De olho no potencial de crescimento de suas operações em mercados emergentes, o PayPal pretende transformar o Brasil em um laboratório de inovação, integrando novas tecnologias como Pix, stablecoins e IA para alavancar a reformulação de seu modelo de negócios global.
Nos próximos anos, a empresa quer deixar de ser apenas uma solução de pagamentos para se tornar uma plataforma de comércio digital, revelou Juan Luis Bordes, VP e diretor geral do PayPal para a América Latina, à Bloomberg.
Recentemente, o PayPal obteve uma licença de adquirente junto ao Banco Central (BC), tornando-se apta a atender pequenas e médias empresas. A licença permite que a empresa processe transações de cartões (débito, crédito e pré-pago) e concorra diretamente com líderes locais como Mercado Pago, Cielo e Stone no mercado de PMEs, segmento historicamente negligenciado pelo PayPal no Brasil.
“Isso nos dá uma proposta de valor completamente diferente para o mercado e uma nova fonte de receita", disse Bordes.
O executivo projeta que a operação entre em funcionamento e novos produtos integrados ao Pix e stablecoins sejam lançados até o final do ano.
A empresa também está avaliando a possibilidade de se tornar uma instituição de crédito. Nos Estados Unidos, o PayPal oferece crédito para empreendedores e consumidores finais por meio de empresas parceiras.
Estratégia do PayPal para stablecoins
As stablecoins são um elemento central da agenda de inovação global do PayPal. Com o objetivo de ir além do universo das criptomoedas, a empresa quer expandir o mercado do PayPal USD (PYUSD) por meio de aplicações integradas aos seus serviços de pagamento, afirmou Bordes:
“Fomos a primeira instituição financeira a lançar uma stablecoin. Agora o desafio é entender como ela pode reduzir custos para consumidores e lojistas. Temos planos ambiciosos.”
O PayPal USD foi lançado em 2023 com um modelo de stablecoin as a service, que se mostrou ineficaz pela baixa demanda. A adoção por grandes varejistas, crucial para a escalabilidade do modelo, não ocorreu. Empresas como Amazon e Walmart optaram por desenvolver stablecoins próprias em um momento em que não havia clareza regulatória no setor.
Embora a lei aprovada no Senado dos EUA estabeleça barreiras para a emissão de stablecoins por grandes empresas, o PayPal pretende focar nos usuários finais.
Atualmente, o PayPal USD tem capitalização de mercado de US$ 891,6 milhões – valor modesto comparado às líderes Tether (USDT) e Circle (USDC), que somam US$ 158,6 bilhões e US$ 61,8 bilhões, respectivamente, de acordo com dados da CoinGecko.
A integração da stablecoin com inteligência artificial (IA) em serviços de “agentic commerce”, que automatizam compras e pagamentos via plataformas como o ChatGPT, é uma das estratégias da empresa para ganhar espaço no mercado.
“Queremos que o usuário diga o que quer comprar, e a IA cuide de todo o processo, do preço ao pagamento", explicou Bordes.
As stablecoins são líderes em volume negociado de criptoativos no Brasil e no mundo. Em junho, R$ 9,6 bilhões em USDT foram transacionados no país, conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil.