Cerca de 34% dos estudantes brasileiros precisariam ter interrompido suas apostas em Bets para ingressarem em um curso de graduação no primeiro semestre de 2025. é o que revela a nona edição da pesquisa “O impacto das Bets na educação superior”, realizada pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes) e pela empresa Educa Insights, divulgada este mês.
De acordo com o levantamento, os gastos em sites de apostas on-line são um dificultador adicional para o ingresso na graduação para 24% dos entrevistados, quando se considera o segundo semestre. Em um recorte regional, a pesquisa constatou que Nordeste e Sudeste são as regiões com a maior proporção de brasileiros que associam o adiamento da graduação à prática de apostas on-line. Em relação ao primeiro e ao segundo semestre, os respectivos percentuais dessas regiões são 44% e 32% (Nordeste) e 41% e 27% (Sudeste).
Em direção contrária, as regiões Sul e Centro-Oeste possuem as populações que menos fazem essa relação: 17% e 18% para o primeiro semestre de 2025 e 16% e 14% para o segundo semestre desse ano.
Para o primeiro semestre de 2026, a projeção nacional indica que, dos quase 2,9 milhões de potenciais ingressantes na educação superior privada, aproximadamente 986 mil estão sob risco de não efetivar a matrícula por conta do comprometimento financeiro com apostas on-line. O comparativo com a pesquisa de setembro de 2024 mostra um aumento de 7,76% no Nordeste e de 9,39% no Sudeste, enquanto na região Norte houve queda de 33,16% e na Centro-Oeste de 24,97%.
Segundo a Abmes, os impactos das Bets não se limitam ao ingresso, já que a pesquisa aponta que 14% dos alunos já matriculados em instituições particulares atrasaram as mensalidades ou trancaram o curso em razão dos gastos com pltaformas de apostas on-line. Esse índice é ainda maior nas classes B1 e B2, onde chega a atingir a marca de 17%.
Comportamento financeiro
O levantamento mostra que 52% dos entrevistados apostam regularmente, sendo a frequência predominante de uma a três vezes por semana. Os valores investidos variam conforme a classe social: enquanto os apostadores da classe A destinam, em média, R$ 1.210 mensais às apostas, nas classes D e E o valor médio é de R$ 421. Ainda que a maioria (cerca de 80%) afirme comprometer até 5% da renda mensal, cresceu o número de pessoas, especialmente entre os mais pobres, que ultrapassam a marca de 10% do orçamento com essa prática.
O comparativo com os dados de setembro de 2024 revela um agravamento da situação: o percentual de jovens que apostam regularmente subiu de 42,9% para 52%, e aqueles que dizem comprometer parte da renda com as Bets passou de 51,6% para 54,2%. Além disso, houve um salto de 11,4 pontos percentuais na quantidade de pessoas que deixaram de iniciar uma graduação por causa dos gastos com Bets.
Para o diretor-geral da Abmes, Paulo Chana, “o estudo mostra que as apostas on-line se tornaram um obstáculo adicional para o acesso à educação superior no Brasil. Precisamos olhar com seriedade para esse cenário e desenvolver políticas públicas que conscientizem os jovens sobre as responsabilidades envolvidas com a prática de apostar”.
Trata-se de um fenômeno relativamente novo no Brasil, que ainda carece de amadurecimento e maior compreensão das responsabilidades envolvidas tanto por parte do poder público quanto dos apostadores, acrescenta.
Perfil dos apostadores
A maioria dos apostadores é formada por homens de 26 a 35 anos, trabalhadores, com filhos, pertencentes às classes C e D e que cursaram o ensino médio em escolas públicas.
A pesquisa “O impacto das bets na educação superior – Onda 2” foi realizada entre os dias 20 e 24 de março de 2025 e ouviu 2.317 jovens de 18 a 35 anos de todas as regiões do país e de todas as classes sociais, com interesse em ingressar na educação superior privada.
De olho em uma arrecadação de R$ 7 bilhões, a Caixa anunciou que entrará no mercado de apostas esportivas no segundo semestre desse ano, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.