O uso de inteligência artificial (IA) generativa pelos médicos no Brasil é de 17% em média entre hospitais públicos e privados segundo a TIC Saúde 2024, lançada na última sexta-feira (11).

De acordo com a 11ª edição do levantamento anual voltado à análise de adoção de tecnologia da informação e comunicação (TIC) em unidades públicas e privadas do país, realizado pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), a adoção de IA pelos médicos no Brasil é de 14% em estabelecimentos de saúde públicos e de 20% nos privados.

Segundo a TIC 2024, o percentual de adoção é maior (20%) por médicos de hospitais com mais de 50 leitos de internação. O levantamento apontou que 69% utilizaram para auxiliar em pesquisas e 54% para auxiliar nos relatórios inseridos nos prontuários. Os resultados também indicaram que cerca de 16% dos enfermeiros utilizaram o recurso, sendo 11% nos estabelecimentos públicos e 26% nos privados.

Em relação aos estabelecimentos de saúde, a TIC Saúde 2024 apontou que 4% utilizam IA, sendo que, entre estes estabelecimentos, os recursos mais comuns foram: a automatização de processos de fluxos de trabalho (67%), a aplicação ou o uso de ferramentas de IA Generativa, como ChatGPT e Bard (63%), e a mineração de texto e a análise de linguagem escrita (49%). 

Entre os estabelecimentos que não adotaram ferramentas de IA, as principais razões são: a falta de necessidade (59%), não ser uma prioridade (61%), e os custos serem muito altos (49%). 

“Tendo em vista o avanço da saúde digital no país, é fundamental que os profissionais de saúde possuam formação específica para o uso adequado das tecnologias digitais, compreendendo seus potenciais e riscos”, alertou em comunicado o gerente do Cetic.br|NIC.br, Alexandre Barbosa.

Avanço da tecnologia

Apesar do avanço da tecnologia nas unidades de saúde, a pesquisa revelou que apenas 23% dos médicos realizaram algum tipo de capacitação e formação na área de informática em saúde nos últimos 12 meses anteriores às entrevistas. A mesma proporção foi observada quanto aos enfermeiros (23%).

Entre os médicos que se capacitaram, os principais assuntos estudados foram: segurança do paciente (95%); ética, segurança e privacidade (85%); análise de dados e informação (84%); qualidade dos dados (82%) e cuidados centrados na pessoa (80%). Já entre os enfermeiros, segurança do paciente (85%), cuidados centrados na pessoa (80%), ética, segurança e privacidade (79%), e análise de dados e informação (75%) figuraram entre os temas mais recorrentes.

De acordo com a pesquisa, 92% dos estabelecimentos de saúde no Brasil possuem algum tipo de sistema eletrônico para o registro de informações dos pacientes. De 2023 para 2024, houve aumento de 5% neste indicador.

Nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), o crescimento foi ainda mais elevado: passou de 89% para 97% na comparação entre os dois anos. Crescimento que se refletiu também na maior disponibilidade de alguns tipos de dados em formato eletrônico. Cerca de 95% das UBS têm informações em formato digital sobre vacinas dos pacientes. Além disso, 96% destas unidades mantêm o histórico do paciente e 76% possuem dados de admissão, transferência e alta neste mesmo formato. 

“A adoção de sistemas eletrônicos em saúde possibilita melhoria na qualidade e na segurança do atendimento ao paciente, com um potencial de reduzir erros médicos, promovendo práticas clínicas mais seguras e facilitando o compartilhamento e monitoramento de dados entre diferentes níveis de atenção”, enfatizou Barbosa. 

O uso de computadores nos estabelecimentos de saúde brasileiros caminha para a universalização (97%), conforme o levantamento. Constatou-se avanço na adoção de notebooks (de 64% para 68%, de 2023 para 2024) e de tablets (de 36% para 39% no mesmo período). Nas UBS, destaca-se o aumento na utilização de tablets, de 44% para 53%, de um ano para outro.

Em 2024, a pesquisa investigou o uso das TIC por enfermeiros e médicos. As entrevistas com estes profissionais são realizadas a cada dois anos, portanto os dados apresentados devem ser comparados com os da edição de 2022. Os resultados indicam crescimento na adoção de tablets pelos enfermeiros em relação a 2022, passando de 9% para 13%, enquanto a utilização de computadores portáteis permaneceu estável (29%). No caso dos médicos, o aumento se deu no uso de computadores portáteis, que foi de 25% para 36% no mesmo período. Já o de tablets passou de 16% para 18%.

Telessaúde

A pesquisa TIC Saúde 2024 revelou que cerca de um terço dos estabelecimentos da área oferecem serviços online aos pacientes, como agendamento de consultas e exames, e visualização de resultados de exames. O resultado se manteve estável em relação a 2023.

No que se refere a serviços de telessaúde, a teleconsultoria (consulta entre profissionais de saúde sobre procedimentos clínicos e ações de saúde) foi a mais disponibilizada nos estabelecimentos de saúde (30%), seguido de teleconsulta (23%) e telediagnóstico (23%).

A teleconsultoria está disponível em 38% dos estabelecimentos públicos e em 23% dos privados; o telemonitoramento em 24% contra 9%, respectivamente; e a teleconsulta em 23% de ambos os estabelecimentos.

Segurança da informação

Em 2024, a pesquisa identificou avanços no uso de ferramentas de segurança da informação por parte dos estabelecimentos de saúde. Os principais aumentos se deram no uso de criptografia dos arquivos e e-mails (passou de 46% para 54%, entre 2023 e 2024), e criptografia da base de dados (de 40% para 46%). Além disso, a utilização de certificado digital subiu de 52% para 57% no mesmo período.

Em 47% dos estabelecimentos, os funcionários receberam treinamento em segurança da informação. No entanto, ainda se verifica uma disparidade importante entre os públicos (34%) e os privados (59%) que oferecem esse tipo de capacitação.

Sobre a adoção de medidas relacionadas à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), o levantamento mostra que tem sido mais prevalente nos estabelecimentos privados do que nos públicos. Em 2024, 57% dos privados e 28% dos públicos fizeram campanhas de conscientização interna sobre a LGPD, medida mais adota pelos estabelecimentos. A implementação de um plano de resposta em caso de incidente de segurança de dados pessoais foi feita por 45% dos estabelecimentos privados e 14% dos públicos. Já a nomeação de um encarregado de dados foi realizada por 43% dos privados e 14% dos públicos.

"Esses resultados demonstram que ainda há um desafio considerável para que os estabelecimentos de saúde se adequem às medidas estabelecidas pela LGPD", concluiu Barbosa.

As entrevistas ocorreram pelo telefone entre fevereiro e agosto de 2024, com 2.057 gestores de estabelecimentos de saúde e 2.021 profissionais de saúde localizados em todo o território nacional e contou com apoio institucional de organismos internacionais – como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) - além do apoio institucional e técnico do Ministério da Saúde, da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), do Conselho Nacional de Secretarias de Saúde (Conass), do Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS) e de especialistas vinculados a importantes universidades. 

Em setembro, um levantamento divulgado pela empresa global de análise estatística e educacional SAS colocou o país na 11ª colocação global em adoção de IA, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.