Resumo da notícia:
50 milhões de pessoas usam IA no Brasil, mas adoção é desigual entre as diferentes camadas da população.
Uso da tecnologia chega a 69% na classe A, caindo para 16% nas classes D e E.
84% usam IA para fins pessoais enquanto 86% dos universitários ou estudantes utilizam a tecnologia para trabalhos acadêmicos.
Lançada nesta terça-feira (9), a TIC Domicílios 2025 revelou que 50 milhões de pessoas usam inteligência artificial (IA) no Brasil, embora os potenciais benefícios da tecnologia estejam majoritariamente limitados às camadas de maior renda e escolaridade da população.
Realizado pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), ligado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), a TIC Domicílios é um mapeamento feito há 20 anos e é voltado ao uso de tecnologias por pessoas a partir de 10 anos no país. Na atual edição, a coleta de dados aconteceu entre março e agosto de 2025 e incluiu 27.177 domicílios e 24.535 indivíduos.
A TIC Domicílios 2025 destaca novos indicadores sobre a adoção de inteligência artificial generativa entre os usuários de Internet brasileiros. À medida que a IA ganha relevância em diferentes esferas da vida cotidiana, a desigualdade na apropriação dessa ferramenta entre os diferentes estratos de renda e escolaridade torna-se um elemento que chama a atenção, alerta o gerente do Cetic.br, Alexandre Barbosa.
Segundo o levantamento, a adoção de IA equivale a 32% da população, em números absolutos. Os dados apontam uma rápida adoção da tecnologia, mas também mostram disparidades na apropriação de ferramentas de IA entre perfis de renda e escolaridade.
O uso de IA generativa é significativamente mais elevado entre os estratos mais escolarizados e de maior renda. Já que a proporção daqueles que utilizaram essas ferramentas chega a 69% na classe A, caindo para 16% nas classes D e E. Da mesma forma, 59% dos usuários com Ensino Superior adotaram a IA, em contraste com 17% daqueles com Ensino Fundamental.
A principal finalidade declarada de uso foi para "fins pessoais" (84% dos que usaram IA). O levantamento também mostra o impacto na educação: 86% dos estudantes de escolas ou universidades recorreram à IA para realizar pesquisas ou trabalhos acadêmicos. Entre os que não utilizaram IA, a falta de habilidade foi um motivo mais frequente entre os que possuem até o Ensino Fundamental (65%), reforçando a desigualdade no acesso e uso de tecnologias, que pode criar um ciclo de exclusão.
Para o coordenador da pesquisa TIC Domicílios, Fabio Storino, “a expansão da IA generativa evidência os desafios da inclusão digital no Brasil”.
O acesso à tecnologia não basta se a conectividade for limitada, ou faltarem habilidades digitais. Esse cenário indica que os benefícios da IA, como ganhos de produtividade e novas formas de aprendizado, podem continuar concentrados nos grupos que, historicamente, já possuem mais oportunidades, analisa.
Além de trazer pela primeira vez dados sobre IA, o levantamento apresenta indicadores inéditos sobre apostas on-line e restrição ao uso da Internet devido a limitações de pacote de dados móveis. Os resultados também mostram um avanço da conectividade nos domicílios brasileiros: 86% deles têm acesso à rede (um aumento de 3% em relação a 2024), com crescimento da proporção de domicílios com banda larga fixa (76%, ante 71% em 2024). Ao mesmo tempo, os dados expõem a persistência de desafios de inclusão digital.
Apostas on-line
A TIC Domicílios 2025 mostra pela primeira vez que 19% dos usuários de Internet (o equivalente a 30 milhões de brasileiros com 10 anos ou mais) realizaram algum tipo de aposta on-line. A prática é mais comum entre homens (25%) do que entre mulheres (14%), especialmente em apostas esportivas (12% e 2%, respectivamente).
Segundo a pesquisa, 8% dos usuários de Internet realizaram aposta em cassino on-line, 7% pagaram para participar de alguma rifa digital ou de sorteio divulgado em uma rede social ou em aplicativo de mensagem, e igual proporção fez aposta esportiva por sítios ou aplicativos, ou aposta em loteria federal.
Renata Mielli, coordenadora do CGI.br, revela que a edição desse ano da TIC Domicílios conseguiu “identificar a proporção de usuários de Internet no país que já utilizou bets e fez apostas on-line”.
Um tema que tem gerado grande preocupação de toda a sociedade, não só pelo aspecto econômico, mas até o de saúde mental. E o que vemos revelado é um número que considero bastante alarmante: temos cerca de 30 milhões de pessoas acima dos 10 anos que já realizaram algum tipo de aposta on-line. Esse dado geral, e outros mais específicos que foram coletados, reforçam a urgência em se estabelecer mecanismos regulatórios e de literacia digital mais robustos sobre os riscos que envolvem a prática de jogos e apostas no meio digital, defende.
Consolidação do Pix
A edição da pesquisa deste ano mostra a expansão do Pix no cotidiano financeiro dos brasileiros. Pela primeira vez medindo seu uso geral para pagamentos e transferências – e não apenas para compras on-line –, o levantamento aponta que 75% dos usuários de Internet utilizaram o sistema, consolidando-o como a principal ferramenta de transação digital do país.
Por outro lado, apesar da ampla adoção do Pix, a pesquisa revela que a intensidade e a apropriação da ferramenta ainda são eivadas de desigualdade socioeconômica. Enquanto o uso do Pix é praticamente universal na classe A (98%), a proporção cai para 60% entre os usuários das classes D e E. Essa diferença de 38 pontos percentuais sugere que, embora o acesso ao Pix se tenha popularizado, a plena participação na economia digital ainda enfrenta barreiras.
Governo Eletrônico
A busca por serviços públicos digitais foi outra atividade relevante investigada pela pesquisa: em 2025, 71% dos usuários de Internet com 16 anos ou mais utilizaram serviços de governo eletrônico. Pela primeira vez a pesquisa mediu o uso específico da plataforma Gov.br, que foi acessada por 56% dos usuários nessa faixa etária, seja para realizar um serviço para si (49%), para terceiros (18%) ou pedindo ajuda de outra pessoa (12%).
Na última semana, outra pesquisa revelou que 84% dos jovens brasileiros apontam a IA como chave para o emprego, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.