O Bitcoin (BTC) opera em queda de 8,5% na tarde desta quinta-feira, 5. Negociado a US$ 36.419, valor mais baixo desde 24 de fevereiro, a maior criptomoeda do mercado emite claros sinais de que o fundo do atual ciclo de baixa ainda está por ser buscado.

Mantendo-se nesse patamar até o fechamento do mercado, é possível que o Bitcoin registre seu segundo pior desempenho diário em 2022. Em 21 de janeiro, o preço do BTC acumulou perdas de 10,4% – as piores 24 horas do ano até agora.

Gráfico diário do Bitcoin em 2022. Fonte: Trading View

Nem mesmo a compra de US$ 1,5 bilhão em Bitcoin da Luna Foundation Guard (LFG) anunciada nesta quinta-feira foi capaz de amortecer a queda acentuada de preço do BTC ou do LUNA, token nativo do ecossistema Terra.

Agora, com a nova aquisição de 37.863 BTC, as reservas da LFG somam US$ 3,5 bilhões em Bitcoin, cuja função principal é garantir a estabilidade do TerraUSD (UST), a stablecoin algorítmica do ecossistema Terra, em caso de eventos extremos.

No entanto, a especialista em macroeconomia e maximalista do Bitcoin, Lyn Alden, alertou em comentários publicado no Twitter que uma eventual necessidade de utilização da reserva de Bitcoins da LFG para sustentar a paridade do UST ao dólar pode desencadear uma liquidação generalizada do mercado.

O evento visualizado por Alden teria início a partir de uma eventual desvalorização acentuada do LUNA em função das condições estruturais do mercado em um ciclo de baixa. No caso, ela sugeriu que uma desvalorização de 30%, nas mesmas proporções da que a Fantom (FTM) enfrentou na semana passada, seria suficiente para desencadear um efeito dominó capaz de provocar uma ampla capitulação do mercado.

O comentário veio acompanhado de uma tabela que mostra a diminuição da proporção entre UST e LUNA em circulação ao longo deste ano. Segundo a estrategista, este é um indicador de que há maiores riscos de que haja uma corrida dos investidores para resgatar seus USTs por LUNA, Bitcoin ou mesmo moedas fiduciárias, obrigando a LFG a intervir no mercado para garantir a paridade de sua stablecoin, especialmente se valendo das reservas em BTC

Ao despejar uma grande quantidade de Bitcoin no mercado, a LFG poderia potencializar a pressão vendedora sobre o ativo. Por ser a criptomoeda dominante, o desempenho do Bitcoin quase sempre determina o comportamento mais amplo do mercado. E, nesse caso, poderia levá-lo à capitulação, explicou Alden.

Se o Luna tiver um declínio de preço semelhante ao do Fantom ou ao de algumas dessas outras criptos fortemente abaladas, a paridade do UST estaria em risco.

Se a paridade do UST estiver em risco, o LFG teria que vender suas reservas de Bitcoin em um mercado já enfraquecido. Esse tipo de evento pode resultar em um momento de capitulação do ciclo.

— Lyn Alden (@LynAldenContact)

Fragilidade da stablecoin algorítimica

Por design, a correlação do UST com o dólar é mantida através de um mecanismo que permite que 1 UST seja trocado por US$ 1 em LUNA a qualquer momento. Quando o UST cai abaixo de US$ 1, os traders podem comprá-lo no mercado aberto e depois trocá-lo por US$ 1 em LUNA, lucrando com a operação ao mesmo tempo que ajudam a estabilizar o preço da stablecoin em US$ 1.

De acordo com Alden, tal mecanismo teria baixa resiliência em momentos de stress do mercado, justamente pela falta de ativos colateralizados capazes de sustentar a paridade do UST com o dólar.

Eu vejo muitas pessoas dizendo que LUNA/UST estarão acabados assim que UST MC > LUNA MC.

Este não é o caso.

À medida que o preço do $LUNA cai, a cunhagem/queima torna-se mais sensível às mudanças na demanda do $UST, mas não representa um risco significativo para a paridade.

– Harry (@CryptoHarry_)

Ao contrário de uma stablecoin cripto-colateralizada, não há um limite específico para uma eventual quebra do UST. No entanto, se o LUNA diminui em relação ao UST, a probabilidade de uma corrida bancária algorítmica aumenta.

E depois há a insustentável bomba-relógio Anchor, mas isso é outro assunto.

— Lyn Alden (@LynAldenContact)

Do Kwon e a equipe da LFG reconheceram essa vulnerabilidade e, justamente por isso, decidiram por criar um fundo de reservas em Bitcoin para garantir a estabilidade do ecossistema Terra.

Anchor Protocol

A demanda do mercado por UST também é impulsionada pelo APY (percentual de rendimento anual) de aproximadamente 20% que até pouco tempo era oferecido pelo Anchor Protocol para depósitos realizados com a stablecoin. Desde domingo, o índice do rendimento tornou-se dinâmico numa tentativa de manter a sustentabilidade do protocolo.

Ainda assim, segue alto o suficiente para manter-se atrativo aos investidores, embora seja praticamente unanimidade no mercado que em algum momento ele terá que ser reduzido de forma significativa. Trata-se exatamente da "bomba-relógio" mencionada por Alden em sua postagem.

A estrategista levanta dúvidas sobre o destino do UST, uma vez que o Anchor Protocol reduza os rendimentos oferecidos aos investidores a ponto de ser superado por concorrentes.

A taxa de juros dinâmica do Anchor foi ajustada pela primeira vez hoje. Ela se ajustará a uma taxa estável. Sendo assim, não tenho certeza se é justo chamá-la de bomba-relógio. A TFL garantirá que os fundos não se esgotem antes que essa taxa seja totalmente ajustada.

– indigo (@indigo_loti)

A bomba-relógio não tem a ver com o quão bem administrado será o declínio do rendimento.

É sobre o que acontecerá estruturalmente com a demanda do UST quando o principal impulsionador da demanda (os rendimentos artificialmente altos do Anchor) não existir mais.

— Lyn Alden (@LynAldenContact)

As recém anunciadas stablecoins da Tron (TRX) e do Near Protocol (NEAR), por exemplo, prometem proporcionar aos investidores rendimentos iguais ou maiores do que a stablecoin da Terra tem oferecido até agora, conforme noticiou o Cointelegraph recentemente.

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