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'Pirâmides financeiras envolvendo criptomoedas são características do mercado brasileiro', diz executivo do BTG Pactual

Segundo André Portilho, head de Ativos Digitais do banco de investimento, pirâmides financeiras fazem parte da história do mercado brasileiro e agora as criptomoedas tornaram-se a bola da vez.

'Pirâmides financeiras envolvendo criptomoedas são características do mercado brasileiro', diz executivo do BTG Pactual
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A associação de criptomoedas a esquema de pirâmide financeira é um "problema específico do Brasil", afirmou André Portilho, head de Ativos Digitais do banco BTG Pactual, em uma entrevista à Exame publicada na segunda-feira, 30.

Segundo o executivo, "pirâmides financeiras infelizmente fazem parte da nossa história" e são algo "muito mais característico do mercado brasileiro do que de cripto":

"A gente teve boi gordo, teve avestruz, teve vários ativos “da moda” que são escolhidos para pirâmides financeiras. E isso é bem brasileiro até pela própria “volatilidade” do brasileiro, que adora um bilhete de loteria. E se tiver tecnologia envolvida, melhor ainda. Fora do Brasil acontece muito pouco. O pessoal não cai mais nessa."

Portilho deu a declaração em Davos, onde nos últimos dias esteve acompanhando presencialmente os debates sobre ativos digitais, que ocuparam boa parte da agenda do Fórum Econômico Mundial em sua edição 2022.

O executivo do BTG Pactual entende também que o Brasil ainda está atrasado no que diz respeito aos debates sobre o potencial das criptomoedas e da tecnologia blockchain. O debate das entidades do mercado e das autoridades financeiras do país ainda estão restritos aos criptoativos enquanto modalidade de investimento, ao passo que em outros países a discussão sobre o potencial dos ativos digitais e da tecnologia blockchain já é mais ampla:

"No Brasil você tem muita discussão de exchange boas e ruins, de cripto como investimento e de cripto como infraestrutura. No Fórum foi mais amplo. Você tem muito mais a questão de blockchain em outras indústrias, além da indústria financeira. A parte de cadeia de produção, de sustentabilidade, e, óbvio, a parte financeira também. Mas a discussão no Brasil é mais restrita."

A regulação é encarada por Portilho como algo natural e necessário para o desenvolvimento da indústria no Brasil e no mundo. Nesse sentido, acredita, o Brasil está progredindo e o Projeto de Lei 4401/2021 em tramitação no Congresso tem potencial para acelerar o desenvolvimento de um ecossistema mais amplo de criptomoedas, conferindo vantagens competitivas ao país que podem trazer benefícios não apenas ao setor, mas à economia como um todo.

Entre as deliberações do projeto, o executivo do BTG Pactual destaca o artigo que prevê a isenção de impostos na importação de instrumentos para a mineração feita com energias limpas e renováveis:

"Está tudo indo nessa linha. Esse é um sinal importante, e pouca gente está dando atenção para isso, que poderia ser muito importante para o Brasil, pois poderia atrair boa parte da indústria mundial de criptoativos para o país. Gerando emprego, impostos, e contribuindo para o desenvolvimento do Brasil."

Portilho prevê que até o final do ano o Brasil terá aprovado e entrará em vigor um marco regulatório para as criptomoedas. Apesar dos trâmites ainda dependerem da aprovação do PL na Câmara dos Deputados, da chancela da Casa Civil e do Banco Central, "as coisas estão se encaminhando para uma resolução rápida", disse.

Segundo Portilho, o marco regulatório brasileiro guarda mais semelhança com o que está sendo proposto nos EUA, onde há uma disposição do Congresso para regular os criptoativos sem prejudicar a inovação, do que na União Européia, onde as criptomoedas estão sob ataque não apenas da presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, mas dos próprios legisladores.

Criptomoedas em Davos

O executivo do BTG Pactual destacou que a edição do Fórum Econômico Mundial deste ano abrigou uma "Davos paralela" dedicada exclusivamente aos criptoativos. Fora da programação oficial, diversos agentes da indústria mantiveram encontros paralelos trocando ideias e informações a respeito dos rumos da indústria diante de um cenário global macroeconômico e geopolítico desfavorável:

"Há dois fenômenos que estão acontecendo agora. Primeiro a discussão muito da tecnologia, DeFi, finanças descentralizadas, Web 3.0, que nada mais é que cripto permitindo que a internet seja mais aberta, individualizada e impessoal. E, do outro lado, o que está acontecendo no mercado com um todo: inflação alta, aumento da taxa de juro, e provavelmente um ambiente pior para todas as empresas e fintechs de cripto como um todo, pois o capital vai secar um pouco. Então, de um lado uma discussão muito avançada no âmbito da tecnologia, sobre o que pode acontecer e mudar, e do outro eventualmente sobre a “secada” do capital abundante."

Desde o início de 2022, a capitalização do mercado de criptomoedas perdeu US$ 883,2 bilhões, de acordo com dados do CoinMarketCap, o que representa um encolhimento de aproximadamente 40%.

No entanto, Portilho avalia que tamanha redução deve-se antes à conjuntura macroeconômica e à fuga generalizada dos investidores dos chamados ativos de risco, como o mercado de ações e as próprias criptomoedas, do que a um declínio estrutural da indústria. Assim, a alta correlação entre a ação de preço do Bitcoin (BTC) e o mercado acionário, especialmente com o Índice Nasdaq, tende a ser algo sazonal. E no curto prazo isso não deve mudar, afirmou o executivo:

"Enquanto tiver alta de juros e da inflação, as pessoas meio que saem de tudo. Vendem toda a carteira e compram títulos do Tesouro. Mas não faz tanto sentido assim ativos de blockchain ou outras criptos serem impactadas dessa forma pelas taxas de juros. Acabam sendo, por contaminação. Quando sobe a taxa de juros isso impacta todos os ativos que têm fluxo de caixa, pois você traz a valor presente e cai. Ativos como o ouro não deveriam sofrer esse impacto, mas há uma contaminação. É o caso do Bitcoin. A pergunta é: essa correlação vai se quebrar no futuro? Essa é uma expectativa que o pessoal de cripto tem. Vamos ver o que vai acontecer."

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, na semana passada houve um princípio de quebra da correlação entre os mercados de criptomoedas e de ações dos EUA. No entanto, não foi o tipo de descorrelação esperado pelos investidores de criptomoedas, pois enquanto o Índice Nasdaq fechou o pregão em alta de 3,1% na sexta-feira, 27, o Bitcoin consolidou a nova vela semanal vermelha consecutiva, registrando perdas de 2,7% no período.

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