A EXM Partners, empresa responsável pela Recuperação Judicial do Grupo Bitcoin Banco, quer saber o 'paradeiro' de mais de 7 mil Bitcoins que o GBB teria transferido da wallet apresentada durante a RJ. Os BTC teriam sido transferidos, sem comunicação a empresa que cuida da RJ e as credenciais de acesso a nova wallet não teriam sido informadas a EXM, segundo documento compartilhado com o Cointelegraph em 03 de maio.

O GBB nega qualquer irregularidade e disse que tudo será esclarecido no próximo relatório.

Além disso, a EXM relata problemas de clientes do GBB com relação a saque na nova plataforma do Grupo a Zater, que atua como porta de entrada para todos os usuários no novo sistema do GBB. As dúvidas e questionamentos estão novo Relatório mensal de atividades (RMA), referentes aos meses de dezembro/2019, janeiro, fevereiro e março de 2020, apresentado pela EXM a Juíza de Direito da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Foro Central da Região Metropolitana de Curitiba/PR.

"cabe destacar alguns assuntos relevantes levantados e apresentados no RMA que carecem de esclarecimentos urgentes, e merecem atenção especial deste D. Juízo" destaca o relatório.

Segundo a EXM durante a visita inicial na sede das Recuperandas, em reunião realizada no dia 17 de dezembro de 2019 o GBB apresentou a empresa uma wallet com 7.000,99930646 BTC "disponíveis na wallet do Grupo Bitcoin Banco (conforme ata - sob sigilo), bem como restou definido entre os presentes a apresentação mensal da respectiva movimentação ocorrida no período, com o objetivo de prestação de contas ao Administrador Judicial";

Contudo, sem avisar a EXM o GBB teria feito uma movimentação destes valores, deixando apenas 0,000006 BTC na wallet apresentada durante a RJ.

"Todavia, em consulta pública efetuada pelos representantes da EXM Partners, através do site blockchain.com, foi constatado que as Recuperandas efetuaram a movimentação daqueles BTC para outras chaves, restando somente o saldo de 0,000006 BTC na chave informada inicialmente em 17 de dezembro de 2019, conforme demonstrativo inserido no corpo do RMA".

Desta forma, a EXM passou a questionar o GBB sobre a movimentação e em qual wallet estavam armazenados os recurso, que, sendo a empresa contatou o saldo de BTC (7.000,99930646 BTC) foi movido para outras chaves, nos valores de 5.000,99910936 BTC e 2.000 BTC.

"Entretanto, apesar de diversas indagações efetuadas ao Sr. Cláudio de Oliveira, bem como a todos os administradores do Grupo GBB na oportunidade presentes, não foi obtida a esperada explicação/prestação de contas por esta Administradora Judicial, mas tão somente a solicitação de novo prazo e nova reunião para tanto, por parte das Recuperandas"

A EXM concedeu novo prazo e realizou uma nova reunião com o GBB visando identificar o 'paradeiro' dos Bitcoins transferidos. Neste novo encontro, realizado em 23 de Abril, o GBB apresentou uma carteira que seria a do cliente do Bitcoin, o Bitcoin Core, contudo não foi fornecido pelo GBB as credenciais de acesso, inviabilizando, segundo a EXM, a identificação real da posse do referido endereço.

"(...) na tentativa de desvincular os saldos existentes na carteira original de propriedade do Grupo Bitcoin Banco, diferentemente das demonstrações ocorridas em 17 de dezembro de 2019, foi apresentado pelos representantes das Recuperandas um saldo na tela de um sistema diverso, denominado “Bitcoin Core”, no montante de 7.089,58263542, o qual, segundo a administração das Recuperandas está em poder do Grupo.

Ocorre que, em que pese a insistência desta Administradora Judicial para conseguir acesso ao detalhamento das wallets no sistema “Bitcoin Core”, bem como o histórico da movimentação de criptomoedas - chaves que compõem o referido saldo - tais informações não foram fornecidas, não sendo possível afirmar que as wallets de destino são de fato de titularidade/propriedade do Grupo Bitcoin Banco", destaca a EXM.

Porém a EXM ressalta ainda que o saldo apresentado pelo GBB não 'bate' com o saldo verificado na blockchain.

"Entretanto, ao analisar o saldo apresentado em tela no sistema “Bitcoin Core”, foi possível que os representantes da EXM Partners constatassem que alguns valores não trasmitem a realidade, visto que a wallet que possui o montante de 5.000,99910936 BTC (conforme consulta pública em blockchain) está apresentada no referido sistema com o saldo de 5.000 BTC (omitindo 0,99910936 BTC). No tocante a isto, insta reiterar que, em que pese a insistência desta Administradora Judicial para conseguir acesso ao detalhamento das wallets no sistema “Bitcoin Core”, bem como o histórico da movimentação de criptomoedas - chaves que compõem o referido saldo - tais informações não foram fornecidas"

Diante dos fatos a EXM faz três questionamentos ao GBB, uma delas, referente a transferência dos 2 mil bitcoins que foram 'pulverizados' em cerca de 101 endereços. 

"(1) Por qual motivo ocorreram as movimentações da wallet (originalmente registrada em ata – sob sigilo)?

