O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, reafirmou sua convicção na tokenização do sistema financeiro e projetou um futuro em que a monetização dos dados poderá gerar rendimentos, assim como o dinheiro.
Em sua última manifestação oficial no comando da autoridade monetária, na sexta-feira, 20 de dezembro, Campos Neto afirmou que mais do que apenas uma moeda digital de banco central (CBDC), o projeto do Drex baseia-se na criação de uma infraestrutura para viabilizar a tokenização integral do sistema financeiro.
“O Drex permite que o banco bloqueie um depósito e emita um token correspondente, resultando na tokenização do balanço dos bancos", afirmou o presidente do BC.
A tokenização de ativos é o processo de transformar um bem, seja ele físico (como imóveis, obras de arte) ou financeiro (como ações), em um ativo digital, utilizando a tecnologia blockchain para garantir a segurança e a transparência das transações.
Para Campos Neto, a tokenização de ativos representa um passo além da digitalização do dinheiro e das operações financeiras:
"Eu acho que o mundo financeiro digitalizado não é o mundo do futuro, é o mundo do presente. Na verdade, o mundo financeiro do futuro é um mundo tokenizado, que é diferente. A tokenização não é uma digitalização com sistema centralizado, é um sistema tokenizado de plataformas onde a gente consegue fazer negócios, onde clientes conseguem interagir entre si."
A tokenização permite o fracionamento de ativos, tornando-os mais acessíveis a um número maior de investidores, aumentando a liquidez, reduzindo os custos com intermediação, além de abrir a possibilidade de criação de novos mercados e produtos financeiros.
Em seu mandato, Campos Neto promoveu a agenda de inovação do BC, transformando a instituição em um modelo internacional em tecnologia de pagamentos e interoperabilidade.
Durante o discurso de despedida, Campos Neto explicou que o Pix foi o pilar dessa transformação ao ampliar a inclusão financeira. O Open Finance foi o passo seguinte, promovendo a portabilidade e a abertura dos dados financeiros.
Caberá ao BC levar adiante o legado de Campos Neto com a implementação do Drex para “internacionalizar essas vantagens e essas velocidades de pagamento" com novos produtos e soluções. E, por fim, “o último bloco é pegar e tokenizar tudo isso, ou seja, passar do mundo digital centralizado para o mundo tokenizado”, disse Campos Neto.
Próximas tendências de inovação: IA e monetização de dados
Campos Neto acredita que a agenda de inovação do BC deverá incorporar dois novos segmentos no futuro, um focado em inteligência artificial(IA) e outro em dados.
A IA oferecerá experiências personalizadas para “melhorar a vida das pessoas” e reforçará os procedimentos de segurança dos sistemas bancários, segundo o presidente do BC.
Os dados, por sua vez, poderão se converter em ativos tokenizados, gerando rendimentos para os cidadãos:
“No final das contas, a gente poderia tokenizar esses dados e trocar esses dados por recursos, como se a poupança das pessoas ao longo da vida fosse feita não apenas com dinheiro, mas também com os dados que ela produz.”
Campos Neto assumiu o Banco Central em 2019, no início do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Durante o seu mandato, entrou em vigor a lei de autonomia do BC.
Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária do BC, assume o cargo em 1º de janeiro. Seu nome foi aprovado para suceder Campos Neto na presidência do BC em votação no Senado realizada em outubro, com 66 votos a favor e cinco contra.
O Piloto Drex está na segunda fase de testes, na qual os casos de uso aprovados pelo BC estão sendo testados pelos consórcios participantes.