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Gino MatosGino Matos

DEX podem evitar governos deixando de criar interfaces? Especialistas comentam

Decisão da dYdX para descentralizar influência poderia ser um caminho para escapar da pressão regulatória, mas as regras ainda são opacas

DEX podem evitar governos deixando de criar interfaces? Especialistas comentam
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Antonio Juliano, fundador da exchange dYdX, afirmou que a equipe por trás do projeto não criará uma interface nativa em sua v4. Embora seja um esforço para descentralizar a governança da exchange, esta pode ser uma nova via para tentar evitar a pressão regulatória que cresce sobre as finanças descentralizadas (DeFi). Fontes ouvidas pelo Cointelegraph Brasil avaliam essa possibilidade.

Descentralizando a comunidade

Em sua publicação, feita na terça-feira (23) através do Twitter, Juliano afirma que a equipe de desenvolvimento da dYdX também não terá indexadores e validadores em sua v4. Nos comentários da publicação, o fundador da exchange elabora que o código da aplicação será aberto, e a comunidade poderá criar suas próprias soluções de interação.

Cristopher Andrade, community manager da dYdX no Brasil, esclarece que a decisão está ligada unicamente ao maior propósito da exchange: descentralizar cada vez mais a influência do time de desenvolvedores no ecossistema. A adoção de diferentes interfaces para a exchange descentralizada (DEX) começa já no segundo semestre deste ano, que é quando sua v4 será lançada. 

Embora o objetivo seja descentralizar a aplicação, outra questão que surge é se a medida pode servir como forma de evitar uma pressão regulatória que tem crescido nos últimos meses.

Evitando KYC?

Em 7 de abril, o Tesouro dos Estados Unidos publicou um documento de 42 páginas abordando a regulamentação do ambiente das finanças descentralizadas (DeFi). Dentro das sugestões da autoridade monetária sobre fortalecer as regras em torno dos serviços descentralizados, foi mencionada a obrigatoriedade de KYC, sigla em inglês para o processo de “Conheça seu Cliente”. 

Em um cenário onde o KYC se torne obrigatório nas interfaces de aplicações descentralizadas, equipes com membros identificados, como dYdX, Uniswap e Curve, seriam alvos fáceis de agências governamentais. Mesmo assim, deixar de criar interfaces para facilitar o acesso dos contratos inteligentes tem chances consideráveis de não isentar as equipes por trás das aplicações.

Citando os Estados Unidos como exemplo, Nicole Dyskant, advogada especialista em regulação e compliance para ativos digitais, avalia que ainda existiriam vias para responsabilização jurídica dos desenvolvedores. “Entendo que existe caminho regulatório para se imputar responsabilidades e exigir controles de AML e KYC de DEX”, diz Dyskant.

A advogada ressalta, no entanto, que não há um embasamento legal robusto para enquadrar os desenvolvedores. Portanto, é difícil prever como as agências governamentais investiriam contra as equipes por trás das DEX, caso o fizessem, e com qual intensidade.

Dificuldade para novos usuários?

As interfaces são uma das formas através das quais as DEX auferem renda, pois são cobradas taxas nas negociações utilizando seu front-end. Para as plataformas que já possuem um caixa robusto, porém, esta pode ser uma boa decisão. Em sua publicação, Antonio Juliano alega que a dYdX tem US$ 250 milhões em caixa, e não precisa se preocupar com as taxas que deixarão de ser coletadas pela ausência de uma interface.

O desenvolvedor que se identifica como CarnaK, cofundador do coletivo Cripto Select, afirma que uma grande vantagem para a dYdX e DEX em situação semelhante é a remoção dos custos referentes à manutenção de um servidor. 

Quanto à dificuldade da criação de uma interface, CarnaK avalia que o processo é simples para quem já tem experiência como desenvolvedor de aplicações web. “A parte mais difícil está feita, que são os contratos inteligentes. Se o código estiver bem documentado, um profissional da Web2 resolve.”

O desenvolvedor que se identifica como Juanu acrescenta que usar uma base já construída para criar uma interface na Web3 é uma ótima forma de aprendizado para profissionais que querem adentrar este mercado. Ele salienta, no entanto, que a dificuldade da implementação pode variar de acordo com o contrato inteligente ao qual a interface está vinculada. 

“Em alguns casos, o desenvolvedor precisará ter um conhecimento prévio sobre como contratos inteligentes funcionam. Um exemplo é como as Árvores de Merkle funcionam. O contrato inteligente não sabe sobre os dados, apenas sobre a hash gerada. Esse é um exemplo onde as coisas ocorrem diretamente no front-end, que é a interface, e só o mínimo vai para o contrato inteligente. Nesse caso, o desenvolvedor precisa conhecer o protocolo”, conclui Juanu.

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