Embora os bancos tenha adotado uma postura combativa com a industria de criptomoedas em seu começo, o desenrolar dos anos trouxe a união entre bancos e criptoativos na medida em que o ecossistema de contratos inteligentes demostrou o potencial da economia digital.

No intuito de diversificar sua oferta de produtos e serviços, gerando mais renda e opções para os clientes, bancos têm identificado criptoativos como uma promissora alternativa e como parte integrande do sistema financeiro do futuro próximo (muito próximo no caso do Brasil com o Real Digital programado para ser lançado no ano que vem).

A Capco, consultoria de gestão e tecnologia financeira que integra o Grupo Wipro, detalhou o panorama da incorporação de criptoativos por instituições financeiras tradicionais em seu estudo “Desmistificando a Adoção da Implementação de Cripto e de Ativos Digitais e os Riscos para os Bancos” e mostrou que os bancos tem potencial para liderar o setor e, eventualmente, tomar o lugar ocupado atualmente pelas exchanges de criptomoedas.

A análise indica que bancos convencionais tendem a encarar iniciativas ligadas a criptoativos como um projeto de transformação clássico, onde calculam retornos e benefícios. Contudo, o segmento é ainda novo e volátil, exigindo uma coordenação intensa entre áreas diversas, especialmente negócios e tecnologia, na definição de casos de uso viáveis.

Criptoativos têm atraído um número crescente de investidores recentemente, porém passaram por crises que aumentaram a cautela tanto para usuários quanto para desenvolvedores desses produtos. O bear market, iniciado no final de 2021, junto a outros incidentes financeiros, reforçou a necessidade de impulsionar melhorias em processos e estabilidade financeira no mercado de criptomoedas

Diante disso, Alexandre Bueno, gerente sênior da Capco e líder do Capco Digital Lab São Paulo, acredita que bancos regulados têm uma grande oportunidade de liderar e aproveitar suas cadeias de valor, escala, atividades regulamentadas e status de confiabilidade para conquistar espaço neste mercado.

“Olhando à frente, vislumbramos uma clara oportunidade para os bancos regulados assumirem a propriedade e a liderança neste espaço, alavancando suas cadeias de valor, escala, atividades regulamentadas, status de confiáveis e governança forte”, acredita

Para tal, Bueno ressalta que bancos convencionais precisarão aprimorar seus portfólios de criptoativos com uma gestão de riscos sólida e serviços personalizados para atender às necessidades dos clientes, mantendo o foco em seu plano estratégico.

Segundo ele, o ecossistema fintech B2B é a principal via para facilitar as aspirações do setor bancário de capitalizar as oportunidades de criptomoedas e ativos digitais. Neste contexto, bancos devem estar cientes de novas regulações, como a Lei 14.478/22 que pode aumentar a competição no segmento.

Trocar a Binance pelo Nubank

No entanto, segundo o estudo, embora os bancos tenham a chance de liderar o setor de criptomoedas ele precisam enfrentar desafios se quiserem explorar este potencial. Deste modo o estudo lista os principais desafios para os bancos para implantação de ativos digitais e os caminhos para superá-los  
 
1) Roadmap para projetos de novos negócios 
De acordo com o estudo, é importante que a implantação de projetos de ativos digitais seja feita dentro de uma complexidade multifacetada com uma estratégia de roteiro que possa ser aplicada em casos de usos viáveis.

"O motivo é que essa ainda é uma indústria relativamente imatura e em constante mudança, que pode não trazer resultados imediatos e óbvios para as instituições financeiras"

O estudo aponta que após a quebra da FTX, a preocupação de garantir a confiança dos usuários passou a ser primordial, juntamente com investimento em governança e transparência nas atividades. Em projetos do tipo na Suíça e Liechtenstein, por exemplo, bancos regionais foram ativos nas fases iniciais de implantação de criptoativos nos últimos dois anos, com uma aceleração acentuada no final de 2021 e início 2022.

"Nesta fase, as instituições oferecem produtos e serviços com exposições e pontos de entrada limitados, como criptoativos regulamentadas, dentre eles fundos como ETPs e contratos futuros e de opções. Essa abordagem ajuda a promover a tração interna e do cliente, permitindo que o banco construa experiência e um histórico com essas novas ofertas", destaca.

2) Tecnologia de plataforma de ativos e boa infraestrutura  

A Capco também aponta que cerca de 10 exchanges centralizadas (CEXs) dominam o mercado de criptomoedas. Essas plataformas exigem que os usuários depositem criptomoedas em uma conta para poderem negociar os ativos e oferecem meios aos clientes para converter seus ativos digitais em moeda fiduciária.

Também fornecem negociação, custódia e facilidades para outros ativos digitais como stablecoins e NFTs, mas ainda existem CEXs que operam sem supervisão regulatória e a maioria é estabelecida em jurisdições que impõem regulamentações mínimas, abrindo outro nicho importante para os bancos que tem uma tradição de 'maior segurança e garantia'.

"A tecnologia de registro distribuído-DLT/blockchain usada para os criptoativos fornece suporte para várias aplicações bancárias em finanças tradicionais e digitais. Os bancos devem avaliar qual delas é mais adequada para seus objetivos estratégicos", destaca.

3) Projeto de Modelo Operacional, Interoperabilidade e Regulação 

Modelos operacionais bancários tradicionais enfrentam processo técnico e deficiências funcionais ao integrarem criptoativos devido a problemas de interoperabilidade com blockchain. Isso porque não são adaptados para executar dados dessas moedas digitais. Por isso, camadas de integração são necessárias, aponta o estudo.

"Além disso, a integração do cliente de cripto é complicada porque os processos e ferramentas de conformidade tradicionais são insuficientes para avaliar e controlar os riscos relacionados. Muitas vezes, são necessárias análises forenses para determinar a propriedade de criptos para rastrear e prevenir transações arriscadas, incluindo lavagem de dinheiro, violação de sanções e financiamento de terrorismo", destacou.

A Capco aponta que a estrutura regulatória está sendo construída aos poucos no mundo e a lei brasileira 14.478/22 é um exemplo, assim como a que a Suíça implementou em 2021 para colocar proteções e promover a inovação em blockchain e criptoativos. 

4) Opções de Custódia Confiáveis e Gerenciamento de Chaves 

A custódia de ativos digitais é única devido às chamadas chaves privadas, tipos de senhas que o dono dos ativos ou os custodiantes usam para acessá-los. Esse ecossistema inclui empresas cripto nativas e fintechs que em geral fornecem tecnologia e soluções de infraestrutura para instituições que desejam fornecer e/ou administrar seus próprios serviços de custódia.

"Assim como acontece com os ativos tradicionais, a custódia de ativos digitais é necessária para garantir que possam ser armazenados e negociados de maneira segura e confiável. Os custodiantes de cripto qualificados geralmente oferecem uma solução inicial que se conecta diretamente a contas de carteira omnibus (coletivas) e/ou segregadas, onde os bens são salvaguardados", finaliza.

Confira o estudo completo:

LEIA MAIS