Alvo de uma ofensiva do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o Pix alcançou a adesão de 160 milhões de pessoas, segundo dados recentes do Banco Central (BC). A popularização da plataforma de transações instantâneas do BC também conta com soluções que permitem aos brasileiros utilizarem o Pix no exterior.

Em julho, o Pix se tornou alvo de uma ofensiva do governo Donald Trump, depois da abertura de uma investigação do USTR (Escritório Representante de Comércio dos EUA), sob a Seção 301 da legislação norte-americana, mecanismo que autoriza medidas de retaliação econômica sempre que práticas estrangeiras sejam consideradas prejudiciais aos interesses comerciais dos EUA, embora o documento assinado pelo representante do USTR, Jamieson Greer, não mencione diretamente o Pix.

Na direção oposta da ofensiva de Trump, fintechs autorizadas pelo BC se juntam a facilitadoras de pagamentos internacionais (eFX), que transformam os pagamentos em Pix, efetuados por brasileiros em estabelecimentos de outros países, em remessa internacional instantânea, para esses estabelecimentos. Foi o que a facilitou a dentista Tuanny Monteiro Noronha, de Brasília, que viajou com o marido para o Paraguai e a Argentina, durante as férias de julho. Nos dois países vizinhos, ela vivenciou algo em comum com o dia a dia ao qual ela já está habituada no Brasil: o pagamento de contas por meio do Pix.

À Agência Brasil, Tuanny contou que, “no Paraguai, quase todos os lugares aceitavam, nas lojas grandes aceitavam sempre", caso de Ciudad del Este, que faz fronteira com Foz do Iguaçu, no Paraná, e é reconhecida como um grande centro internacional para compras de produtos eletrônicos:

Lá eu já sabia que o Pix estava difundido porque fui com o objetivo de realizar compras, mas a presença é quase total mesmo, mais de 90% das lojas.

Tuanny acrescentou que, em Buenos Aires, quase todos os restaurantes também aceitam Pix. O que também facilitou a passagem dela e do esposo pela capital argentina.

Eram poucos que não tinham essa opção, lembrou.

Por trás da facilidade encontrada pela dentista e pelo esposo estão soluções promovidas por fintechs como a PagBrasil, empresa de Porto Alegre especializada em processamento de pagamentos digitais. Isso porque, a rigor, o Pix não permite transferências internacionais diretamente para contas bancárias de outros países, apenas entre contas abertas no Brasil.

Mas, ao menos desde 2023, e, principalmente no último ano, o uso do Pix como meio de pagamento no exterior está sendo viabilizado a partir de parcerias diretas entre fintechs brasileiras, que oferecem a chave Pix, e empresas credenciadoras, também chamadas de adquirentes, que são aquelas instituições financeiras responsáveis pelas maquininhas de pagamento de cartão de crédito e débito.

Funciona assim: o lojista pega a maquininha, digita o valor em moeda local, em pesos argentinos, por exemplo, se você estiver em um estabelecimento desse país vizinho, e o QR Code do Pix sai na tela. A pessoa escaneia o QR Code do Pix e o valor é automaticamente convertido para o real de forma instantânea, com o IOF [Imposto sobre Operações Financeiras] já embutido, explicou o CEO e cofundador da PagBrasil, Alex Hoffmann.

Segundo ele, “aquele valor que aparece no QR Code da maquinha, já em real, é o valor final da compra pelo cliente”.

Ou seja, o câmbio é totalmente garantido no ato do pagamento, diferente, por exemplo, do cartão de crédito, onde tu faz uma compra e não sabe qual é o valor da cotação que vai ser convertida porque é a cotação da data do fechamento da fatura, acrescentou.

Expansão do Pix

Alex Hoffmann disse que a ideia do Pix Internacional surgiu quando ele foi passar um réveillon em Punta del Este, o balneário mais famoso do Uruguai, há dois anos:

O público lá nessa época é 80% formado por brasileiros. Fazia muito sentido ter possibilidade do uso do Pix como meio de pagamento. 

Poucos meses depois, o serviço já estava em operação no país vizinho e hoje está bastante disseminado por lá, segundo o empresário.

Na capital argentina e no Paraguai, em locais como lojas de departamento, restaurantes, feiras, bares e diversos pontos com alto fluxo de turistas brasileiros, também é certo encontrar a opção de pagamento no Pix, contou Hoffmann. Mas o modelo já se expandiu para países como Espanha, Portugal, França, Chile, Panamá e, mais recentemente, os Estados Unidos (EUA).

Na maior economia do planeta, a PagBrasil e a gigante estatunidense de pagamentos Verifone anunciaram há poucas semanas um acordo para oferecer a modalidade de pagamento via Pix com conversão em tempo real de dólar para o real.

A Verifone é a maior adquirente dos Estados Unidos. Ela tem 75% dos lojistas dos grandes lojistas americanos, processa US$ 8 trilhões por ano, salientou.

De acordo com o empresário, o objetivo é aproveitar a gigantesca presença de visitantes brasileiros nos Estados Unidos todos os anos. O que ocorreu em 2024, quando o número de turistas do Brasil que viajaram aos EUA chegou a 1,9 milhão, segundo dados do Escritório Nacional de Viagens e Turismo do país norte-americano. Esse número deve ultrapassar 2 milhões de visitantes este ano, com gastos superando a marca de US$ 4,9 bilhões.

A expectativa é que, nos locais mais procuradores pelos brasileiros nos EUA, como Flórida e Nova York, a opção de pagamento via Pix deverá estar cada mais disseminada, sobretudo em grandes lojas e parques temáticos.

Rápido e prático

Usado por cerca de 75% da população brasileira, o que dá cerca de 160 milhões de pessoas, o Pix é disparado o principal método de transferência de recursos entre contas. Desde o ano passado, segundo dados do próprio BC, ele responde por quase metade do total de transações de pagamento realizadas no Brasil, muito à frente de pagamentos com cartões de crédito ou débito, por exemplo.

Como não é seguro hoje em dia circular com dinheiro em espécie, o uso do Pix facilita, inclusive no exterior, observou Tuanny Noronha.

Outra opção recorrente de uso do Pix fora do país acontece por meio de empresas financeiras que oferecem serviços de transferência internacional de dinheiro e conta multimoeda. Neste caso, o usuário faz um pagamento Pix que gera crédito nessa conta internacional, em que é possível escolher diferentes moedas, utilizando o câmbio internacional, e gastar na forma de cartão digital de débito, usando o aplicativo instalado no celular.

A jornalista Verônica Soares, que também mora no Distrito Federal, está de férias em Paris, capital da França, e realizou transações em Pix para a sua própria conta em um desses aplicativos multimoeda.

O Pix facilitou muito a dinâmica da conversão do real para o euro. Na primeira vez que estive aqui, tive que trocar o real por euro numa casa de câmbio no Brasil para trazer para a viagem. Agora, faço um pix da minha conta do meu banco convencional para um aplicativo, e converto instantemente para o euro, sem precisar passar por casa de câmbio. Tudo muito prático e rápido, usando o celular para fazer os pagamentos, destacou a comunicadora.

Na última semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sugeriu que o Pix não corre o risco de privatização, tampouco está na mesa de negociações com Donald Trump, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.