(2) Quanto ao saldo de 5.000,99910936 BTC, identificado em wallet diversa daquela inicialmente informada - Permanece sob o controle de movimentação e propriedade das recuperandas atualmente? Em caso positivo, é imprescindível que demonstre através de movimentações da moeda respectiva, de forma que seja possível a checagem pública, inclusive por esta Administradora Judicial.

(3) Em relação ao saldo de 2.000 BTC, que foi transferido para outra chave, e, subsequentemente, transportado (de maneira “pulverizada”) para outras 101 wallets (compostas por 100 transferências de 17,99999895 BTC - equivalente à R$ 732.892,02 na cotação do dia 05/02/2020 e, ainda, 1 transferência no montante de 200 BTC - equivalente à R$ 8.143.290 na cotação do dia 05/02/2020) – Permanece sob o controle de movimentação e propriedade das recuperandas atualmente? 

Saques atrasados

Como informou o próprio GBB, o acesso dos clientes ao novo sistema da empresa é feito por meio da Zater, contudo, diversos clientes vêm relatando dificuldades para sacar os recursos custodiados na plataforma. O Cointelegraph recebeu diversos relatos de saques atrasados que também vem sendo compartilhados em um grupo no Telegram.

Embora não exista um prazo para a resolução do problema a EXM destacou sobre o problema.

"Em que pese exista operação comprovada, é válido mencionar que durante a segunda quinzena de abril 2020, esta Administradora Judicial recebeu diversos e-mails (9 reclamações) de clientes das plataformas atuais, noticiando que não estão conseguindo efetuar o resgate (saque) de seus investimentos. Neste sentido, após questionadas, as Recuperandas, por meio da administração do Grupo Bitcoin Banco, informaram que existe indisponibilidade nos resgates de alguns clientes, alegando serem decorrentes da alta demanda de solicitações para saques, em virtude das movimentações recentes deste processo de recuperação judicial, contudo, comprometendo-se a sanar tais pendências após a minuciosa análise que está sendo realizada pelo seu setor de Compliance", destacou a EXM.

Ainda segundo a EXM cerca de 22 Bitcoins teriam sido depositados no sistema, contudo, segundo a empresa mais de 11 mil Bitcoins teriam sido negociados no período, embora os dados de entrada e saída, apresentados pela própria EXM não possam fornecer a liquidez para a negociação informada.

"Depósito em Bitcoin: 22,30566 BTC;  Envio de Bitcoin (saída): 13,40443 BTC;  Depósitos de clientes em moeda corrente (Reais): R$ 724.974; Resgate de clientes em moeda corrente (Reais): R$ 237.304;  Volume total negociado (compra e venda de BTC dentro das plataformas): 11.649,4253 BTC"

O Cointelegraph entrou em contato com o Grupo Bitcoin Banco sobre o relatório e o GBB forneceu a seguinte resposta.

"O Grupo Bitcoin Banco apresenta, abaixo, informações complementares de quatro tópicos específicos do RMA - Relatório Mensal de Atividades - relativo ao período de dezembro de 2019 / janeiro, fevereiro e março de 2020, expedido pelo Administrador Judicial – AJ – da EXM Partners.

MOVIMENTAÇÃO DE SALDOS DE BTC - O Grupo Bitcoin Banco informa que realizou o procedimento de transferência do saldo de 7.000,99930646 BTC da chave principal para aproximadamente outras 100 chaves pulverizadas, no sentido de proteger o ativo principal de seus credores de possíveis bloqueios judiciais. A movimentação foi justificada devido ao fato da suspensão temporária da Recuperação Judicial no início de 2020. O setor de compliance do GBB informa que o histórico da movimentação de criptomoedas vão ser esclarecidos e divulgados no próximo relatório do Administrador Judicial. 

OPERAÇÕES DE MÚTUOS - O GBB informa também que operações de mútuos realizadas são procedimentos que  seguem a mesma linha de  preservação de ativos de bloqueios judiciais já apontadas, uma vez que a realidade atual (abril/maio) já é outra do período verificado em relatório, devido ao retorno da maior parte desse valor a conta original, no sentido de atender as necessidades da operação das recuperandas. Este balanço será verificado pelo próprio Administrador Judicial no decorrer das suas atividades e também pela nova perícia a ser agendada.

É válido ressaltar que a administração do Grupo Bitcoin Banco firmou um contrato com uma empresa especializada (BPO INNOVA PR SERVIÇOS CONTÁBEIS) para regularização, conciliação de contas e aplicação de procedimentos de auditoria na contabilidade de todas as empresas do Grupo.

PASSIVO EXTRACONCURSAL - O GBB antecipa a informação sobre um acordo firmado em período posterior a confecção do RMA, relativo ao pagamento de rescisões de contratos de trabalho e honorários de prestadores de serviço, não adimplidas no período de novembro 2019 até março de 2020. O acordo estabelece o pagamento, em prazo combinado entre as partes, e adequado ao fluxo financeiro atual do Grupo. 

MODO OPERACIONAL - O GBB reforça que a situação pontual desses nove clientes citados, no referido relatório, está em análise para verificação de regularidade de acordo com os padrões de compliance do Grupo, antes da liberação dos saques de seus equivalentes investimentos."

Confira o relatório completo da EXM

Relatório RMA

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