Este artigo foi originalmente escrito por Carlos Russo, head of Research and Portfolio Management da Transfero Swiss AG
O bitcoin foi criado com uma fórmula matemática que prevê a emissão total de 21 milhões de unidades ao longo da sua existência. Essa mesma fórmula prevê que a cada quatro anos a geração de novos bitcoins caia pela metade. Esse é o evento conhecido como halving, previsto para ocorrer nesta segunda-feira (11/5), e que está sendo tão aguardado pelo mercado.
Nos dois halvings anteriores, em 2012 e 2016, o preço do bitcoin se multiplicou várias vezes em um período de 12 a 18 meses depois do evento. Diante desse dado, alguns questionam se o halving atual já estaria precificado pelo mercado.
Por ser um ativo não-usual no mercado, diversos modelos de precificação foram criados para analisar o preço justo do bitcoin. Um deles é o Stock-to-Flow, também utilizado para projetar o preço de metais preciosos, como o ouro, e outras commodities escassas.
O resultado do modelo se baseia na taxa de crescimento decrescente de bitcoins no mercado, ou seja, na relação entre as reservas existentes do ativo e as quantidades produzidas desse mesmo ativo em um determinado período.
Portanto, se levarmos em consideração que a oferta marginal de bitcoins vai cair e a demanda continuar seguindo uma curva crescente, a tendência é que o preço suba, uma consequência natural da lei da oferta e da procura. Ainda assim, há quem diga que o mercado, estando mais experiente em relação a ciclos passados, já refletiu essa certeza do corte de oferta no preço do ativo.
O que não é totalmente verdade.
Acontece que o bitcoin é bem diferente do mercado de ações. Neste, o preço justo do ativo é calculado de acordo com as expectativas futuras de fluxo de caixa trazidas a valor presente por modelos de valuation tradicionais. Assim, quando o investidor percebe uma perspectiva de queda no fluxo de caixa, ele rapidamente consegue avaliar o preço da ação e saber se está ou não pagando o preço justo por ela.
No entanto, devido às suas características de escassez, o bitcoin se assemelha mais ao mercado de commodities do que o de ações. Precificar uma commodity é muito mais difícil do que uma ação, vide a recente queda abrupta no preço do petróleo, que chegou a ser negociado com valores negativos.
No caso desses ativos, o preço depende totalmente da curva de oferta e de demanda. Por exemplo,se a Opep sinalizar que vai reduzir o preço daqui a um ano, a tendência é que haja uma precificação imediata, mas que só ocorra parcialmente.
O preço só deve realmente convergir para o nível novo de oferta quando o corte efetivamente acontecer. Ou seja, você pode saber da queda na oferta, mas depois do halving, o nível de oferta passa a ser material. Um exemplo banal: você sabe que vai ter escassez de pão francês daqui a um mês.
Essa escassez ainda não existe. Nesse cenário, alguns agentes (donos de padaria) podem especular, subindo o preço do pão para testar a demanda. Mas somente quando a produção de pão efetivamente cair pela metade é que o preço irá subir - mantida a demanda anterior. O mesmo acontece com o halving. Ou seja, é necessário que ele aconteça para que se reflita no preço do bitcoin.
Vale lembrar que o mercado já vinha buscando um nível de preço mais alto antes da crise do coronavírus, com o preço do bitcoin caminhando para US$ 11 mil - no ano passado já se buscava romper a barreira de US$ 13 mil. A alta foi interrompida quando a OMS declarou a Covid-19 como pandemia e dias depois o bitcoin afundou para US$ 3 mil.
No entanto, o ativo logo se recuperou e hoje o bitcoin está sendo negociado na faixa de US$ 10 mil, com valorização em relação ao início do ano. Em conclusão, nosso entendimento é que o halving ainda não foi precificado e, levando em consideração o modelo stock-to-flow, o preço do bitcoin pode alcançar o patamar de US$ 80 mil a US$ 150 mil em um prazo de 12 a 18 meses após o halving.
Óbvio que, nesse período, o bitcoin vai passar por fortes períodos de volatilidade, podendo se estabelecer em qualquer nível de preço nessa faixa. Diante disso, o investidor tem uma janela de oportunidade única
para posicionar parte do seu portfólio em ativos digitais, o que é inclusive a tese de investimentos que a Transfero vem apresentando ao mercado.
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