Um documento que começou a circular hoje, 14 de novembro, levanta suspeitas sobre o sistema de arbitragem infinita do Grupo Bitcoin Banco poderia ser usado para lavagem de dinheiro no Brasil. O documento não é assinado e segundo informações exclusivas obtidas pelo Cointelegraph, foi encaminhado a Polícia Federal de São Paulo.

No documento, são apresentadas evidências que levantariam suspeitas sobre "várias práticas criminosas muito bem estruturadas", que seria supstamente usadas pelo Grupo Bitcoin Banco dentro do sistema de negociação das exchanges NegocieCoins e TemBTC.

"A teoria apresentada mostra que a empresa captou recursos de clientes influenciando eles a lucros em um negócio onde ela controlou o mercado financeiro criando volumes e preços fraudulentos através de um sistema parecido com pirâmide, viabilizou uma estrutura para lavagem de dinheiro, e por fim inventou um mecanismo conhecido como “Exit Scam”, onde ela cria um problema que responsabiliza terceiro para desviar a atenção e justificar as perdas", diz a introdução do documento.

Em resumo, o documento de cerca de 19 páginas faz uma análise das atividades do Grupo Bitcoin Banco e do sistema de arbitragem infinita no qual, segundo o arquivo, o Grupo Bitcoin Banco controlava o preço nas exchanges que possuia mantendo sempre o preço menor em uma e maior em outra além de permitir o 'intercambio' de vlaor entre elas criando, de certa forma, um sistema no qual o trader praticamente não tinha como perder.

"Compra-se em um lugar onde o preço é menor e vende-se em outro com preço maior. Assim, mantendo-se sempre dinheiro na corretora cujo preço é menor e Bitcoin onde o preço é maior, é possível ao mesmo tempo converter um valor em Bitcoin em real em uma corretora e ao mesmo tempo um valor em real em Bitcoin na outra. É possível então acumular como lucro a diferença entre ambas em real ou em Bitcoin (...) Através do FortKnox é possível realizar cerca de 25 operações de envio de dinheiro e bitcoins simultaneamente entre corretoras do grupo para qualquer valor. Assim, ao criar a figura do FortKnox e manter o preço de duas corretoras com preços que possibilitam a arbitragem, o grupo gerou um volume gigantesco de transações, escondeu esta movimentação dos sistemas públicos de controle e trouxe aos clientes a falsa ideia de que o volume de transações estaria atrelado à correspondente quantidade real de Bitcoins.", diz a análise.
 

 

O autor do documento alega que este sistem gerou um enorme fluxo de dinheiro para as plataformas do GBB que, em determinado momento, chegou a ser apontada como a principal exchange de criptomoedas do mundo pelo principal agregador de preço e dados sobre o valor do Bitcoin, Coinmarketcap. Contudo, apesar dos números, a exchange não possuia, segundo o autor, nem 1% de todos os Bitcoins que afirmava custodiar.

"Baseado nos dados disponíveis públicos foi feito uma análise técnica no Wallet Explorer para ver o quantitativo real dos fundos da NegocieCoins em BTC. Inacreditavelmente, eles possuíam apenas 2500 BTC segundo estes dados atualizados em 25 de maio de 2019. - https://www.walletexplorer.com/wallet/NegocieCoins.com.br. - ou seja, a NegocieCoins tem um volume de movimentação maior que o da Binance, mas não possui 0.7% das Bitcoins daquela corretora. Entretanto, o fundo que a WalletExplorer reportou é coincidentemente 0.5% de 500 mil BTC (volume de movimentação reportado diariamente por ambas as corretoras), ou seja, 2500 Bitcoins", relata.

Todo este sistema de negociação manipulada, segundo o autor do artigo, seria usado, possivelmente, para lavagem de dinheiro e outras práticas criminosas.

"O grupo Bitcoin Banco permite que o maker use sua estrutura, lhe cobra uma taxa, lhe permite girar o dinheiro dentro do sistema entre corretoras (mesmo as de seu grupo são empresas diferentes) e sair dali com um dinheiro maior do que ele investiu. Entretanto, como o saque em dinheiro é contingenciado dentro da empresa esse lucro exorbitante não será retirado. Mas as notas fiscais sim. O grupo fica com aproximadamente 1% do valor total regularizado (taxas de serviço de corretagem). Elas são exponencialmente maiores do que o capital inicial. Para um fraudador é como se ele tivesse ganhado muito dinheiro, mas na verdade, o grupo Bitcoin Banco simplesmente permitiu que o cliente girasse o mesmo bitcoin centenas de vezes neste sistema. De posse das notas fiscais de venda de Bitcoins na NegocieCoins o fraudador pode inclusive usar o sistema bancário para fazer remessas ao exterior acobertando dinheiro sem procedência que possui fora da corretora", alega o documento.

 

Ainda segundo o documento para finalizar o possível 'golpe' após realizar todas estas operações seria a hora de 'fechar' o sistema, o que o autor chama de 'exit scam'.

"Após desenhar a estrutura de operações ilícitas possíveis de serem realizadas na estrutura corporativa do Bitcoin Banco, voltemos aos esquemas Ponzi e Exit Scam. Ambos são esquemas bem comum no mercado de cripto ativos. Os esquemas Ponzi e Exit Scam oferecem aos investidores grandes juros num curto período, e o sistema pode funcionar apenas a curto prazo, tudo dependendo da quantidade de novos investidores que integrem o negócio. Até que ele se torna insustentável e quebra. Exatamente o cenário atual (...) Portanto, após adquirir confiança, o inesperado possível golpe (...) Forjaram o preço dos bitcoins, forjaram o volume de transações, atraíram clientes para a plataforma, permitiram que fizessem saques e depósitos e quando tiveram a confiança, engoliram todos alegando que foram raqueados com saques duplicados", disse o autor do documento.

O autor ainda conclui:

"Portanto, é possível que o grupo tenha permitido uma possível falha de segurança para forjar um raqueamento. O capital da NegocieCoins declarado é de 500.000,00 reais e do Bitcoin Banco 10.000.000,00 reais. Em caso de declararem falência, isso dividido entre os 100 mil clientes daria 100 reais para cada. Um golpe aparentemente perfeito e muito bem estruturado. Um golpe que além de ter lesado milhares de pessoas pode ter lavado quantidades absurdas de dinheiro do país".

Procurado, até o momento, o Grupo Bitcoin Banco não se manifestou sobre o documento.

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Como noticiou o Cointelegraph, em sua primeira manifestação no Processo 0015989-91.2019.8.16.0185, aberto pelo Grupo Bitcoin Banco e que pede recuperação judicial de diversas empresa ligadas ao controlador do GBB, Cláudio Oliveira, a Justiça do Paraná, pediu uma série de explicações referentes aos documentos apresentados, conforme decisão publicada em 06 de novembro. A justiça também revelou a possível existência de uma filial da NegocieCoin na Colômbia.

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