Líder do mercado de stablecoins atreladas ao real em valor transacionado, em 2025 a Transfero planeja expandir suas operações no mercado global de criptomoedas, infraestrutura baseada em blockchain e soluções de pagamento, afirmou Juliana Felippe, Diretora de Receita da empresa, em entrevista exclusiva ao Cointelegraph Brasil.
A expansão no mercado internacional faz parte do processo de transição da Transfero ao longo de seus dez anos de existência. Fundada com o propósito de atender a pessoas físicas com o BRZ, uma stablecoin atrelada ao real, a empresa acelerou seu crescimento ao voltar seu foco para soluções B2B, oferecendo soluções que atendem a diversas necessidades do mercado.
Gradualmente, a Transfero deixou de ser uma empresa focada em um público-alvo criptonativo para incorporar clientes e empresas que operam em ambientes híbridos, fazendo a ponte entre o sistema financeiro tradicional e os ativos digitais.
Casos de Uso
O serviço de rampa de conversão de moedas fiduciárias em stablecoins e vice-versa para viabilizar o acesso de pessoas físicas e jurídicas ao mercado de negociação de ativos digitais foi se diversificando à medida que a Transfero crescia para atender as diferentes demandas de empresas que operam no setor.
Hoje, as soluções de pagamento oferecidas pela Transfero facilitam a realização de transações internacionais com custos menores do que por sistemas tradicionais, permitindo que empresas movimentem dinheiro entre fronteiras de forma rápida, eficiente e regulada.
A Transfero desenvolve soluções de checkout que viabilizam pagamentos com stablecoins sem a necessidade de conversões manuais por parte de consumidores e lojistas, proporcionando uma experiência fluida para as duas pontas da cadeia. Ainda nesse segmento, a empresa planeja disponibilizar serviços de pagamentos com stablecoins via cartões de crédito.
Além disso, a Transfero auxilia empresas a integrar sistemas financeiros tradicionais com o ecossistema de ativos digitais, fornecendo uma infraestrutura robusta para clientes que operam em ambientes híbridos.
Por meio desta cesta de produtos e serviços, até outubro, a empresa já havia transacionado R$ 8,5 bilhões (US$ 1,5 bilhão) em BRZ, segundo Juliana.
O montante representa um crescimento de 50% em relação a 2023, mesmo dois meses antes do ano chegar ao fim. Dados do relatório de agosto da Receita Federal, revelam que, em média, foram reportados R$ 743,3 milhões em transações envolvendo o BRZ entre janeiro e agosto de 2024.
Rodada de financiamento e expansão global
Atualmente, a Transfero mantém operações em cinco países em total conformidade com os reguladores locais e está em processo de licenciamento em outros 15. Além do BRZ, a empresa emite e gerencia o ARZ, atrelado ao peso argentino. Uma terceira stablecoin deverá ser anunciada em breve pela empresa, afirmou Juliana, sem revelar a qual moeda fiduciária a moeda estará atrelada.
Para expandir os negócios em nível global, a empresa está estruturando sua primeira rodada de financiamento.
Mais do que apenas investimento financeiro, a empresa está em busca de parceiros alinhados com seus princípios de inovação e conformidade regulatória e que também sejam capazes de abrir novos mercados e novas frentes de negócios no exterior, revelou Juliana:
“Estamos buscando empresas que consigam abrir novos ecossistemas e casos de uso reais. A ideia é que essa rodada de financiamento permita que a empresa ganhe celeridade em seu processo de expansão global.”
A liquidez e o suporte jurídico são fundamentais para abrir operações em novas jurisdições em um setor da indústria em que o custo regulatório é elevado, afirmou a executiva. Os investidores e o valor levantado pela empresa deverão ser anunciados em 2025.
O futuro do mercado de stablecoins com o Drex
As lacunas quanto ao desenvolvimento e à implementação do Drex, a moeda digital do banco central brasileiro (CBDC), são vistas como uma oportunidade pela Transfero.
Embora alguns potenciais casos de uso do Drex estejam em fase de testes, Juliana acredita que os players relevantes do mercado de stablecoins serão definidos por princípios de livre competição e Open Finance.
As empresas e instituições que oferecerem os melhores produtos, serviços e benefícios aos usuários finais terão maior vantagem competitiva:
“Quem oferecer a melhor opção para o usuário final, com uma abordagem financeira unificada e eficiente, será o vencedor. É a mesma lógica do open finance para empréstimos e para serviços financeiros gerais, como conta bancária, incentivos e cashback. Com as stablecoins será a mesma coisa.”
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Nesse caso, uma startup criptonativa, com um modelo de gestão ágil e produtos testados pelo mercado, pode sair na frente de grandes bancos e instituições financeiras, afirma Juliana:
“Nossos clientes movimentam dinheiro. Ninguém trabalha diretamente com a stablecoin em si, ela é apenas um instrumento que adiciona eficiência financeira, segurança e previsibilidade às operações.”
“Nesse cenário novo que será introduzido com o Drex, eu acho que o mais importante será trabalhar com pessoas inovadoras, em conformidade com a regulação, capazes de criar soluções para os usuários e para a sociedade como um todo", afirmou Juliana.
“No final, não vai importar se a infraestrutura tecnológica é baseada em blockchain ou não, mas sim que o serviço seja perfeito – em tempo real, seguro e confiável", concluiu.
A regulação das stablecoins no Brasil estará em pauta no Congresso Nacional em 2025. Conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil, o deputado Áureo Ribeiro (SD-RJ), autor do PL que deu origem ao Marco Legal das Criptomoedas, protocolou um novo projeto de lei na Câmara dos Deputados, agora com foco nos ativos digitais lastreados por moedas fiduciárias.
O PL 4.308/2024 propõe que apenas instituições autorizadas pelo Banco Central possam emitir stablecoins lastreadas em moedas estrangeiras. Além disso, as empresas emissoras terão a obrigação de proteger os interesses dos usuários e garantir a transparência sobre as reservas das stablecoins por meio de auditorias públicas.