Muito já se discutiu sobre os potenciais riscos que a computação quântica representa para os algoritmos de criptografia e, consequentemente, para o Bitcoin (BTC) e outras criptomoedas. Ao diminuir exponencialmente a dificuldade de problemas matemáticos com sua capacidade de processar uma quantidade muito superior de dados em tempo real, a computação quântica teria capacidade de quebrar algoritmos como o SHA-256, que garante a inviolabilidade do e a segurança de transações de Bitcoin.

Em resposta a um futuro onde os problemas computacionais difíceis podem ser resolvidos facilmente, pesquisadores do campo da criptografia estão desenvolvendo sistemas capazes de garantir a proteção e a integridade das informações. Segundo uma reportagem da WIRED, cientistas demonstraram que a criptografia quântica estabelece uma nova base para a proteção de dados computacionais.

Um estudo coordenado por Fermi Ma, do Simons Institute for the Theory of Computing, explorou a segurança da criptografia quântica em cenários extremos. Ma e sua equipe consideraram a possibilidade de um oráculo que pudesse resolver instantaneamente qualquer problema computacional com entradas clássicas. 

"Os pressupostos necessários podem ser muito mais fracos", afirmou Ma, indicando que a segurança da criptografia quântica pode ser mantida mesmo sob condições altamente desfavoráveis para a criptografia clássica.

Princípios da Criptografia Quântica

A criptografia quântica utiliza os princípios da mecânica quântica para garantir a segurança das informações. Enquanto a criptografia clássica baseia-se na dificuldade computacional de certos problemas matemáticos, a criptografia quântica baseia-se nas leis fundamentais da física.

Um conceito central na criptografia quântica é o "bit commitment", um protocolo onde uma parte (o remetente) se compromete com um valor (um bit) que será revelado posteriormente.

A segurança desse protocolo é garantida por propriedades quânticas, como a superposição e o entrelaçamento, já que a discriminação de estados quânticos é um problema extremamente difícil, mesmo para computadores quânticos.

Criptografia quântica e criptomoedas

Para o ecossistema das criptomoedas, que depende fortemente de algoritmos criptográficos para garantir a segurança e a integridade das transações, essas descobertas trazem tanto oportunidades quanto desafios.

A criptografia quântica promete revolucionar a segurança das criptomoedas ao oferecer um nível de proteção muito superior ao da criptografia clássica. Utilizando técnicas como a distribuição de chaves quânticas (QKD), as criptomoedas podem se tornar altamente resistentes a ataques cibernéticos, incluindo aqueles realizados por computadores quânticos.. Com isso, as transações envolvendo criptomoedas se tornariam menos suscetíveis a hacks, fraudes e explorações.

A QKD baseia-se em dois princípios fundamentais da mecânica quântica. Em primeiro lugar, no Princípio da Incerteza de Heisenberg, que afirma que é impossível medir simultaneamente e com precisão absoluta certos pares de propriedades físicas de uma partícula quântica (como posição e momento). 

Em termos práticos, isso significa que qualquer tentativa de interceptar ou medir a QKD altera o estado quântico da chave, tornando a interceptação detectável.

Além disso, a QKD baseia-se no entrelaçamento quântico, que determina que o estado de uma partícula está diretamente relacionado ao estado da outra, independentemente da distância entre elas. Isso permite que informações sejam compartilhadas de maneira instantânea e segura entre duas partes.

Atualmente, existem vários protocolos de QKD, sendo o mais conhecido o BB84, desenvolvido por Charles Bennett e Gilles Brassard em 1984.

Riscos e Desafios

Apesar dos avanços da criptografia quântica, a segurança das criptomoedas não estará automaticamente garantida em um futuro dominado por computadores quânticos. Sem uma transição coordenada da indústria para a criptografia quântica, as consequências poderão ser devastadoras para o mercado ao minar a confiança dos usuários.

Mesmo que haja disposição e interesse dos desenvolvedores em atualizar algoritmos, a adoção da criptografia quântica exigirá um esforço significativo de desenvolvimento e coordenação entre diferentes plataformas e aplicações.

Especialmente no caso do Bitcoin, cuja governança é descentralizada, a transição para um sistema de criptografia quântica provavelmente dividiria a comunidade, como ocorreu em 2017 com as "Block Size Wars" (Guerra pelo Tamanho dos Blocos, em tradução livre), que resultou na criação de diversos forks, como o Bitcoin Cash (BCH), o Bitcoin Gold (BTG) e o Bitcoin Satoshi Version (BSV).

A transição também pode enfrentar resistência devido à inércia tecnológica e à relutância em abandonar um sistema testado e aprovado pelo tempo para adotar novos sistemas em fase inicial de desenvolvimento.

O investimento financeiro é outro fator que pode dificultar a adoção da criptografia quântica no espaço das criptomoedas. Os dispositivos e sistemas necessários para suportar a criptografia quântica atualmente têm um custo elevado e possivelmente não estão entre as prioridades dos desenvolvedores. 

Isso pode criar uma barreira à adoção em larga escala, especialmente para projetos menores ou startups que não têm os recursos necessários para investir em tecnologia de ponta. 

Além disso, o custo de manutenção e atualização contínua da infraestrutura quântica pode ser significativo, impactando a acessibilidade e a viabilidade econômica da criptografia quântica a longo prazo.

Apesar das promessas de inovação da computação quântica, o desenvolvimento de aplicações voltadas para o sistema financeiro tem se mostrado um grande desafio, conforme noticiado pelo Cointelegraph Brasil recentemente.