O Brasil apresenta um dos mais altos índices de adoção de criptomoedas do mundo e, o governo federal pretende investir US$ 23 bilhões no Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), com a ambição de tornar o país uma potência tecnológica. Contudo, atualmente, a grande maioria da população ainda não tem capacidade de executar tarefas simples como anexar arquivos em mensagens instantâneas e e-mails ou usar comandos de copiar e colar para duplicar ou mover conteúdos ao usar editores de texto.
Um estudo publicado pela Anatel revela que apenas 29,9% da população brasileira dominam habilidades digitais básicas. Além das tarefas descritas acima, enquadram-se nessa categoria copiar ou mover um arquivo ou pasta e transferir arquivos entre diferentes dispositivos digitais, inclusive pela nuvem.
Já as habilidades intermediárias são dominadas por apenas 17,9% da população. Nessa categoria, estão incluídas ações como usar uma fórmula aritmética básica em uma planilha de cálculo, conectar ou instalar novos equipamentos com ou sem fio (como modem, impressora, câmera ou microfone) e criar apresentações eletrônicas com softwares especializados. Por fim, apenas 3,4% da população atinge o nível mais avançado de habilidades digitais, demonstrando capacidade para criar programas de computador ou aplicativos móveis.
A metodologia usada pela Anatel para definir os três níveis de habilidades digitais segue os padrões propostos pela UIT (União Internacional de Telecomunicações) e os dados utilizados são provenientes da pesquisa TIC Domicílios, realizada pelo CETIC.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação) em 2023.
Naturalmente, o alto grau de analfabetismo digital da população brasileira reflete o cenário de desigualdade social do país. Pessoas com menor renda e nível de escolaridade mais baixo têm menos acesso a dispositivos tecnológicos e consequentemente mais dificuldades para utilizá-los.
Habitantes de áreas rurais desenvolvem menos habilidades digitais em comparação com moradores de centros urbanos. O estudo também identificou disparidades regionais. O Sudeste concentra a maior porcentagem de pessoas com habilidades digitais, seguido por Sul, Centro-oeste, Norte e, por último, o Nordeste
Diferenças de raça e gênero também resultam em disparidades. Os homens estão na frente das mulheres nas três categorias de habilidades digitais propostas pela UIT. No quesito raça, o contingente de brancos que possui habilidades digitais é maior do que o de pretos, pardos e indígenas.
Comparando o Brasil com o resto do mundo
No ranking do G20, o Brasil ocupa a 12ª colocação entre 14 países que realizam avaliações baseadas nos parâmetros da UIT, à frente apenas da Turquia e da África do Sul no que diz respeito a habilidades digitais básicas.
Potências econômicas e tecnológicas, os Estados Unidos e a Índia não dispõem de dados sobre a inclusão digital de seus cidadãos e não figuram no estudo.
Em um contexto mais amplo, o país é o 60º colocado no ranking de habilidades digitais básicas; 59º no de habilidades intermediárias (17,4% da população); e avança para a 51ª posição no de habilidades avançadas (3,4%).
Metas da Anatel para alfabetização digital
Elaborado no contexto do Plano Estratégico 2023-2027 de alfabetização digital da Anatel, o estudo expõe o contraste entre os avanços na transformação digital do governo, dos serviços públicos e do sistema financeiro e a capacidade da população de se beneficiar plenamente das inovações tecnológicas.
A principal meta delineada pelo plano é praticamente dobrar o percentual de pessoas acima de 10 anos com habilidades digitais intermediárias, de 17,9% para 30%.
Essa meta está alinhada com o objetivo estratégico da Anatel de fomentar a transformação digital no Brasil e está em conformidade com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, que visam garantir educação inclusiva e de qualidade.
O investimento em alfabetização digital é estratégico para o desenvolvimento econômico e social do país a longo prazo. Além disso, as habilidades digitais são importantes não apenas para obter uma melhor colocação no mercado de trabalho, mas também para o exercício da cidadania em um mundo cada vez mais mediado por inovações tecnológicas.
Para superar os baixos níveis de alfabetização digital da população brasileira, o estudo recomenda o fortalecimento e a criação de novas políticas públicas de inclusão digital (especialmente com foco em grupos vulneráveis). Incentivar a oferta de cursos de formação e qualificação tecnológica. Expandir a infraestrutura de telecomunicações para favorecer a inclusão digital em áreas rurais. E, por fim, estimular a produção de conteúdo digital relevante e acessível para diferentes segmentos da população.
No âmbito da indústria de criptomoedas, a Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABcripto) anunciou nesta semana sua adesão ao Comitê Consultivo de Educação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O Comitê tem como objetivo promover e apoiar projetos educacionais que contribuam para a melhoria dos padrões de educação financeira da população brasileira.