendente de quatro meses e perdeu valor frente ao dólar, mesmo que elas estejam programadas para entrar em vigor em 1º de agosto.
O efeito foi imediato porque as tarifas tendem a ter um impacto negativo sobre o real no longo prazo, explica Sarah Uska, analista de criptoativos do Bitybank:
“Mesmo diante de uma tendência global de enfraquecimento do dólar, a implementação de tarifas de 50% pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros pode gerar um efeito local de valorização do dólar frente ao real. Isso acontece porque as tarifas tendem a reduzir as exportações brasileiras, diminuindo a entrada de dólares no país e pressionando o câmbio.”
Victor Alfa, economista, Head de Conteúdo do DeFiverso e Diretor de Research da WeSearch, destaca que o teor da carta de Trump endereçada ao governo brasileiro, com referências ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) e alegações de censura a redes sociais americanas, extrapolam o campo econômico e configuram claramente uma estratégia geopolítica:
“As medidas anunciadas por Trump transcendem questões comerciais tradicionais e refletem uma resposta geopolítica às iniciativas brasileiras de promover alternativas ao sistema monetário internacional dominado pelo dólar, incluindo o apoio a mecanismos de pagamento bilaterais com outros países emergentes e a defesa de uma nova arquitetura financeira global menos dependente da moeda americana.”
Como evidência, Victor aponta que os Estados Unidos mantêm superávit comercial com o Brasil de mais de US$ 157 bilhões desde 2010. “Apenas em 2024 o Brasil exportou o equivalente a US$ 42,34 bilhões e importou US$ 49,13 bilhões dos EUA", resultando em um saldo negativo de US$ 6,78 bilhões.
Para o analista, a dimensão geopolítica da iniciativa do governo americano “amplifica significativamente os riscos para o câmbio brasileiro, uma vez que sinaliza uma escalada nas tensões que vai além de disputas comerciais pontuais, podendo resultar em pressões cambiais mais duradouras e intensas do que aquelas observadas em conflitos comerciais tradicionais.”
Uma eventual retaliação às tarifas por parte do governo brasileiro elevaria o chamado "risco país", desencadeando fuga de capitais e deterioração das expectativas dos agentes econômicos.
“Durante a guerra comercial entre EUA e China (2018-2019), tarifas de até 25% levaram a uma depreciação do yuan de cerca de 10%”, acrescenta Victor.
“Para tarifas de 50%, que são significativamente mais altas, espera-se uma depreciação mais acentuada do real, possivelmente na faixa de 15% a 20%, elevando a cotação dos atuais R$ 5,58 para uma faixa de R$ 6,42 a R$ 6,70,” projeta o analista.
Nesse cenário, ainda que o preço se mantenha estável, o Bitcoin pode atuar como um ativo de proteção para os brasileiros, afirma Thiago Fagundes, diretor de negócios do Mercado Bitcoin (MB):
“Quando o real perde valor, o preço do Bitcoin em reais tende a subir, independentemente de variações no preço do ativo em dólares. Ou seja, o câmbio pode amplificar os ganhos do criptoativo no Brasil. Isso é um reflexo de como o BTC funciona também como um hedge contra desvalorização cambial em mercados emergentes.”
Projeções do preço do Bitcoin em cenário de depreciação do real
Sarah diz que fazer uma projeção do preço do Bitcoin em um cenário volátil e sensível a fatores políticos e macroeconômicos é arriscado. Sem citar números específicos, a analista do Bitybank afirma que a resiliência do Bitcoin e os avanços na regulação e na adoção dos ativos digitais sugerem que “o contexto atual é estruturalmente positivo para o Bitcoin, tanto em termos de fundamentos quanto de narrativa de mercado.”
Apresentando uma estimativa moderada do impacto das tarifas sobre a cotação do dólar no Brasil, Thiago projeta que o Bitcoin possa atingir máxima de R$ 885.000 em 2025:
“Se considerarmos um cenário em que o Bitcoin atinja US$ 150 mil até o fim de 2025, algo que muitos analistas veem como plausível no ciclo atual, e assumirmos uma taxa de câmbio entre R$ 5,60 e R$ 5,90, conforme projeções recentes, o preço do Bitcoin no Brasil poderia chegar a algo entre R$ 843 mil e R$ 885 mil.”
Já o cenário hipotético desenhado por Victor – considerando exclusivamente o potencial impacto de tarifas de 50% sobre o câmbio e excluindo outras variáveis macroeconômicas e geopolíticas – projeta uma depreciação mais agressiva do real frente ao dólar e, consequentemente, uma maior valorização do Bitcoin:
“Partindo do câmbio atual de R$ 5,58, as pressões tarifárias podem elevar a cotação em 15% a 20%, situando-a numa faixa de R$ 6,42 a R$ 6,70. Aplicando a meta de US$ 150.000 para o Bitcoin nestes cenários cambiais, obtemos estimativas que vão de R$ 963.964 (cenário conservador) a R$ 1.005.876 (cenário pessimista), representando ganhos de 47,44% a 53,85% em relação ao preço atual.”
Perspectivas cambiais: bancos alertam para pressões no 2º semestre
As projeções do mercado financeiro tradicional para o câmbio no Brasil no restante de 2025 reforçam um cenário de pressões estruturais sobre o real que podem amplificar ainda mais os ganhos da criptomoeda no mercado brasileiro.
Após uma forte valorização do real no primeiro semestre, com o dólar caindo de R$ 6,18 no final de 2024 para cerca de R$ 5,43 em junho, impulsionado pela produtividade do agronegócio e a depreciação do dólar no mercado global, analistas do Boletim Focus, Santander e Itaú projetam uma reversão desse movimento até o fim do ano. De acordo com a análise, a moeda americana deve se estabilizar entre R$ 5,70 e R$ 6,00 no segundo semestre.
O BTG Pactual traça projeções ainda mais pessimistas, estimando que o dólar pode alcançar a cotação recorde de R$ 7,10. A análise do banco de investimentos considera três fatores principais de pressão cambial: o risco fiscal doméstico, com preocupações crescentes sobre o déficit público e a falta de medidas robustas para equilibrar as contas públicas; as políticas protecionistas globais de Trump, que vão além das tarifas específicas sobre o Brasil e podem fortalecer o dólar contra moedas emergentes; e uma possível desaceleração na China, que poderia derrubar os preços de commodities como soja e minério de ferro, reduzindo ainda mais a entrada de dólares no país.
Essa convergência de fatores estabelece um cenário extremamente negativo para o real e particularmente favorável para os investidores brasileiros que apostam no Bitcoin. Se as projeções mais pessimistas sobre o câmbio se concretizarem e o Bitcoin atingir o preço-alvo de US$ 150 mil, a criptomoeda poderá superar a marca de R$ 1 milhão, consolidando seu papel como ativo de proteção em um ambiente de crescente instabilidade macroeconômica e geopolítica.
Este artigo não contém conselhos ou recomendações de investimento. Todo investimento e negociação envolve riscos, e os leitores devem realizar sua própria pesquisa ao tomar uma decisão.