Nos dias de hoje, metaverso, NFTs (tokens não fungíveis) e finanças descentralizadas (DeFi) ainda são conceitos tecnológicos em desenvolvimento através de protótipos experimentais, afirmou Amy Webb, uma das futuristas mais conceituadas da atualidade, durante o painel de encerramento da Expert XP, na quinta-feira, 5. 

Todas as manifestações delas que conhecemos hoje, desde ambientes virtuais imersivos, passando por fotos de perfis de macacos ou punks pixelados, assim como plataformas de empréstimos relâmpagos não passam de modas, muito provavelmente passageiras e circunscritas a pequenos nichos, que só vão atingir a maturidade quando tiverem utilidade real para melhorar a vida de um grande número de pessoas no dia a dia.

Fazendo uma analogia com a psicologia dos investidores, Webb disse que quando se trata de tecnologias disruptivas, o foco deve estar no longo prazo, e não nas últimas novidades. A batalha pelo metaverso e o futuro das finanças, neste momento, está se dando no nível das infraestruturas tecnológicas, e não nos produtos em si. Eis a grande promessa da tecnologia blockchain com sua proposta de descentralização.

Webb apontou três tendências emergentes que estão se desenvolvendo em torno de infraestruturas descentralizadas: as finanças descentralizadas, as redes socias descentralizadas (DeSo) e a ciência descentralizada (DeSci). No entanto, como toda tecnologia, a descentralização tem seus prós e contras. Ao mesmo tempo que amplia a liberdade individual e incentiva processos colaborativos, enfraquece instituições que contribuem para manter a organização e a coesão social tal qual as conhecemos hoje.

No caso das redes sociais, ao mesmo tempo que o sistema, em tese, se torna imune à censura, ele também viabiliza a disseminação de fake news, por exemplo. As finanças descentralizadas têm o potencial de promover a inclusão financeira e o acesso ao crédito de forma mais simples para um número maior de pessoas, mas ao tempo torna as relações totalmente impessoais, eliminando o componente humano que, pelo menos nos dias de hoje, ainda é algo fundamental.

"Em um sistema descentralizado, eu não sei como eu poderia obter ajuda para resolver eventuais problemas", disse Web, citando como exemplo o bloqueio de seu cartão de crédito para realização de pagamentos durante sua visita ao Brasil.

Metaverso

Embora já esteja bastante em voga atualmente, Webb aposta que descentralização será a palavra do ano em 2023. Hoje, a plataforma virtual mais popular entre os usuários é o Roblox. Pode-se dizer que se trata de um metaverso, simplesmente porque o termo ganhou grande evidência desde o ano passado, quando o Facebook foi rebatizado como Meta para focar no desenvolvimento do que será o novo estágio da internet.

Segundo Webb, no entanto, o "metaverso ainda não existe" enquanto tecnologia. Trata-se de uma ideia em construção, cujas escolhas de desenvolvedores, programadores e usuários, hoje, se materializarão em um horizonte de aproximadamente 10 anos:

"Este tipo de metaverso [como o Roblox] não é descentralizado, persistente, interoperável, não está baseado em uma blockchain. É um videogame. Vai demorar muito tempo antes que o sistema do metaverso chegue à massa crítica, nós estamos nos primórdios ainda. Precisamos prestar atenção na infraestrutura do metaverso. É isso que está sendo desenvolvido agora e é isso que vai ser a base da próxima etapa de evolução da internet”.

Há mais de um século, inventores tentam criar um carro voador, exemplificou Webb. Enquanto isso, novas formas de transporte mais eficientes e ambientalmente mais sustentáveis estão sendo desenvolvidas, como trens de alta velocidade ou elevadores omni-direcionais, que se movimentam não apenas em eixos verticais, mas também horizontais e até diagonais. Carros voadores? Quem precisa deles, questionou:

"Estamos tentando desenvolver a mesma tecnologia idiota há 100 anos porque não estamos fazendo a pergunta correta: qual o futuro dos carros? Não precisamos de carros, precisamos nos movimentar de forma eficiente."

No caso do metaverso, visões de curto prazo tem focado no desenvolvimento de headsets de realidade virtual para criação de ambientes totalmente digitais e imersivos, quando, segundo Webb, é muito pouco provável que esta tecnologia ganhe tração, pois isola os usuários tanto do espaço físico circundante quanto das outras pessoas.

Webb visualiza um futuro em que a tecnologia se funde com o ambiente no que pode ser chamado de "realidade expandida" (extended reality, em inglês). A integração entre real e virtual se dá através de dispositivos tão familiares quanto os óculos que usamos no dia a dia, porém capazes de processar informações sob a forma de sons, imagens e texto projetando-os no espaço físico.

O conceito é bastante similar ao do amaldiçoado Google Glass, que, talvez, tenha sido lançado precipitadamente, antes que houvesse a infraestrutura necessária para torná-lo verdadeiramente útil e desejável. Segundo Webb, é possível que dentro de dois ou três anos este tipo de dispositivo seja introduzido no mercado.

NFTs

Os NFTs ganharam popularidade e valor como colecionáveis utilizados para ilustrar fotos de perfil de seus detentores em redes sociais. Enquanto toda a atenção está voltada para punks pixelados ou macacos entediados e os valores estratosféricos de milhares de dólares pelos quais eles são negociados, os NFTs têm o potencial de desbloquear novas formas de identidade em ambientes digitais.

De certa forma, isso já acontece quando alguém opta por associar sua personalidade a uma imagem autenticada por um NFT. No futuro, disse Webb, os NFTs terão o potencial de segmentar a identidade dos usuários em ambientes virtuais, de acordo com necessidades específicas.

Por exemplo, em relações de trabalho, o NFT daria acesso às credenciais do usuário relativas às suas atividades e relações profissionais, tanto em termos de imagem quando de informações. Fora do horário comercial, estas credenciais seriam desabilitadas, ao passo que uma "versão balada" poderia ser ativada.

Em última instância, afirmou Webb, citando o potencial de integração entre biologia, inteligência artificial e tecnologia blockchain, será possível registrar o DNA em um NFT. A futurista lembrou, inclusive, que no ano passado, o DNA do geneticista norte-americano George Church foi integralmente registrado em um NFT e levado a leilão.

O criador da Ethereum (ETH) Vitalik Burerin também manifestou recentemente a sua opinião sobre o futuro do metaverso, afirmando que a proposta de Mark Zuckerberg com a Meta está destinada a falhar. Em conformidade com as opiniões de Webb, Buterin disse que "é muito cedo para saber o que as pessoas querem", conforme noticiou o Cointelegraph Brasil na ocasião.

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