Avançado a US$ 118,3 mil (+0,7%) e com lateralização semanal nesta quinta-feira (31), o Bitcoin (BTC) se mantinha sob a cobiça das baleias e na esteira do avanço das tesourarias de BTC. Para o investidor veterano Luke Gromen, tal comportamento também reflete preocupações do mercado com o dólar americano, como consequência do endividamento dos Estados Unidos.
O avanço de grandes carteiras de criptomoedas sobre o BTC ganhou destaque em uma postagem feita no X pela Santiment:
Carteiras com 10 a 10 mil Bitcoins acumularam 218.570 $BTC a mais desde o final de março. Esses principais stakeholders detêm coletivamente 68,44% de todo o fornecimento de Bitcoin, adicionando cerca de 0,9% de todas as moedas às suas carteiras durante esse período.
🐳🦈 Wallets with 10 to 10K Bitcoin have accumulated 218,570 more $BTC going back to late March. These key stakeholders collectively hold 68.44% of all of Bitcoin's supply, adding ~0.9% of all coins to their wallets during this timeframe. pic.twitter.com/WAuRO7V8Ow
— Santiment (@santimentfeed) July 31, 2025
Em outra postagem, a plataforma de monitoramento on-chain destacou a manutenção do fluxo de entrada líquida em fundos negociados em bolsa (ETFs) de Bitcoin:
Os fluxos de entrada de ETFs de Bitcoin têm sido ótimos sinais de confirmação da alta contínua dos mercados de criptomoedas. Nos últimos 33 dias de negociação, 29% deles registraram entradas líquidas, totalizando bilhões de dólares.
No YouTube, Gromen correlacionou o avanço de corporações de tesouraria de Bitcoin aos riscos de desvalorização do dólar americano, em decorrência da inflação pela emissão de papel-moeda como forma de o governo dos EUA honrar a quitação de títulos do Tesouro. Isso porque o especialista vê a possibilidade de a maior economia global seguir o caminho da Argentina, pela disparada da inflação.
O ponto de partida de Luke Gromen é o Big Beautiful Bill (“grande e belo projeto", na tradução em português), projeto do presidente Donald Trump aprovado no início de julho pelo Congresso. A proposta de mais de mil páginas direciona recursos para a repressão à imigração e reduz incentivos à produção de energia limpa como forma de compensar parcialmente a perda de arrecadação. Mesmo assim, o Escritório de Orçamento do Congresso estimou que o projeto de Trump deverá acrescentar US$ 3,8 trilhões à divida federal atual, de US$ 36,2 trilhões. A tramitação do projeto ocorreu na esteira do rebaixamento da agência Moody’s às notas de crédito dos Estados Unidos, de Aaa para Aa1.
Na avaliação de Gromen, a possibilidade de o governo dos EUA emitir papel-moeda para pagar os juros da dívida, escalada pelo Big Beautiful Bill, aumenta os riscos de inflação. O que torna a desvalorização do dólar americano a única saída viável para o recuo da dívida soberana da maior economia global, caminho que, segundo ele, já foi percebido pelas tesourarias de Bitcoin.
Nesse caso, eu esperaria que os spreads de crédito permanecessem relativamente baixos, porque, tudo o mais constante, eu preferiria ter um título da Apple ou da Microsoft do que um título do Tesouro dos EUA, avaliou.
Segundo ele, com exceção do ouro, os riscos de crédito estão prestes a explodir, já que o Federal Reserve (Fed) decidiu manter a taxa básica anual de juros, entre 4,25% e 4,50%, na última quarta-feira (30), após decisão majoritária do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), colegiado de política monetária do Fed.
É algo que há muito tempo pedimos e chamamos de Argentina com características americanas, ou EUA com características argentinas, como você quiser expressar. As ações subiram este ano em dólares. Elas caíram em ouro e em Bitcoin. Estamos vendo pressão do governo do presidente sobre o banco central [Fed], porque eles precisam de taxas de juros baixas para conseguirem arcar com a dívida, para conseguirem reduzir as despesas com juros e para reduzir as pressões fiscais, explicou.
A decisão, no entanto, ocorreu sobre forte pressão de Donald Trump, com o republicano defendendo cortes na taxa básica anual. Dois integrantes do Fomc, Christopher Waller e Michelle Bowman, divergiram da maioria a refenderam um corte de 0,25%.
O Chair do Fed, Jerome Powell, apesar de não ceder à pressão de Trump, sinalizou que o Fed pode efetuar um corte em setembro, quando os relatórios de inflação e emprego antecedem a próxima reunião do Fomc. Powell também disse que o objetivo do Fed não é facilitar financiamento de baixo custo ao governo.
Este é um período entre reuniões em que teremos duas leituras de pleno emprego e inflação antes da reunião de setembro. Não tomamos nenhuma decisão sobre setembro. Levaremos em conta essas informações e todos os outros dados ao tomarmos nossa decisão na reunião de setembro, declarou.
Powell ainda comentou o avanço a 3% do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, resultado que superou a expetativa dos analistas. De acordo com o representante da autoridade monetária, o avanço está relacionado à diminuição das importações, por causa do tarifaço de Trump a produtos de outros países.
A moderação no crescimento reflete, em grande parte, uma desaceleração nos gastos do consumidor. Em contrapartida, o investimento empresarial em equipamentos e intangíveis se recuperou em relação ao ritmo do ano passado, completou.
Powell não é o único a não ceder às pressões de Trump. Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, descartou privatizar o Pix por pressão do presidente dos EUA.