O Conselho Nacional de Educação (CNE) avalia uma proposta para incluir a inteligência artificial (IA) na grade de temas obrigatórios em cursos de graduação em Pedagogia e Licenciaturas no Brasil.

Segundo o relator, Celso Niskier, o documento não deve apontar a tecnologia como ameaça e sim uma oportunidade que requer cuidados. No caso, o potencial da tecnologia em diminuir a sobrecarga sobre os docentes, permitir a personalização da aprendizagem e encontrar caminhos para aprendizagem de portadores de deficiência.

Niskier acrescentou que a proposta deve deixar a cargo das instituições de ensino a forma de inserir o tema obrigatório, podendo ser uma disciplina obrigatória ou através de abordagem transversal.

O trabalho vai apresentar recomendações para o uso da IA com pensamento crítico. Cada instituição de ensino terá liberdade para estabelecer seus códigos de ética, explicou.

A IA já é adotada nas redes públicas e privadas de estados como Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo, que anunciou em maio um projeto-piloto que usa um chatbot na correção de 5% das tarefas dos estudantes do 8º ano do ensino fundamental ao 1º ano do ensino médio. 

Segundo a secretaria de Educação, a ferramenta já cobre correções de disciplinas como Português, Matemática e Ciências e já está integrada à plataforma TarefaSP. O que representa um acumulado de 95 milhões de questões resolvidas desde o início do ano, coma IA corrigindo até 5 milhões de respostas dissertativas mensalmente e com feedback imediato.

Brics

A adoção da IA na Educação também foi o foco de um seminário do Brics, realizado em fevereiro pelo Ministério da Educação (MEC) junto a países do grupo. Com o tema “Adoção ética e inclusiva da inteligência artificial na educação básica: compartilhando padrões”, o evento permitiu que os participantes conhecessem mais de perto a forma como cada país do Brics tem lidado com a pauta. Além do Brasil, especialistas da China, da Etiópia, da Indonésia, da Rússia, dos Emirados Árabes Unidos e da África do Sul apresentaram suas experiências. 

Na ocasião, a diretora de Apoio à Gestão Educacional da Secretaria de Educação Básica (SEB) do MEC, Anita Stefani, abriu o encontro informando que o MEC desenvolve estratégias, como cursos e o referencial de saberes digitais docentes, para que a inteligência artificial (IA) favoreça e amplie oportunidades, sem deixar a equidade de lado. 

Entendemos que professores e gestores escolares devem se apropriar do potencial tecnológico da IA de forma crítica e produtiva, e, por isso, o trabalho com adaptação curricular e formação é fundamental, explicou. 

A utilização da IA no âmbito dos processos de ensino e aprendizagem e na gestão escolar foi destacada por Fernando Filgueiras, diretor de Informações Estratégicas e Inovação da Secretaria de Gestão da Informação, Inovação e Avaliação de Políticas Educacionais (Segape) do MEC. Segundo ele, foi interessante entrar em contato com uma diversidade de experiências sobre pesquisa, desenvolvimento e uso de IA.

Todos estão procurando incorporar a inteligência artificial nas escolas de alguma forma, atentos a como professores podem usar a tecnologia como instrumento para aprimorar a educação”, afirmou Filgueiras. 

O assessor especial para Assuntos Internacionais do MEC, Francisco Figueiredo de Souza, destacou que o seminário deu continuidade a debates sobre o uso de ferramentas digitais na educação, conduzidos no âmbito do Brics em anos anteriores. Ademais, ressaltou que o tema da IA foi identificado pela Presidência da República do Brasil como uma prioridade para o Brics como um todo, sendo objeto de discussões também em outros grupos de trabalho além do educacional, como aqueles dedicados às áreas de emprego e ciências. 

O que queremos é que as novas ferramentas corrijam as desigualdades, ao invés de aprofundá-las”, defendeu Souza. 

O Serpro, Empresa Nacional de Inteligência em Governo Digital e Tecnologia da Informação, também lançou recentemente o curso "IA: Aplicações no Governo Federal", disponível na Escola Virtual de Governo (EV.G), da Escola Nacional de Administração Pública (Enap). Trata-se de um curso on-line gratuito para capacitar agentes públicos e cidadãos interessados no uso ético e estratégico da inteligência artificial na gestão pública brasileira, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.