O Brasil ocupa a 9ª posição no ranking global de desenvolvedores de criptomoedas, blockchain e Web3, de acordo com um relatório publicado pela Electric Capital, um fundo de capital de risco focado em empresas do setor em estágio inicial de desenvolvimento.
De acordo com o “Crypto Developer Report 2024”, 2,5% do total de desenvolvedores do ecossistema cripto estão baseados no Brasil. Além de posicionar o Brasil como líder em desenvolvedores na América Latina, o relatório revela que o mercado brasileiro cresceu 1% em relação a 2023.
Os Estados Unidos são o líder global, com 19%, apesar da tendência de queda contínua desde 2015, quando os dados começaram a ser contabilizados. Em contraste, a Índia mantém uma ascensão constante e está consolidada na segunda posição, com 12%.
Reino Unido, China, Canadá, Alemanha e França vêm a seguir, com uma média de 4%.
Os números do relatório da Electric Capital confirmam o Brasil como um dos principais polos globais de desenvolvedores de criptomoedas.
Dashboard do Developer Report (captura de tela). Fonte: Electric Capital
Apesar disso, há espaço para que o país assuma um protagonismo ainda maior nos próximos anos, segundo Daniel Cukier, fundador da WEB3DEV e core developer do Jamixir.
Em entrevista ao Cointelegraph Brasil, Daniel afirmou que “2,5% ainda é um número relativamente baixo, mas eu vejo isso como uma oportunidade porque há uma clara tendência de crescimento.”
Embora essa tendência seja evidente sob uma perspectiva temporal mais ampla, Daniel relativiza o crescimento do número de desenvolvedores no mercado brasileiro de 2023 para 2024 constatado pelo relatório.
Segundo ele, o aumento na participação de mercado de outros países este ano se deve principalmente à diminuição da participação global dos EUA:
“A quantidade total de desenvolvedores de criptomoedas no mundo todo caiu de 2023 para 2024, especialmente nos EUA, então os números não indicam necessariamente que a quantidade de desenvolvedores brasileiros aumentou este ano.”
Os números também revelam que a alta do mercado em 2023 e 2024 ainda não teve um reflexo na demanda por profissionais do setor.
Daniel explica que o mercado de trabalho na Web3 é sazonal, assim como os ciclos de preço. No entanto, a correlação não é imediata. O mercado de trabalho para os desenvolvedores costuma refletir com atraso a alta no preço dos criptoativos.
“Os dois anos de baixa serviram para construir, e essas construções agora vão gerar novas demandas. Por enquanto, a maioria das blockchains está ociosa, ou seja, têm muito mais capacidade do que fluxo de demanda.”
Assim, é provável que em 2025 surjam novas oportunidades para os profissionais do setor. “Eu acredito que 2025 vai ser um ano de boom no mercado de desenvolvedores de Web3, assim como 2021 e 2022 foram no ciclo anterior", afirma Daniel. “Nesse novo ciclo de alta, essa demanda ainda não veio.”
Daniel cita os avanços no Drex, a moeda digital do Banco Central do Brasil, e a integração das finanças tradicionais com o ecossistema de criptomoedas e DeFi (finanças descentralizadas) por meio da tokenização como fortes catalisadores para o crescimento do mercado brasileiro. Inclusive, com possíveis aumentos nos salários de desenvolvedores especializados.
Ecossistemas em alta no Brasil
O relatório da Electric Capital revela que os ecossistemas de Ethereum (ETH), Solana (SOL) e Polkadot (DOT), nessa ordem, concentram a maior parte das atividades dos desenvolvedores brasileiros.
Apesar da liderança da Ethereum no mercado de contratos inteligentes e do espaço conquistado pela Solana em 2024, Daniel considera que a Polkadot pode oferecer as soluções mais robustas para o Drex.
O Jam, próxima atualização da Polkadot, é capaz de solucionar os problemas de escalabilidade, segurança e privacidade que o Drex vem enfrentando, permitindo a integração do sistema financeiro brasileiro ao ecossistema mais amplo de criptomoedas.
Daniel explica que o Jam permite a implementação de subredes flexíveis e customizáveis na Polkadot, sem comprometimento da segurança, total interoperabilidade, eficiência e baixo custo operacional.
Segundo o desenvolvedor, a nova atualização da Polkadot soluciona as limitações de redes EVM, como alto custo de taxas de transação, tempo de bloco, fragmentação de liquidez e restrições de interoperabilidade.
Em relação à Solana, o Jam viabiliza volumes de transação e ocorrências similares, sem abrir mão da segurança e da resiliência operacional. “Dificilmente o Brasil e o Banco Central vão confiar o seu sistema financeiro à Solana, que é altamente centralizada e tem um histórico de interrupções", afirma Daniel.
A plataforma do Drex é construída sobre a Hyperledger Besu, da Linux Foundation, uma blockchain empresarial de código aberto baseada na Ethereum.
Conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil, Ethereum e Solana concentram a maior parte da comunidade de desenvolvedores de criptomoedas.
Embora a Ethereum se mantenha como a líder global na atividade dos desenvolvedores, o ecossistema da Solana atraiu a maior quantidade de novos desenvolvedores em 2024 pela primeira vez desde 2016, segundo o relatório da Electric Capital.