As criptomoedas parecem estar amadurecendo e, com isso, gerando valor a partir de casos de uso que efetivamente solucionam problemas reais dos usuários, afirma Samir Kerbage, executivo da Hashdex, na mais recente edição das “Notas do CIO.”

Kerbage destaca a adoção institucional do Bitcoin (BTC) como um ativo de reserva de valor e de proteção em momentos de turbulências macroeconômicas e geopolíticas. Como exemplo dessas propriedades, o executivo cita o comportamento do preço do Bitcoin após o “Dia da Libertação” do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

O preço do Bitcoin atingiu mínimas de US$ 74.500 em 7 de abril, no auge das incertezas provocadas pela guerra comercial de Trump, mas, desde então, subiu mais de 20%, recuperando integralmente as perdas decorrentes do evento.

Assim como em outros eventos recentes que provocaram picos de volatilidade nos mercados financeiros, as criptomoedas se recuperaram mais rapidamente das quedas do que outros ativos, incluindo o ouro, que apresenta o melhor desempenho até agora em 2025.

Comparação do desempenho do ouro, S&P 500 e Nasdaq Crypto Index após eventos disruptivos. Fonte: Hashdex

“Usando o Nasdaq Crypto IndexTM (NCITM) como referência para o mercado de ativos digitais, observamos que as criptomoedas superaram tanto o S&P 500 quanto o ouro nas semanas seguintes à crise bancária regional dos EUA, em 2023, à reversão do carry trade com o iene, em agosto de 2024, e à implementação das tarifas de Trump neste mês", aponta Kerbage.

Para o executivo, esse comportamento decorre da convergência entre os avanços regulatórios e o sucesso de casos de uso no mundo real. Além da consolidação do Bitcoin nos portfólios de investidores institucionais, a “adoção global de stablecoins e a tendência emergente de tokenização de ativos reais (RWA)” reforçam a tecnologia blockchain como uma infraestrutura fundamental de um “novo sistema financeiro.”

Como os investidores podem se expor às teses de stablecoins e RWA

As stablecoins atingiram uma capitalização de mercado de US$ 245,8 bilhões em 2025, em função da demanda crescente por soluções de pagamento e remessas internacionais, que reduzem fricções e custos das alternativas do sistema legado.

Em paralelo, versões digitais do dólar que oferecem rendimentos nativos on-chain vêm impulsionando o mercado de tokenização de ativos reais, “com gigantes como a BlackRock e a UBS entrando nesse mercado", afirma Kerbage.

Dados da plataforma de monitoramento do mercado RWA.xyz mostram que, no último ano, a capitalização de mercado dos títulos do Tesouro dos EUA tokenizados cresceu 370%, saltando de US$ 1,38 bilhão em maio de 2024 para US$ 6,55 bilhões no momento em que este artigo foi escrito.

Títulos do Tesouro dos EUA tokenizados. Fonte: RWA.xyz

Segundo Kerbage, os números revelam que a “adoção de stablecoins não é mais limitada ao universo cripto" e há um setor que permite aos investidores se exporem tanto ao crescimento desses criptoativos atrelados a moedas fiduciárias quanto dos tokens RWA:

“Plataformas como Ethereum e suas soluções de camada 2, Solana e Avalanche são as redes utilizadas para tokenizar ativos do mundo real e facilitar transações com stablecoins. Com velocidade, segurança e programabilidade, essas blockchains públicas estão se tornando a camada de infraestrutura de um novo sistema financeiro. USDC e USDT, as duas maiores stablecoins do mercado, movimentam quase US$ 3 trilhões anualmente — mais que PayPal, Venmo e Western Union combinados — com usos que vão de remessas a pagamentos e transações on-chain.”

O executivo da Hashdex explica que essa tendência tem potencial para beneficiar as plataformas de contrato inteligentes e, por consequência, valorizar seus respectivos tokens nativos.

Em primeiro lugar, as stablecoins e a tokenização de ativos reais criam um fluxo estável de atividade on-chain, independentemente das condições mais amplas do mercado de criptomoedas.

Kerbage destaca que, atualmente, a Ethereum é a plataforma líder na emissão e liquidação de transações envolvendo stablecoins e tokens RWA, mas aponta que outras redes têm crescido:

“Isso gera receita em taxas, demanda por tokens nativos (como ETH e SOL) e estimula o desenvolvimento contínuo das redes.”

A demanda crescente, por sua vez, gera um efeito de rede positivo, atraindo não apenas novos usuários, mas também desenvolvedores.

Por fim, Kerbage aponta que “blockchains capazes de processar um alto volume de transações com baixo custo e conformidade regulatória estão bem posicionadas para capturar valor no futuro financeiro digital.”

Além do Bitcoin

Enquanto o Bitcoin se mantém como o ativo mais sólido e relevante do mercado de criptomoedas, o investimento indireto em stablecoins e tokens RWA, por meio de plataformas de contratos inteligentes, emerge como uma tese complementar.

Combinadas, elas “formam o pilar de uma nova tese dos ativos digitais", afirma o executivo da Hashdex. O Bitcoin age como um ativo de proteção e reserva de valor, e os tokens de plataformas de contratos inteligentes capturam valor da “expansão da atividade econômica on-chain, como o uso de stablecoins, tokenização e DeFi.”

“Na Hashdex, acreditamos que os ativos digitais estão entrando em uma nova fase — menos marcada por especulação e mais por integração mensurável à economia global", conclui Kerbage.

Conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil, o BTG Pactual também está confiante no mercado de ativos reais. Em um relatório publicado recentemente, os analistas do banco indicam o investimento no token nativo da Ondo Finance (ONDO) como forma de se expor ao potencial crescimento do setor.