A Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais (Swift, na sigla em inglês), uma organização privada sediada na Bélgica voltada a liquidações de remessas internacionais, anunciou em março que estuda a implantação de uma infraestrutura em blockchain para transação entre os países. Tecnologia que pode não ser a alternativa ideal para todos os casos de remessas, consideradas atualmente caras, lentas e monopolistas. Nesse caso, especialistas também defendem uma versão internacionalizada do Pix, plataforma de transações instantâneas do Banco Central (BC) do Brasil.
Foi o que declarou o coordenador da autoridade monetária e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Rafael Bianchini, em participação esta semana no evento “Navegando pela Agenda de Regulação Financeira 2024/2025”, em São Paulo, conforme noticiou o Valor.
Segundo Bianchini, que deixou claro que o posicionamento dele não necessariamente condiz com a linha do BC, a tecnologia de mensagens do Pix é mais barata que a blockchain e facilmente escalável, além de obedecer ao padrão ISO 20.022, adotado mundialmente, embora ele tenha destacado o uso do “Pix internacional” para pequenas remessas internacionais, no varejo.
Por outro lado, ele ponderou a falta de orçamento do BC para a criação de uma plataforma em escala mundial, o que inclui a dificuldade de integração com outros bancos centrais. Problema que também é enfrentado pelo Swift, que não interoperável com alguns sistemas nacionais, apesar do “monopólio” da empresa, segundo ele.
O professor, no entanto, reconheceu que a blockchain pode ser a solução para transações financeiras no atacado, mais complexas, que, nesse caso, envolveriam acordos entre os países desenvolvedores de moedas digitais de bancos centrais (CBDCs, na sigla em inglês), caso do Drex, o “real digital”, que se encontra em fase de desenvolvimento pelo BC.
Na avaliação do administrador e especialista em criptomoedas Alexandre Bianchi, “é compreensível que Rafael Bianchini, como coordenador do Banco Central, possa ter um conflito de interesse ao avaliar tecnologias financeiras como o blockchain, que representam uma abordagem descentralizada e globalmente acessível, contrastando com sistemas centralizados como o Pix.”
“A natureza descentralizada da blockchain oferece vantagens significativas sobre o Pix, especialmente em termos de segurança, alcance global e flexibilidade na aceitação de diferentes moedas fiat. Enquanto o Pix opera dentro de limites geográficos e regulatórios específicos, a blockchain transcende fronteiras, permitindo transações seguras e eficientes em qualquer parte do mundo e com qualquer tipo de moeda, sem as restrições impostas por sistemas centralizados”, argumentou.
Gabriel Morciani, analista blockchain da plataforma brasileira de aceleração de startups Web3Valley concordou com o representante do BC em relação à praticidade do Pix ao explicar que “é mais simplificado pois estamos falando de transações internas e isso faz com que ele seja mais simples e versátil quando estamos falando de valores mais baixos”. Sobre a blockchain, ele destacou que em “transações de alto valor nós vamos falar em necessidade de segurança e descentralização o que gera ainda mais confiança do usuário no sistema de pagamento ai nesse caso a blockchain é mais eficiente.”
“Quando olhamos para a diferença entre eficácia e eficiência o pix ele é mais eficiente, porque ainda falta muito estudo e implementação de usabilidade na blockchain. Mas isso não significa que um seja melhor que o outro, o tempo é o que vai transformar o uso da blockchain e torná-la mais eficiente também. Por enquanto esse processo é apenas eficaz”, completou.
De olho na arrecadação, a Receita Federal e o BC pretendem usar o usar o Pix e Drex para cobrança de impostos, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.