A "Operação Rei do Crime" deflagrada pela Polícia Federal encontrou um elo entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e um posto de gasolina em Mauá, na Grande São Paulo, que era usado para lavagem de dinheiro da facção criminosa comandada por Willians Herbas Camacho, o Marcola, informou reportagem do jornal O Estado de São Paulo na segunda-feira.
A investigação que é um desdobramento da Operação Lava Jato identificou movimentações atípicas da empresa DVBR Alfa Participações, controladora do posto de gasolina, da ordem de R$ 245 milhões. Movimentações em espécie responderam por 25% desse montante, enquanto o restante das transações teriam sido feitas através de criptomoedas.
De acordo com o delegado Rodrigo Costa, responsável pelo caso, a Operação "Rei do Crime" investigou 78 empresas que ao todo movimentaram R$ 32 bilhões. A partir do relatório final da operação, a Justiça determinou o bloqueio de bens avaliados em R$ 730 milhões.
Criptomoedas e videogame
As investigações descobriram que desde 2018, o PCC e sua rede de associados passaram a se valer de doleiros para fazer opeções com Bitcoin (BTC) para contornar o sistema bancário e a necessidade de utilização de papel moeda para realização dos negócios da facção, conforme explicou Costa ao Estadão:
“Você ainda tem entrega física, em espécie, mas para que vou me arriscar se posso dar um comando no computador e colocar 2 milhões em uma conta na China, sem controle? O bitcoin não tem controle. Posso pegar uma exchange no Brasil, mas posso abrir uma conta através de uma offshore na França, na Inglaterra, na China”.
As novas tecnologias têm sido exploradas também para a comunicação entre os criminosos. Para burlar escutas e interceptações telefônicas ou de aplicativos de mensagem de texto, os integrantes do PCC utilizam os canais de voz de videogames. Os grupos são criados e através deles os interolcutores podem conversar como se estivessem falando ao telefone.
PCC na mira da Lava Jato
Essa não é a primeira vez que os esquemas de lavagem de dinheiro do PCC são desvendados por investigações da Operação Lava Jato. Em 2014, durante a "Operação Oversea", a Polícia Federal encontrou provas da conexão do traficante Suaélio Martins Leda com as empresas Labogem e Piroquímica, ambas relacionadas na Lava Jato.
O traficante foi preso na ocasião, mas, em julho de 2020, recebeu autorização da Justiça para ser transferido para o regime de prisão domiciliar até o fim da pandemia do coronavírus. Aproveitando-se da liberdade temporária, fugiu e agora encontra-se foragido.
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